08 junho 2006

Há pormenores (ou detalhes, como diria a sua amiga parisiense; ou pormaiores, como brincaria a sua amiga espanhola – porque seriam as suas amigas tão diferentes umas das outras?) a que não podia fugir.
Era aos pés que não resistia. Não que se tratasse de qualquer fetiche ou fixação. Era uma coisa mais sensual do que sexual. Era um afago aos sentidos mais do que um estímulo. Eram leite morno mais do que champagne.
Gostava deles como das mãos, esguios, leves. Ansiava pelo verão para se sentar numa esplanada e ver passar pés em sandálias que os mostrassem, nada dessas cordas e cortiças, nada de muito composto, gostava de os ver sobressaindo debaixo de uma única tira, fininha, tão fina como o arrepio que lhe causavam, um prazer ameno, perfeito, a serenidade de os poder tocar, segurar pelo calcanhar, olhar como quem olha uma obra de arte, com cuidado, com um imenso respeito pelo que roça a perfeição.
Era a paz que se instalava quando lhes encostava a face, de olhos fechados, sentindo na pele o desenho antes admirado.
Com tão pouco se sentia feliz.

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