Nunca quis engravidar para aplicar o termo de identidade e residência a um gajo, tanto mais que, como dizia a minha avozinha, para quem não quer tenho eu muito e, a porta da rua é serventia da casa.
Eu estava ligada àquele gajo por cada poro da pele, reforçada pela cola dos estímulos neuronais que as nossas conversas despoletavam. O adesivo era tal que deteriorou a minha visão a ponto de os outros gajos serem apenas discos de vinil: bonitos e ultrapassados.
De modo que com a frágil criança aninhada nos meus braços, apenas contemplei um estranho, não obstante ter a cara chapada do pai em ponto pequenino. Sempre que lhe dava de mamar admirava-me de não sentir nenhuma humidade a percorrer-me, nem o aumento da circulação sanguínea, mas antes uma sensação mansa de ser uma vaca pachorrenta a olhar o pasto verde enquanto a ordenhavam. Nem todos os beijinhos e sorrisos vincados, nem as caretas com ruídos incompreensíveis ou as canções de embalar com que impregnava o bébé no banho, ao mudar-lhe a fralda ou quando o deitava no berço me faziam despir a sensação de que não conhecia de lado nenhum aquela pessoa de quem cuidava.
Em estilo pimba, ter um filho dele foi somente assumir-me como camionista do amor.
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Uma por dia tira a azia