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Todos os dias com a mesma força que sentia a tua presença, deixava que o mar me tomasse.
Primeiro apenas um vestígio, um mero salpico que ficava em pequenas esferas presas aos pêlos dos braços, à pele do rosto e nas comissuras dos lábios.
Era então que fechava os olhos e que te saboreava. Língua a passar lentamente pelo lábio superior, recolhendo memórias dos teus sabores.
Mas eram apenas isso: memórias!
Há coisas que vivem em nós com a força da verdade sendo apenas ideias e lembranças.
Sensações que só existem nos nossos interiores imensos.
Sentia a pouco o mar encharcando os pés e eras tu que me agarravas pelos tornozelos e me puxavas para ti, enquanto me ia enterrando mais e mais na areia à medida que tu, em ondas mansas, me lambias nos teus fluxos e refluxos.
Senti-te no sol que me mordia. Como sempre morderas, olhos escondidos e felinos atrás do vidro escuro dos óculos de sol, escondendo o olhar assaltante e desejoso.
Por um instante, num breve relampejo de tempo, senti-te dentro de mim. Calores e aromas do teu poema em fêmea. Relevos e saliências em perfeita união com o meu corpo.
Abrí o peito em som num breve cântico à minha união com a natureza. Uma nota apenas que me fez estremecer no puro gozo de existir.
Só um som curto a prolongar-se no ecoar nas rochas que estavam por trás de mim, misturando-se em sinfonia com o coro quase rotineiro da terra e mar em negociação permanente.
Inspirei num sorvo profundo todo o mar e dei um pequeno passo para me equilibrar.
Depois abri os olhos e regressei ao meu ponto de vigia.
Abri as asas e voei para o alto do mastro onde te observava na praia desde o dia em dera por mim renascido em gaivota...
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Uma por dia tira a azia