28 janeiro 2007

Alma de puta


Porque a camisola era de angorá, fofinha como a sua mão a escalar-me a partir do umbigo, a fincar-se nos seios e a descascar-me os mamilos, deixei correr o marfim, que é como quem diz que facilitei que a sua pele fizesse de edredão da minha, em arriscadas mas quentes manobras de alpinismo.

E não se pode dizer que tenha sido a seco, que antes tínhamos emborcado a falta de expectativas no trabalho, a porcaria do carro que cada vez bebia mais gasolina e até o danado do clube que só dava desgostos e marcava passo no campeonato.

Tenho alma de puta para recolher náufragos nas amarguras da vida e fazer do afundamento dos corpos um bote para não submergir nas ondas dos dias, o que nem é processo original para nos mantermos à tona porque é como o intervalo do pau que enquanto vai e vem, folgam as costas.

De modo que acabada a crisálida da queca, não se ouviram chilreios de passarinhos nem se avistaram estrelas a fulgir com mais intensidade na abóboda celeste e comentei que esvaziado que estava o copo, tínhamos agora todo o porto dos problemas quotidianos para atracarmos, o que não é um final poético e sensual mas apenas a cesta da fruta da época, as castanhas quentes de informação actualizada.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia