Tudo começou a desmoronar à sua volta, por dentro, quando deu pela falta do que mais o agarrava à vida. Os olhos levantavam destroços, as mãos ajudavam como podiam. E ele só queria respirar por mais algum tempo para poder procurar a salvação no meio do caos, ensandecido.
Gritava mas parecia que uivava de dor, pedras enormes afastadas sem esforço pela figura grotesca coberta de pó no meio das ruínas do espaço a que chamara o seu.
Balouçavam no corpo os farrapos da roupa destruída e na cabeça os pedaços de memória de uma vida aparentemente perdida no instante em que o demónio decidiu aparecer, monstruoso, de surpresa, para lhe injectar uma tristeza que o enlouquecia e não sabia o que fazia no meio daquele cenário desolador mas procurava em vão o seu amor por entre as marcas da passagem do mal, força sobre-humana, indiferente aos gritos que ecoavam lá fora, para lá dos restos de paredes que delimitavam a sua busca insana.
Exigia ao coração que não parasse, depois o diabo que o levasse para onde a pudesse encontrar, o malvado que viera para lhe levar tudo quanto precisava para valer a pena bater, no peito que arfava, o músculo que bombeava o sangue pelas feridas que ignorou até que finalmente a encontrou soterrada sob um pedaço de pedra que só um elefante conseguiria mover.
Mas pareceu-lhe vê-la mexer um dedo da mão e agarrou o obstáculo como se de papel se tratasse e invocou toda a força da terra para a concentrar em si.
Rangeu os dentes, alucinado, completamente determinado em salvar as duas vidas em risco naquele lugar infernal.
Ninguém assistiu ao milagre que produziu apenas com a força das mãos.
E só quando se certificou que de facto a salvou, gritando pelas equipas médicas na rua que não tardaram a chegar, se permitiu desfalecer e acabaria por desmaiar, tombando ao lado da sua vida que salvara, com um sorriso no rosto e os dedos estendidos numa carícia que a acordou.
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