31 março 2011

Postalinho de Angola

"Nova Dança em Luanda!
Se a moda pega...
Zé Luís"

Carta ao Viajante (VIII)

Os tolos e os loucos são os optimistas e os fatalistas; excluo os débeis e os poetas, para eles qualquer girassol pode ser trágico, qualquer girassol pode ser tesouro. Os poetas são dragões - já to disse - tu és dragão. Não são tolos, talvez nem loucos ainda. E eu nem sou poeta, sou dos tolos ainda por enlouquecer; continuo a dizer-me desenho desanimado, continuo a dizer as palavras legendas atrapalhadas de mim.
Optimismo ou fatalismo são apenas placebo para o realismo. Nada há de mais violento que o real, nem sequer o pesadelo. Nada há de mais violento que a surdez hermética, estanque, do tempo, do movimento de rotação da terra, de podermos girar sobre nós e continuarmos a bater contra paredes em cada ângulo, em cada desangulo aguçado, em cada ponta fria. Nem os meus pesadelos mais negros, os da besta, do rascunho 666, são surdos; durante a noite nunca gritei mais que duas ou três vezes até que me ouvissem e me devolvessem, estupefactos, pasmados, afinal estiveram muito aquém do terror da realidade e esta é que me fez cessar o grito, como se eu preferisse o buraco negro na parede em vez do quadro escuro.
O que o desenho desanimado tem é medo, um medo que vai falando baixinho, vai avisando que toda a tragédia que habita numa memória pode redesenhar-se, e a memória nunca engole para o seu fundo, o quarto do fundo dos esquecidos, o aviso manso, o sopro ténue do medo. É então que me transformo numa optimista, que me lembro das mil histórias que escreverei se formos ao Cristo-Rei, o medo avisa da tragédia que pode voltar mas trai-se e faz-me lembrar que agora, se a tragédia está para a frente, também a deixei para trás; tudo brilha nos entretantos e as entrelinhas sempre foram muito mais cheias que as linhas; há caminho, é na direcção das garras que se hão-de fechar sobre mim mas se há caminho, se não sinto um dedo no pescoço, eu quero ver o Cristo-Rei e saber doer nas tuas linhas, ver em que traços teus escreveste sobre lâminas, cortar os olhos, isto tudo é voar nas asas e no fogo do dragão.

Procura Nocturna





Procuro-te...


Quero saber de ti quando estou em leito de sono; quero saber-te repousada e feliz à procura de braços de conforto em mim.


Encontro a tua procura, o medo e a insegurança de já não quereres perder aquilo que não sabias fazer-te falta, noutro tempo, noutra vida.


Procuro-te entre os lençóis de cama feita de sonhos, e estás lá... serena e tranquila como só assim me habituei a conhecer-te;


Como só assim desejo viver.

Os acusa-Cristos é que são premiados!


Dois relatórios


1 página

oglaf.com

30 março 2011

Postalinho de Espanha

"Para a tua colecção, São.
A foto foi-me enviada por amigos meus em Espanha, mais propriamente perto de Lepe, uma casa rural muito gira e que tem cenas giras!
Conceptus Nus"


Entretanto, nos comentários:
Libélula Purpurina: "Assim, sim!"
São Rosas: "Há ali um que não dá para cabide."
Libélula Purpurina: "Aquilo com um estimulozinho ia lá..."
shark: "Ai sim? Por exemplo?"
Libélula Purpurina: "Queres que te faça um desenho?"
São Rosas: "Sim! Sim!"

E ela fez o desenho:

A dois tempos


Devagar.
A mão que segue o olhar, suave sobre a pele a deslizar sensações, a despertar emoções tão belas mas adormecidas.
Sem pressa.
À espera que apeteça algo mais ainda, a estudar, e a outra mão a agarrar com mais firmeza, conhecedora, alardeando a certeza de quem conhece o caminho, outros desbravou, a mão que agarrou e agora convoca a outra para a acompanhar numa dança e o ritmo marcado pela confiança na interpretação dos sinais, queres muito, queres mais, e o olhar aquecido pelo reflexo do prazer num rosto de mulher, as unhas cravadas no chão, a mudança da expressão para melhor, ainda mais bonita, o corpo que se agita e os olhares trocados na hora de procurar outro passo por dar na viagem, apreciando a paisagem com o olhar que segue o movimento da boca que fala sem nexo no delírio do sexo que parece ideal, perfeito naquele momento, guardado para sempre no tempo que a memória existir, entrelaçados os corpos que anseiam repetir o que nem pára sequer.
Um homem e uma mulher.
Devagar.
Ou mais depressa, a seguir a um longo beijo.
Tanto faz...
Se nos olhos se espelhar o desejo de que aconteça outra vez.

O gato Félix numa campanha contra a SIDA

Ele tem nove vidas...





Shooting Well #6

São precisos dois para a cumplicidade.

Dias dos 2



Webcedário no Facebook

29 março 2011

T(r)ocar

Eu nasci no mês de Agosto mas só devo ter nascido metade. Desde então tenho sempre muito frio e saudades; estou sempre ansiosa pelo retorno embora saiba que esse mês me vai matar, todos os meses de Agosto me mataram e ficaram a ver-me morrer. Durante esses dias vivo ao contrário do resto do Mundo: o frio nos dedos e a morte instalada como visita exigente, convidada de honra, no quarto de hóspedes dos olhos são muito mais estranhos quando toda a gente ferve e agita a luz. Acabo por nascer atrasada, sempre com um ou dois meses de atraso, em Setembro ou em Outubro, já com saudades e frio e este desejo sempre demasiado intenso por falta de direcção, uma espécie de fome dolorosa que não se sabe de quê e que sempre me comeu quando fiz amor com todos os estranhos a quem abri a porta e o corpo. Continuo a nascer só metade, os dias adicionais de gestação nada acrescentam que eu não tenha de dar em troca, se recebo mais sossego, tiram-me um olhar e, mais tarde, percebo que fiquei cega para determinado ponto do horizonte; nem sempre percebo logo o que recebi e o que dei em troca. Este ano também morri em Agosto mas o parto tem sido incomparavelmente mais lento, ainda não nasci. Dói, sim, o parto dói sempre, mas comigo vai nascendo o sossego e contigo perdi o frio. Em troca? Dei-me.

Momento musical

PSYCHE GRIND 2: THE VULVA UNDERGROUND from Django's Ghost on Vimeo.


01. “Dark Eyed Woman” - Spirit
02. “Sitar Ride” - Madlib
03. “I’m Your Witchdoctor” - Noel Deschamps
04. “Satanic Sessions” - The Rolling Stones
05. “Girl, You’ll Be A Woman Soon” - Neil Diamond
06. “That’s All I Know (Right Now)” - The Neon Boys w/Richard Hell
07. “Easy Lovin’ Girl” - Roy Head
08. “The Ballad Of Bertha Gutz” - Amos Boynton
09. “The Edge Of Nowhere” - The Sunday Group
10. “She Got Me” - Masters Of Reality
11. “Dreambox” - The Frogs
12. “Love’s The Thing” - Smoke Rings
13. “Stop And Listen” - The Shags
14. “Mr. Bulldog” - The Mebusas
15. “The Man With The Golden Arm” - Barry Adamson
16. “Why” - The Wanted and Co.
17. “Marie Douceur, Marie Colere” - Marie Laforet

Sim hoje

Hoje trouxeste a grande angular
Para me apanhares
Naquela expressão
Estúpida e indefesa
De espanto e ódio
Quando girei
Sobre mim mesma
E me esforcei
Por sobreviver
Nasci numa grande angular
Com rictos de horror
Nos lábios
E tumefacções no rosto
Não devias ter trazido
Isso hoje, meu amor...


Poesia de Paula Raposo

«Le Temps Qui Passe» - de Milleanne


A minha compra mais fresquinha para a colecção veio do lado de lá do oceano Atlântico, mais propriamente do Brasil. «O tempo que passa» é um pequeno quadro a óleo sobre tela (20 x 30 cm) da autoria da pintora Milleanne, que expõe e vende os seus quadros na Galeria Baudelaire, em S. Paulo.

A visita do Príncipe



HenriCartoon

28 março 2011

O humor da marafilha do shark

O amor é como a erva. Nasce, cresce e depois aparece uma vaca e estraga tudo.

Reparem nos Húngaros, ali no meio da Europa

Os Portugueses ficaram caladinhos. Vergonha ou excesso de modéstia?

De Nihilo Nihil

De nihilo nihil, "nada vem do nada" como Lucrécio afirmava.
E (também) por apologizar esta citação, não posso rejeitar à partida, pelo menos sem uma crítica mais profunda que me permitisse excluir o próprio conceito, a existência de uma qualquer força cósmica, sobrenatural ou energética que decida por ela própria convergir os caminhos de duas almas, unidas no passado, num único sentido.
Quando observo o teu corpo;
Quando apresto a forma perfeita como ele se encaixa no meu; ou até poética;
Quando por ocasião das tuas carícias, nenhum toque é inútil, mas cada um deles, mordaz no despoletar de emoções físicas e psicológicas;
Nesses momentos, nesses nenhures de uma vida de possibilidades e probabilidades, sinto alguma dificuldade em aceitar que tudo fora deixado ao acaso.
Há quem nomeie a vida de carrossel;
Há quem afirme que a sorte determina o encontro de dois seres humanos.
Será uma qualquer energia de aproximação capaz de proporcionar o (re)encontro de dois amantes que outrora, noutra vida, noutra realidade, já o foram?
Será que o êxtase que sentimos quando tocamos um no outro já fora sentido? Por nós; pelos mesmos indivíduos de invólucros desiguais aos do passado.
Retivemos então a forma como beijamos, tocamos, o que sentimos, o que gostamos, o que nos provoca, o que nos atrai, o que nos faz desejar...
...o que nos faz amar.

Escolham outra modelo para o anúncio de cerveja, por amor de Eros!

27 março 2011

Sai da frente ou ainda te fura um olho!

«Atracção na cidade» - por Rui Felício


Há anos que sou cliente daquela loja de pronto a vestir para homem, na Av. do Uruguai.
Não é que seja barata, mas os fatos são de boa qualidade, a confecção é perfeita e consigo sem dificuldade encontrar o tamanho adequado sem necessidade de serem feitos arranjos, nem nas calças, nem nas mangas.
Já lá conheci várias empregadas. Tanto as que saem como as que as vêm substituir, são sempre de uma extrema simpatia, cordiais, solícitas, eficazes, competentes e, normalmente, muito bonitas. Com corpos esculturais, mulheres jovens mas já maduras e de grande beleza, não se lhes consegue ficar indiferente...
Mesmo que não tencione comprar nada, às vezes passo por lá só para ver se há novas colecções. Porém, de há um mês para cá, tenho-a visitado com maior frequência do que o habitual.
Bem...porquê escondê-lo? Confesso que tenho ido à loja só por causa dela. Está na loja há pouco tempo, é nova, trigueira, salpicada por umas quase imperceptíveis manchas acastanhadas, que fazem lembrar pequenas sardas, e que lhe dão um atractivo especial, inexplicável, de sonho.
É a sensação de uma maciez aveludada, aquilo que sinto, quando, casualmente, os meus dedos lhe tocam, provocando-me um arrepio incontrolável no corpo. Suspiro baixinho, disfarço, as ideias atropelam-se-me em turbilhão e tento controlar o desejo louco de a ter. Evito que se perceba. Se calhar, sem sucesso...
Mas...
Um choque, um aperto no coração, foi o que senti no outro dia.
À porta, ainda não tinha entrado, vejo-a pendurar-se no pescoço de um homem jovem, bem constituído, que lhe sorria, que a afagava. Pelo vidro translúcido da porta, espreitava-os e adivinhava-lhes, com inveja, um ar de grande felicidade!
Nem cheguei a entrar. Dei meia volta e regressei a casa roído de ciúmes, recriminando-me pelo meu feitio inseguro e indeciso.
Pelo caminho tentei desvalorizar o inesperado episódio. Nos tempos modernos essas atitudes são triviais, as mudanças são comuns, as aparências nem sempre traduzem a realidade e, portanto, não devia preocupar-me demasiado.
Ontem decidi-me! Venci aquela estúpida indecisão, aquele marasmo, e resolvi passar pela loja ao fim do dia. Ganharia coragem e diria a verdade! Revelaria aquilo que me trazia o coração apertado. Não perdia nada com isso, monologava eu comigo mesmo... Assim acabaria com o sofrimento que me atormentava e que não tinha razão de ser!
Cheguei lá, procurei-a avidamente com os olhos. Mas não a vi!
Perguntei por ela, ansioso.
A empregada que me atendeu disse-me que aquela bela e cara gravata de seda italiana, de um padrão invulgar, era exemplar único e que a tinham vendido no dia anterior...

Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações

Não-Despoema

E se chegar a manhã que devora os meus sonhos,
que fere e tomba as árvores nos meus caminhos,
meu amor, tu ainda serás o rio da noite
(mesmo que eu não grite, mesmo que eu não grite)
que se lança, em pranto, contra os ácidos que se espalham
no mar de luz angustiante, impiedosa, dos que acordam
apenas para o centro do pesadelos
nos olhos de princesas roubadas dos castelos;

e voltarás a adormecer--me
e a acordar-me
uma e outra e outra vez, voltarás
enquanto o meu pesadelo não for capaz
porque a noite não se dilui
(nunca termina o que não se conclui)
no frio, no medo, no calor que arde numa luz bruta
que fere os dias mais do que a dor, mar
que fere tudo o que não conseguiu levar
e pára e luta;

escuta,
e ao parar do coração, assim,
quando eu morro um bocadinho,
voltarás, tu voltarás
a bater contra o meu corpo
a cada instante do grito
voltarás pelo meu caminho
ao lado de bem dentro de mim
para me puxares até ao lado de fora do tempo.

Encontros imediatos do Chatroulette

crica para visitares a página John & John de d!o

26 março 2011

«One Night Stand»

Meu amor

Cubro-te de beijos, meu amor,
No dia que desperta em mim
Neste desejo imparável
Que acorda em cada manhã,
Me alvoroça, me perturba
Nos braços que não são teus.

Aqueço-me ao longo do teu corpo
À volta do teu peito,
Neste abraço sem fim
Com que te adormeço cada noite,
Zelando os teus sonhos
Nestes meus olhos cansados,

Ser feliz é não olhar o tempo,
Saber que ele não passa por nós,
Saber que te posso amar
Em cada momento da minha vida.
Ser feliz é ser presente,
Nesta ausência física,
Saber que te posso beijar,
Saber que o meu amor és tu.

Ser feliz é ter-te inteiro,
Neste amor louco que te tenho
Enquanto te sentir em mim.

Poesia de Paula Raposo

Shooting Well #5

Numa pausa para tabaco, ainda assim, o obturador dispara.

Puberdade num minuto


One Minute Puberty from bitteschön.tv on Vimeo.

25 março 2011

O Chá

– E ele disse que achava que o frio era esclarecedor, seguiu a conversa sem dizer nada e acabou a proclamar “Viva o sol", como se, realmente, não quisesse esclarecer nada. – A mulher fez uma pausa, repetiu o “viva o sol” num murmúrio a olhar para o céu (o sol estava lá e via-se da janela mas não no sitio para onde ela olhou), e completou: – E eu perguntei-lhe: “O frio é esclarecedor porquê?”
A mulher, que falava enquanto lia um ofício numa folha de papel, calou-se e deixou-se perder na elaboração da resposta, teclando como se a pressão que fazia nas teclas e a rapidez com que digitava as palavras pudesse dar colorido e tom ao texto.
– Vocês estavam onde? – perguntou a outra mulher, depois de desesperar pela continuação da história.
– Num... – A mulher hesitou. – A beber café.
– E ele não respondeu?
– Quem?
– O Saraiva, quem é que havia de ser?!
– Não faço ideia – concluiu a mulher, sem parar de escrever.
– Não fazes ideia?! – Insistiu a falsa loura, de calças de ganga justas e uma cerimoniosa blusa de amplo e vistoso decote, batendo com uma caneta no tampo da mesa onde se empoleirara de perna traçada.
– Ó doutora… – gemeu a escrevinhadora, olhando desesperada para o monitor à sua frente. – O doutor Cristino quer que eu lhe envie esta resposta antes das cinco, para ele a enviar a seguir.
A doutora olhou para o relógio de pulso e encolheu os ombros:
– Acabas a história e eu vou-me logo embora.
A assessora do presidente do Conselho de Administração cerrou as pálpebras com força enquanto suspirava, abriu-as e capitulou com uma careta resignada:
– Aproveito e bebo um chá.
A doutora, vogal executiva do Conselho de Administração mas sem grandes atribuições, sorriu e recomeçou imediatamente a conversa:
– Estavam a tomar café e?
– A tomar café?! – Espantou-se a assessora que se levantara e rodeava a secretária, passando em frente à doutora que mudara igualmente de expressão: olhavam-se as duas com ar surpreendido.
– Tu é que disseste – esclareceu a vogal.
A mulher de pé riu:
– Só se fosse café com leite, ou melhor, com natas, mas sem café. – A assessora tocou na perna da doutora, um toque suave, junto ao joelho e piscou-lhe o olho antes de retirar a mão. – Quer chá?
Sem perceber porquê – sem sequer pensar nisso, na verdade –, a doutora ficou a olhar para o sítio onde a assessora lhe tocara, sentindo uma impressão estranha e longínqua que irradiava um calor ténue para o resto do corpo. Passou as mãos pelo cabelo, num gesto nervoso e excitado que a apanhou desprevenida quando se apercebeu de o ter feito e, de olhos fixos no cadenciado movimento das nádegas da outra mulher, demasiado perfeito para ser espontâneo, acabou por perguntar apenas:
– Chá de quê?

ovos... bom, e depois o galo canta, né?

D'escrever-te

Gosto de te escrever
quando digo que é literatura
tu pensas que é mentira
quando digo que é verdade
tu pensas que a fantasia arde
Percorres todo o poema
cada verso, palavra, rima
sem nunca me conseguires percorrer
lês cada riso, sonho, lágrima
sem nunca me conseguires ler
Eu gosto de te escrever
porque nas linhas, estou segura,
não saberás o tamanho da ternura
(sim, é mesmo verdade
mas eu sou tímida e sou cobarde)
que faz escrever uma mulher

Postalinho da Quinta

A São Patrício está sempre a mandar-me miminhos. Este é dedicado especialmente ao Nelo.


Mas em lado algum se pode estar seguro. Por exemplo, alguém pode ir à «Quinta do Sardanito de Trás»...

24 março 2011

Uma moda com éfe maiúsculo

Uma coisa que me chateia é a falta de opções no guarda-roupa quando o gajo agarrado a mim me leva a sair. Ou a entrar, bem vistas as coisas.
É injusto que eu me veja oprimido por calças de todos os tipos e feitios, uma variedade imensa de peças de roupa, e quando toca a minha vez de poder usar uma roupita é sempre a mesma coisa. Enfia-me numa coisa horrível da cabeça aos pés (isto dos pés é em sentido figurado, claro), com um cheiro a borracha, ignorando o facto de eu ser um nadinha claustrofóbico e pronto. Acha o gajo que assim tá bem, veste-me (plastifica-me) com aquela fatiota e deve julgar que lá por haver daquilo com diversas texturas e sabores já é uma indumentária variada.
E tem a lata de lhe chamar camisa. Camisa? Onde estão as mangas? E os botões? E alguém tem a lata de chamar colarinho ao enrolamento na entrada daquela dedeira? Já nem falo de uma gravata ou assim, que pudesse dar um ar decente à farda que o gajo me impinge naquilo que deviam ser dias de festa...

Eu posso parecer um bocado rezingão, mas é que me falta a respiração enfiado naquilo e não há maneira de conseguir achar-me bonito com tal farpela.
E a porra é que dá ideia que a cena é quase um traje de cerimónia e há passarinhas que quando me apanham despido comportam-se como porteiros de discoteca...

E saem mais duas imagens de porno para toda a família

O forno da padaria da Didas não pára:






Pornos na padaria anteriores.

Blog Farinha Amparo

«Black Magic Massage»

Depois do meu post (arrepiante) sobre a mutilação genital feminina, aqui fica uma homenagem às mulheres de África, às mulheres em geral e ao erotismo.



O Rui Luís mandou este outro video, a propósito e complementar (abre noutra janela):

Decote ergonómico

23 março 2011

As tuas calças de algodão


Deitei-me primeiro naquele longo sofá. De têxtil, azul muito escuro. Largo para dois, comprido para três, suficiente para nós, durante algum tempo. Entraste naquela sala quase sem ruído, num andar muito gracioso, leve, e marcou-me bastante o ondular tão elegante dessas tuas calças de algodão muito fino, cinzentas, de corte muito direito desde a anca até aos pés, que vinham descalços. Lançaste o teu joelho esquerdo à almofada do sofá e depois deixaste-te cair suavemente para o espaço interior, entre mim e as costas, onde te aninhaste. A tua cabeça estava sobre o meu ombro e a tua mão esquerda no meu peito, onde ias brincando com os pêlos, passando os dedos entre eles. Com o meu braço, ora te afagava o cabelo, ora te acariciava o braço, e, maroto, levei os dedos até ao elástico das tuas calças. Naquela altura não sabia, ainda, que não tinhas mais nada. Para além das calças, de um género desportivo, e de uma blusa de alças finas, branca e casual, não existia mais roupa em ti.
Fui transgredindo a fronteira elástica à espera da tua censura. De uma agitação, uma recusa. Talvez me dissesses para parar, talvez te levantasses ou mudasses de posição, assumindo-te sentada e austera ao fundo do sofá, aos meus pés. Parece-te estranho que pensasse assim? Nada estava planeado, nada era certo, nada era garantido. Não te mostraste preocupada. Pelo contrário, enrroscaste-te ainda mais em mim, estreitando os já escassos milímetros. E os meus dedos estavam agora a passear-se na tua anca e então exclamei “Não tens cuecas!”. O teu sorriso foi um misto de malandrice e vergonha. E com isso senti-me encorajado, e levei a mão mais longe, procurei activamente os teus pêlos púbicos. Para brincar com eles. Para te fazer cócegas, para te aquecer.
Rodaste ao dobrar a perna, subindo o teu joelho sobre o meu corpo e procurando o meu pescoço para beijar. A seguir içaste-te para me chegar à orelha, que ora lambias, ora trincavas. Arrepiava-se-me o corpo, contorcia-me numa espécie de sofrimento sem dôr, em espasmos contidos que a humidade da tua língua me causava. Lancei a minha mão direita à tua face, segurando a tua cabeça e olhando-te fixamente. Naquele instante os teus olhos estavam perfeitamente alinhados com os meus, e era deliciosamente bela a tua expressão. Sem desviar o olhar, lançaste a tua mão a mim, agarraste-me. E não me apetece dizer onde. Não é preciso. Tu sabes tão bem. E tens tanto talento nisso.

Shooting Well #4

É tudo uma questão de perspectivas, e de planos. O primeiro, e o segundo. Qual deles é qual?

Balkan erotic

Sinal de igual



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22 março 2011

Postalinho de Berlim (não das Bolas mas da Alemanha)

"Olá Cara São,
Queria dar-vos os parabéns pelo trabalho de tentar desmistificar a sexualidade em Portugal. Já há muito tempo que costumo seguir o vosso blogue.
Mas caso vos interesse, aqui está mais uma direcção para os turistas em Berlim. É normal haver várias lojas com artigos originais (seja em que âmbito for). Uma delas pode interessar às membranas (e a alguns membros) daí, pois pelas fotos parece que tem acessórios para alguns gostos.
As fotos não estao muito boas, foram tiradas de noite. O sítio chama-se Kaufhaus der Berliner (Loja dos Berlinenses), e está na zona de Friedrichshain, como diz o mapa.
Cumprimentos,
João Pais"


Brinquedo de Estranhos, Marioneta de Sonhos - um livro chamado Joana


Já está disponível a encomenda online no site da editora Apenas: Brinquedo de Estranhos, Marioneta de Sonhos. :)))

Vogal

Acentua a vogal
inesperada
do meu corpo
e concede-me
o benefício
de uma dúvida...

Poesia de Paula Raposo

Relógio «Charlot malandro»

Não sei se fizeram de propósito ou não mas comprei este relógio para a minha secção de «objectos que supostamente não foram feitos para serem eróticos».

21 março 2011

Só talvez morrendo novo ou assim...

Como vou conseguir não me transformar num velho baboso se os anos passam e eu cada vez gosto mais delas?

Assim dá gosto ver comer um gelado



Só por curiosidade, a menina chama-se Lyndsy Fonseca, é descendente de portugueses e é actriz.

se me dizes dos amores adormecidos...

porque é o Dia Mundial da Poesia, porque me foi inspirado o tema por um poema (Voz), aí mais abaixo, da Joana Well...

se me dizes dos amores adormecidos
no sombrio desencanto mais furtivo
de paixão destruída pelo crivo
dos olhares tanta vez desiludidos

eu sei mais dos silêncios escondidos
dos que gritam num acaso intempestivo
dos que mordem feitos sangue rubro vivo
num recesso mal amado dos sentidos

mas de olhar o amor sempre de frente
de sorver sempre o ar deliciado
e de si sempre ter um tempo urgente

mais amargo do que o fel mais perturbado
mas sabendo-nos a mel quase fervente
mais tremendo e afinal mais delicado.

Dois Corpos, Uma Casa

Um beijo na testa, um toque suave...
Uma festa nos lábios, proporcionada por um único dedo como quem impede as palavras de viverem, deixando apenas lugar à imaginação e fantasias de carinho libidinoso.

Os meus lábios tocam na tua face;
Os teus olhos cerram-se enquanto rodas o pescoço, desnudando-o, oferecendo outros oásis do teu corpo à língua comprometida pelo desejo de te tocar.

A minha mão percorre-te o peito que guarda as memórias onde um dia vais descansar feliz pelo mar de lembranças que valem a pena recordar. Dou-tas. São tuas desde o dia que me guardaste dentro de ti. Serão tuas até que a Natureza reclame o corpo que permitiu carregar, numa sinuosa viagem, todas as emoções que em momentos como este precipitam-se para o exterior.

O meu corpo toca no teu;
Despidos da roupa que apenas protege a pele do frio invernal, do vento que fala ruidosamente na janela, os nossos sentidos apuram cada vez mais a vontade, o ímpeto, e o expoente simbiótico dos nossos seres.
Os nossos corpos edificaram uma Casa para as nossas almas.

Anatomia da pistola

20 março 2011

As chinesas é que a sabem toda

Voz

Não sei se mais valem
as palavras que se dizem
ou as palavras que se escrevem
não lhes conheço uma medida
e em toda a minha vida
só lhes pedi que nunca se calem
quer me façam mal ou bem.
Meu amor, cada uma que de ti vem
é, por isso, ternamente recebida,
é, por isso, desembrulhada, agradecida,
e assim, cada uma que me dás tem
sonhos que já nunca morrem
sem coração
gritos que já nunca enlouquecem
na solidão
de uma qualquer palavra escondida,
má ou boa, é tua, não será perdida.

«Amor incestuoso» - por Rui Felício


Helena era a terceira filha de Almerindo Teodósio, e a primeira e única filha da Maria da Conceição, a quem o abastado agricultor seduzira ainda donzela, tornando-a numa mãe solteira. Por causa disso, filha e mãe sofreram a segregação do ambiente aldeão, para o resto dos seus dias, uma por ser filha do pecado a outra por ter dado aquele passo em falso.
O povo conjecturava, mas da boca da Maria da Conceição nunca ninguém soube quem era o pai da Helena. O Teodósio obrigara-a a jurar segredo sobre a campa rasa dos seus pais que, um a seguir ao outro, a tinham deixado órfã ainda ela era menina.
A labuta de sol a sol a que a Helena se sujeitava, já adolescente, na Quinta do Vale da Azenha, em troca da fraca jorna que entregava à mãe para o sustento das duas, tisnava-lhe a pele, endurecia-lhe os músculos, ensombrava-lhe o semblante.
Não havia rapaz na aldeia que não desejasse andar toda a vida perdido na escuridão dos olhos negros, profundos, plantados no rosto trigueiro da Helena, que não sonhasse em provar o doce dos favos de mel que eram os lábios nacarados daquela menina com corpo de mulher.
Mas ia desistindo, ano após ano. Toda a gente via que o Francisco Teodósio, capataz da Quinta e filho mais novo do velho Almerindo, andava de olho nela. Cercava-a, dava-lhe trabalhos mais leves, ia levá-la a casa montada na garupa do seu cavalo, enchia-a de mimos...
Ela nunca sorria para ninguém, mas quando o Francisco se aproximava, deixava timidamente aflorar duas filas de dentes brancos como neve a contrastar com a sua pele morena.
Até que um dia o Francisco foi falar com a Maria da Conceição. Ia pedir-lhe a filha em casamento.
Espantado, nem quis acreditar na terminante recusa que ouviu da boca da Maria da Conceição que, lavada em lágrimas, lhe disse que ele lhe estava a pedir uma coisa impossível.
Falou então com o seu pai e este, furioso, proibiu-o terminantemente de lhe voltar a tocar no assunto. Que o deserdava se ele persistisse nessa ideia!
O Francisco e a Helena, combinaram então, em segredo, esperar pela maioridade dela e, no dia seguinte ao do seu aniversário, fugiram da aldeia. Meteram os papéis em Coimbra e casaram-se na Igreja de Santa Cruz.
Foi só então, passados 21 anos, que a aldeia ficou a saber que o Almerindo era o pai da Helena e que tinha contratado um advogado para ser feita a anulação do casamento dos filhos...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações



«Pendency» da série «Impossible love» por Dorina Costras

Outra dimensão

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19 março 2011

Enlarge your what???

Ora esta...
Ouvi o coiso agarrado a mim referir que na internet andam a tentar vender uma cena que ele chama enlarge your penis.
Enlarge your penis? Isso vende-se? Sei que existem uns comprimidos azuis para os meus homólogos mais preguiçosos e até compreendo que os coisos agarrados a eles tomem uma atitude para os acordarem desse torpor, mas o conceito de pagarem para alguém os esticar...
...Espera lá... a ideia será mesmo esticar-nos? Mais ainda do que acontece quando nos levam a passear ou lhes passam ideias malucas pela carola ou coisas agarradas às passarinhas pela vista?
Será que a ideia é mesmo aumentar-nos o tamanho? Credo! Como é possível uma coisa dessas? Fazem o quê, puxam-nos pelas orelhas? Não temos.

E para que querem os coisos agarrados a nós fazer-nos crescer? Alguém se queixou? Não?
Bem me parecia...

De tanto te pensar

De tanto te pensar
esqueci
as margens
do teu corpo,
o perfil
das tuas mãos
de te lembrar
tanto esqueci
as palavras
do poema...

Poesia de Paula Raposo

Shooting Well #3

Parece-me inegável que a magia passa sempre, muito, pelas mãos.

Loira da Lituânia especializada numa dança jamaicana bem malandra

18 março 2011

a felicidade

Cristino conheceu Mária de quem teve uma filha, Pedra, e um filho, Luciomar, que nasceu e foi registado no Brasil, durante uma viagem de Cristino à Bolívia. Mária ficou em Portugal mas, no decorrer da gravidez, conheceu Tereso, um baiano que morava em Chelas junto ao Pingo Doce e que vivia morrendo de saudades do Rio onde tinha sido calceteiro. Pedra ficou com uma meia-tia da parte da madrinha da mãe e Mária foi ao Brasil para ver o calcetão que Tereso dizia ter feito. Na Bolívia, Cristino apaixonou-se por Sérgia, uma algarvia que acompanhava com bolivianas da vida nas calles de La Paz. Cristino achou-lhe graça e emprenhou-a, ainda que a meio da tarde do dia seguinte, já sóbrio, não conseguisse perceber porquê. Tereso deixou uma flor estranha e com um odor ainda pior no quarto de Mária na Maternidade Municipal Fernando Magalhães onde nasceu Luciomar e partiu. Partiu quatro costelas, dois dos três ossos ilíacos do lado direito e perfurou a abóbada palatina com um lápis n.º 2 quando foi atropelado. Tereso já não tinha intenções de voltar, pois gostava de grávidas mas não de mães, e o estado de morto que lhe diagnosticaram à entrada do hospital impediu-o de qualquer recaída, por isso, Mária, nada grávida e duplamente mãe, nunca mais o viu, nem recuperou o lápis que lhe emprestara. Na manhã de denso nevoeiro em que Cristino chegou da Bolívia ainda Mária não tinha voltado do Brasil mas, duas semanas depois, quando saiu de uma casa de banho segura em Ranholas onde evacuou, entre graves crises de obstipação, toda a coca que trouxera, já Luciomar, Pedra e Mária estavam em casa à espera das notas do narcotráfico como se não fosse nada com eles. Eram felizes.

Eu gosto de pessoas


Foto: Shark

Livro do avesso

Há um talho pequeno mas recomendaram-me que nada lá comprasse. Vou agora ali abaixo, vou tomar café, vou escrever a rua em vez de a percorrer com passos; já sinto nos pés as calçadas, estão tortas como as sinto nos dedos quando as deito às linhas. São de palavras, as ruas sussurram-me palavras, parecem folhas que caem, aos milhares, de árvores invisíveis, as pedras sussurram-me palavras; há mais palavras que voam e eu julgo que são as que caem do pensamento das pessoas; os pés de uma menina pequena, sem sapatos, contam-me que estão muito frios e eu queria tocar-lhes mas não posso, ninguém entenderia, estão na rua, na vida real e eu estou no mesmo exacto sítio, na mesma exacta rua, mas num livro que me parece uma vida muito mais real, pelo menos mais nítida porque está à luz do nexo; neste livro, pelo menos, eu posso tocar o frio dos outros sem que ninguém me ache tão estranha como eu acho estranhas as pessoas que não tocam nos frios e os talhos onde não se pode comprar carne. Mas não faz mal, ainda encontro nexo nos dois mundos quando coisas como jantar e almoço me fazem pensar em ti muito mais do que faria a emoção de uma paixão fulminante, sexo desenfreado em todos os cantos da casa, jogos de sedução, ou a pele quase histérica. Tudo isso eu já conheci e, se a carne e o desejo também aqui moram, é, contudo, nas coisas pequenas - no almoço, no jantar, no supermercado, no café, nos risos, no desabafo, no abraço, na mão que agarra com força, no calor que me emprestas, no cinto das calças que desaparece, nas bainhas por fazer, nas nódoas eternas na camisa bonita, nos olhos sonolentos de manhã, no próprio sono - que te reconheço forma e corpo muito para além desse corpo humano; é daí, dessa forma para além do corpo, que me vem, mais do que de qualquer outra coisa, o desejo de te despir em cada abraço; o desejo pelo teu corpo vem-me do teu corpo para além do corpo; é daí, apenas da tua existência, que me vem um sentimento único, imenso, novo, inigualável, este que é da gratidão mais profunda, mais feliz, mais cheia de todas: a que me faz acordar de manhã a agradecer-te, quase ofegante, à vida, quase com medo que a vida pense que eu possa ser mal agradecida e te leve como castigo de uma cegueira que eu não tenho; eu vejo-te cada instante.

Com uma musa a sério tudo flui melhor


A página em branco


1 página

oglaf.com

17 março 2011

Brothers in arms

Fico sempre espantado com a quantidade de nomes que os coisos agarrados a nós inventam para nos designar. Fartam-se de desdenhar, até consideram um insulto mandarem-se para nós pilas, mas depois esforçam-se para nos baptizar a torto e a direito (nas pilas também funciona assim, não temos todas o mesmo ângulo relativamente ao coiso agarrado) como se fossemos o centro das suas atenções.
A sério que nunca vou entender a estranha relação entre os irmãos siameses que formamos, agarrados pela natureza e destinados a partilhar uma existência comum. Sim, eu sei que o coiso agarrado a mim (mesmo não estando constantemente oprimido dos pés à cabeça por horríveis peças de vestuário como eu) também possui os seus constrangimentos e restrições, as suas opressões sociais que tanto lhe infernizam a existência. E por isso o tolero e até acabo por brilhar quando ele precisa, pois sei que ele fica todo contente e vaidoso e para mim nem é frete algum.

Nós apêndices temos que ser uns prós outros...

quadrinhas inocentes, para purificar a crise

quanto eu daria amor meu
para ter uma cartola
e guardar nela de teu
quanto o amor me consola

e nalgum palco da vida
quando a vida nos diz não
tirar da cartola a vida
sob uma enorme ovação

e se saltasse um coelho
de onde vida se esperava
teria por bom conselho
ver o quanto esperneava

que o amor quer-se vivo
e a dar à perna com brio
nem tanto um amor furtivo
mais amor de desvario…

Visto assim...



Em theVisualMD.com também têm videos (basta pesquisar por "sex" ou "intercourse", por exemplo")

Excisão (mutilação genital feminina)

Sou fã das ilustrações do brasileiro Tiago Hoisel


Adolescente


Lobo Mal


Arte


Casa de banho


Geração Internet

Blog do Tiago Hoisel

16 março 2011

Mudança de hora - um postalinho do Katano

Até agora, a petição «Não à mudança de hora» tem (apenas) 135 assinaturas.
Será que de mais de 10 milhões de portugueses, só 134 pensam, como eu, que a mudança de hora não se justifica economicamente e, em termos de saúde e bem estar das pessoas, é prejudicial nos períodos após cada uma das duas mudanças de hora anuais?!

O Katano, homem de causas e estratega nas horas vagas, enviou-me este postalinho:

"Uma vez que se aproxima o dia em que mudamos para a hora de Verão, é uma excelente janela de oportunidade para divulgar a causa e angariar assinaturas para a petição, dando-lhe mais força.
Para maior alcance proponho:
1 - Que todos publiquem um artigo no seu(s) respectivo(s) blogue(s) com o mesmo título que deverá ser algo como "Mudança de hora", uma vez que muita gente irá procurar isso no Google durante a semana ANTES do 27/3. Em todos esses artigos, com mais ou menos texto, coloca-se um link "Não à mudança de hora" que direcciona para a petição. Com isto teremos o Google a ajudar a causa.
2 - Criar uma página e um evento no Facebook "Não à mudança de hora" e convidar todos os nossos amigos a aderir. Ao mesmo tempo, ir partilhando os conteúdos que forem sendo publicados nesse evento e/ou nessa página.
Alguém tem um vídeo ou um link para um artigo de saúde que fale nisso?
Beijoca na passaroca
Katano"

Toma aí um artigo sobre a saúde e a mudança de hora.



Página da Petição


E sabeis o que penso da mudança de hora? Sabeis, sabeis?

O julgamento


Perdera a noção do tempo desde que tinha sido arrastado durante a noite, a caminho do seu carro. Não tivera sequer tempo de abrir a porta quando nos vidros se desenhavam as sombras de quem vinha correndo por trás para o apanhar, encapuçar e arrastar, debatendo-se. Havia sido capturado em escassos segundos, atirado para dentro de um carro que não o seu e levado estrada fora sem conseguir sequer saber quem o tinha como refém. Não havia uma palavra, nenhum som que denunciasse os autores, apenas uma sensação estranha de uma força macia. Uma força que não conseguira contrariar, mas músculos que não eram de todo de betão, gestos que não eram brutos. Apenas firmes, e sobretudo muito determinados.
Perdera a noção do tempo dentro daquele quadrado. Estimava que não seriam mais do que dois metros de lado, com uma porta e um estreito beliche. Parecia-lhe mais um quarto de arrumos do que uma cela. Quando a porta se abriu, entraram vultos de rompante, todos de negro, que se precipitaram sobre ele e o vendaram, e depois arrastaram de novo para uma cadeira à qual prenderam. Era inútil debater-se. Se os músculos continuavam a não ser de betão, se os gestos não eram brutos, eram de qualquer modo numerosos, e pela simples matemática sabia que nada havia a conseguir-se em lutar contra aquilo. Se alguma oportunidade surgisse, agarrá-la-ia. Mas naquele cenário era melhor manter-se quieto, e tentar descobrir o que estava a acontecer-lhe. Se várias horas ou já mais do que um dia, não sabia dizer. Não tinha tido luz que lhe dissesse como tinha o Sol corrido desde a sua captura, e da chegada ao pequeno quarto escuro não se lembrava. Teria sido forçado a um sono profundo de uma qualquer forma, mas nem isso habitava as suas memórias recentes.
O corredor devia ser longo, embora com muitas esquinas, porque a cadeira onde o tinham amarrado era empurrada há já alguns minutos, e tinham ido contra as paredes algumas vezes. Estava convencido de que apenas para o castigar, a não ser que o corredor fosse tão estreito que não se conseguisse fazer uma curva sem embater nos rodapés. Mas se assim era, empurravam-no sem doçura, nem para ele nem para os rodapés. Podia ser, talvez, um canal para a fúria. Deixar no material as marcas que (ainda?) não tinham deixado nele. Finalmente detiveram-se. Ouviu o rodar de uma chave e o chiar de uma porta a abrir-se. Com isso veio outro som, o de gente a agitar-se em cadeiras, a densidade do ar parecia outra, como se tivesse vindo de um espaço profundo para um outro onde o ar circulava. Foi empurrado de novo, vendado, numa distância que lhe pareceu bastante mais curta. Notou que lhe travaram a cadeira porque lhe parecia bastante fixa, já não oscilava. O ruído que tinha escutado cessara. O silêncio era quase dominador, sobrando apenas o barulho de alguém que se afastava e era, claramente, uma mulher. Só podia ser uma mulher, porque aquele som era o de saltos que se moviam sobre madeira. Mas não tinha ouvido saltos em momento algum, só podia ser alguém que já ali estava no local onde a cadeira seria imobilizada. Distinguiu claramente esses passos a descer, ou a subir, um pequeno lanço de escadas. Nota-se bem, porque o som ecoa mais. Tinha ficado alguém perto dele, imóvel, porque sentiu uma mão tocar-lhe a nuca e puxar o laço que fixava a venda, que caiu sobre o colo. No escuro há muito tempo, sabia lá ele quanto, custou-lhe recuperar uma visão precisa do espaço à sua volta. Cerrou os olhos incomodado pela luz e foi, lentamente, tentando mantê-los abertos, crescendo nele o assombro à medida que completava a imagem perante a qual estava presente.
Agora que podia ver, tentava entender. Estava sentado, preso a uma cadeira de rodas para conveniência dos seus captores, exactamente no centro de um grande palco de um anfiteatro. À frente dele, os seus captores. Os prováveis autores morais da sua captura. E podia agora precisar. As captoras. Todo o anfiteatro estava ocupado por mulheres. Mulheres que ele tinha conhecido e de quem tinha sido amigo, todas aquelas a quem tinha em algum momento feito algum tipo de elogio ou dirigido um cumprimento, todas as que o tinham lido, naqueles seus farrapos de escrita, todas as que tinham sido fotografadas por ele, todas as que tinham visto as suas fotografias como meras espectadoras, todas as que o tinham ouvido falar. Apinhavam-se em lugares que pareciam poucos para tantas mulheres. Como podiam ser tantas assim? Não tinha ideia. Não podia ter ideia do número. Era assombroso.
Uma delas, talvez aquela que tinha caminhado de saltos sobre a madeira, momentos antes, estava em pé, junto a uma coxia, e iniciou as hostilidades. Disse o nome dele, que não reproduzimos, e declarou-lhe algo como “estás aqui para ser julgado. Para ouvires todos os crimes de que te acusamos. Todas nós te diremos o que nos fizeste, e no final conhecerás a tua pena”. Era de ficar assustado. E ficou. Uma a uma foram tomando a palavra e descrevendo aquilo que, para elas, eram crimes pelos quais precisava pagar. “Por todas as vezes em que me disseste que estava sexy e não me tocaste, não te chegaste a mim e não respiraste junto ao meu ouvido”. “Certa altura vesti, de propósito, meias pretas opacas para ti, com um vestido de morte, e tu não mo subiste, não passaste as tuas mãos pelas minhas pernas, não me arrancaste as meias nem me fodeste ali mesmo, apesar de estarmos sozinhos”. “Como foste capaz de tocar-me as costas, quando nos aproximavamos para um beijo de cumprimento, e não perceber que sempre que o fazias eu me chegava mais perto e que tremia com o teu toque?”. “Como foste tão estúpido ao ponto de não perceber que quando eu me despia para ti, quando abria as minhas pernas para veres melhor, era um convite a que me penetrasses, depressa e em força?”.
Foram horas a ouvir acusações. Estas e outras. Algumas muito parecidas com as anteriores, outras muito díspares. O incómodo era crescente. A primeira a falar tomou, de novo, a palavra. O rol de acusações parecia estar terminado. A primeira a falar disse, então: “Acusamos-te! Consideramos-te culpado de nos teres feito sentir mulheres. És culpado de ter cativado as nossas atenções, de teres entrado nos nossos quartos escuros. És culpado de ter tocado os nossos corpos e ter arrepiado as nossas peles. És culpado pelo humedecimento inconsequente das nossas genitálias. Culpamos-te pelos arrepios na nuca, pelos arrepios nas raízes dos cabelos, pelas despesas que fizemos em roupa para te atraír. Culpamos-te pelas massagens que nos fizeste sem ir mais longe, quando em nós tudo era já fantasia. Culpamos-te por nunca nos teres fodido, deixando-nos fodidas por não nos foderes. Culpamos-te por tudo isto e por todas as outras coisas que não ousamos sequer admitir. És culpado. E não tens direito a apelo. Como pena, expulsamos-te dos espaços onde entraste”.
Fez-se silêncio. Sepulcral. Assustador. E não aconteceu nada. Deixaram-no sentado, amarrado a uma cadeira com fita adesiva nos punhos e nos tornozelos, enquanto deixavam vagos os seus lugares no anfiteatro. A pena era, afinal, esta. A de conhecer os seus crimes e ser ignorado a seguir. O degredo.

Lágrimas Alheias II

Será um simples abraço suficiente para amaciar a contundência daquilo que tens por dor, que semi-encerra o discernimento e a felicidade que te habituaste a viver?
A escolha de percorrer o nosso próprio trilho, decididamente não olvida a observação que, com auxílio, possa ser feita ao espaço que circunda as nossas vidas.
Recorda (como me habituaste a recordar) que a sinuosidade de um caminho é imediatamente subvertida pela presença de quem - mão na mão - o percorre connosco.
Poderá haver algo mais, uma palavra ou uma acção que agidas no âmago, dêem calor.
Dar-tas-ei sempre...

Shooting Well #2

Para quem prefira, a versão original da #1 já publicada. Foram estas as tonalidades da Miss Joana Well.

Hífen pelo meio




Webcedário no Facebook

15 março 2011

Contos de BaR...

... descobrir-lhe os clítoris que existem numa mulher sob todos os poros da pele...

Há quanto tempo não me trespassava aquela sensação adolescente.
Vocês sabem, é já tão clássica...
Vê-se um homem sentado diante de uma senhora que está, ou que chega, com o seu acompanhante. Costuma ser um tipo que conhecemos mais ou menos bem, ou se calhar nem por isso. Às vezes é a tal pessoa do bom dia no café da manhã ou o caixa do Banco onde vamos (ou temos de ir) amiude e que chegou há pouco ou outro ser qualquer que emerge das coisas indiferentes das grandes cidades e que naquela ocasião, sem saber-se bem porquê, nos vê naquele Bar e resolve sentar-se connosco à volta de uns "Scotch-on-the-Rocks".
- Olá, por aqui?! Então que tal?.... Está à espera de alguém, ou podemos...?-
- Não, façam favor… é um prazer… sou Carlos e você… é? Ah, muito prazer…mas sentem-se. O que querem tomar?.-
Uns sorrisos e umas coisas de circunstância, -Sabe, moro aqui próximo, e você? Se não me engano é para estes lados, não é? -
Depois vem a segunda rodada, a língua solta-se e a conversa trepa. Uma hora mais tarde, já o terceiro está na agonia da calote polar a descongelar dentro dos copos altos e a pedir uma urgente acção Escocesa contra o aquecimento global. Copos renovados, gelo até ao cimo e um pires de frutos secos e pipocas com sal.
- É pá, você sabe lá o que me aconteceu há dias lá no Banco? – continuaria o tipo se fosse bancário, mas calhou ser da repartição de Finanças onde tivera que deslocar-me nesse mesmo dia: - ... Já era a quarta vez que aquela senhora me tinha telefonado no espaço de uma hora, a perguntar por mim e eu a mandar sempre a dizer que não estava. Você conhece o género, não se lhe pode dar trela e o chefe da repartição é novo, quer mostrar serviço e põe o pessoal a bulir que nem uns mouros. Mas o sacana do Filipe ou não sabia ou fez que não sabia - sabe como é essa coisa agora do desempenho - descaiu-se e lá tive que ir e…-
Falava ininterruptamente, quase sem dar espaço para réplica enquanto passeava o olhos por entre as outras mesas, retornando o olhar para os interlocutores para regressar novamente para o balcão e os outros frequentadores, enquanto entre dentes uns cajus mastigados rodavam entre dentes e sons.
Foi aí que de repente senti o toque suave a subir pela ponta das calças, o dedo grande a levantar o tecido enquanto a parte interior do pé subia levemente dois ou três centímetros pela nudez da minha perna.
- … Já viu o que é, ter que estar com o telefone encostado ao ouvido e mexer no teclado? Bem, foi uma barracada… Acabei por nem fazer uma coisa nem outra…-
Olhei de soslaio para ela, que se fingia de distraída pelos trabalhos em tinta da china, elaborados no registo sensual, com que o dono do “Copus” tinha decidido decorar as paredes do estabelecimento. Descalcei o meu sapato e os dedos, subitamente acordados para o espaço, procuraram os seus. O tagarela tinha-se calado e mastigava uns cajus enquanto despia uma tipa que tinha acabado de entrar e que ficara junto ao balcão. Olhou para mim e piscou o olho: - Boa, no linguajar de qualquer gajo.
Agora o pé dela estava exactamente no meio das minhas pernas. Não resisti e, súbita mas discretamente, desci ambas as mãos sob a mesa, segurei-lhe por instantes o pé, acariciando-o, enquanto a mirava sentindo-lhe a feminilidade toda imersa em mim.
- Sabe, amigo - voltou-se ele, subitamente de regresso ao argumento… Desculpe, não fixei o seu nome...
- Carlos, respondi quase a engasgar-me…
- Ah sim, Carlos, já me tinha dito, mas eu… Epá, naquele dia saí de lá era quase meia noite, tá a ver? E depois não é só isso,…-
O pé ora carregava um pouco sobre a dureza da erecção para regressar depois às leves passagens de veludo onde o toque, de tão leve, era terrível e excitantemente quase apenas sugerido. Um deslize entre margens de músculos e sonhos, nascentes de aves loucas de tantos fogos incendiadas…
Fechei os olhos durante uns breves segundos em que a conversa sobre IRS, taxas e multas soaram a cento e cinquenta mil anos-luz e voltei a abri-los para encarar dois olhos fascinados, felinos e terríveis no seu sorrir a sobressair do copo. Imaginava-a nua, os meus dentes a percorrer-lhe o pescoço e ombros, a língua a passear-se pelo poema dos seus peitos, os dedos a desbravar e a descobrir-lhe os clítoris que existem numa mulher sob todos os poros da pele e fundi-la finalmente, num abraço, num único instante interminável e profundo de sexo intenso...

Um estremecer surdo e interior percorreu-me todo o corpo. Apertei a bebida, mordi o lábio e olhei para o tecto em tijolo que caiu sobre mim em milhões de estrelas quando as pálbebras em cortinas fechadas se abriram para o mais profundo infinito interior. Deixei-os ficar assim durante mais uns segundos, os mesmos que duraram o Big Bang: dizem que foi menos de um quarto de um milionésimo de segundo, mas eles sabem lá o que é um segundo quando apenas existe a Eternidade e não há ainda mundo a girar à volta dum sol, aprisionado no tempo que depois de dividido por essa ínfima expressão da matéria - o Homem - em milhares de milhões de bocados, dá para fazer os Segundos de toda a História do Universo.
- Você parece estar com sono - interrompeu o tagarela.
Abri os olhos para o copo que se aguentara na mão e bebi um golo lento, respirando profundamente depois.
- Não é nada - respondi - de vez em quando sabe bem fecharmos os olhos e olharmos para… o infinito, não sei se me entende.
- Oh, se entendo… - respondeu, dando pelo levantar do indicador e a expressão do rosto a indicação nítida de que iria dissertar sobre o tema.
- Querido… adiantou-se ela evitando ter que interrompê-lo, enquanto ao rodar o corpo na direcção do companheiro acabava de fechar as pernas, acabando assim de rejeitar o pé que eu lhe acabara de colocar sobre o púbis.
- Desculpa , mas precisava de ir-me embora.-
Olhou-me uma fracção de segundo, regressando depois para ele.
- Sabes como amanhã tenho que estar lá cedo…