06 março 2013

A Mara

Senti no ar o aroma inconfundível de um "Rare Rosam", de "Histoires de Parfums". Só alguém muito peculiar faria tal escolha. Pele morena, ar latino, cabelos longos e negros e olhos a condizer. Falava animadamente num grupo, no lobby do hotel onde decorria o congresso. O encantador sotaque, soube-o depois, correspondia à sua proveniência de Santiago do Chile.

Depois de ter aceite o meu convite para falarmos sobre perfumes e sobre a poesia de Neruda, percebi que eu e Mara tínhamos gostos comuns em muitas outras áreas. Partilhávamos uma paixão pelos mesmos costureiros, pelas mesmas músicas, pelas mesmas viagens.

E partilhámos a paixão pela pele dela, quando finalmente continuamos a conversa no quarto. Suave como uma pétala de rosa e cheirando como uma ("Rare Rosam" parecia feito a pensar nela). O cuidado com que tinha tratado daquela pele nos seus vinte e oito anos, era evidente na pureza sem manchas das curvas perfeitas que tinha à minha frente, nua, no lençol.

Quando a massagei entre as coxas, sentia-a a arrepiar-se. Quando os meus dedos subiram um pouco mais, abriu-se para mim, aguardando que a humidade da minha língua se misturasse com a que fluía de dentro de si.

Mara gozou em vagas sucessivas, ainda antes de eu aplicar nela o meu Lelo Soraya. Nessa altura pela primeira vez, a ouvi gritar, abandonando a inibição de quem passa as primeiras horas com alguém que havia conhecido poucas tempo antes entre duas flutes de Veuve Cliquot.

Entregue depois às suas mãos e à sua boca, percebi que o seu conhecimento dos pontos eróticos do corpo feminino era enciclopédico. Não me ouvi a mim própria gritar, mas ela depois afiançou-me que sim, que tinha tido que colocar um dedo nos meus lábios para evitar criar alarme no hotel.

Tomámos um longo banho, falámos sobre poetas chilenos e europeus e saímos as duas, com uma proximidade cúmplice. Ela, cheirando como uma rosa rara. Eu, flutuando presa ao seu aroma.

E quando sentadas a olhar para a lua nocturna, ela me recitou o Bella de Neruda:

Bella, mi bella,
tu voz, tu piel, tus uñas
bella, mi bella,
tu ser, tu luz, tu sombra,
bella,
todo eso es mío, bella,
todo eso es mío, mía, 
cuando andas o reposas,
cuando cantas o duermes,
cuando sufres o sueñas,
siempre,
cuando estás cerca o lejos,
siempre,
era mía, mi bella,
siempre. 

não consegui evitar, e chorei, chorei longamente.


Bela
Blog «As Noites Belas»