06 março 2013

«pensamentos catatónicos (284)» - bagaço amarelo

por trás dum pequeno homem

Dizem que por trás dum grande homem há sempre uma grande mulher. Não sei até que ponto isto é verdade, mas também admito que desconfio que a minha definição de grande homem não corresponde à do senso comum. O que eu sei é que, de facto, me farto de ver mulheres escondidas pela pequenez dos homens.
Hoje de manhã tinha um encontro marcado com uma ex-colega de escola. Uma mulher que eu não vejo há mais de vinte anos e de quem, por vários motivos, tenho saudades. Encontrámo-nos aqui, na internet, através duma rede social, assim como quem se cruza na rua e diz "Ah! Já não te via há tanto tempo!". Marcámos um café para hoje e ela não apareceu porque, ao contrário do que estava previsto, o marido dela estava em casa e ele, segundo o que me disse numa rápida conversa telefónica, não gosta que ela saia sozinha para ir ter com um homem.
Não disse nada. Saí na mesma, comprei o jornal e fui tomar um café sozinho a outro sítio qualquer em Matosinhos. Uma rapariga com uns doze ou treze anos estacionou a bicicleta no passeio. Longos cabelos ao vento e um sorriso enorme estampado na cara. Veio ter comigo assim que dobrei o jornal e o coloquei sobre a mesa.

- Olá! O meu pai pediu-me para lhe comprar o jornal. Se me venderes esse por cinquenta cêntimos, eu fico com o resto para mim. Pode ser?

Dei-lhe o jornal para a mão. Claro que não lhe cobrei os cinquenta cêntimos. Ela já me tinha pago com aquela demonstração de que nem tudo está perdido. Espero que daqui a uns anos não esteja a telefonar a um amigo para lhe explicar que não pode sair de casa por causa do marido.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»