Ainda mais neste tempo tão frio e cinzento, faz-me falta o regresso da tua Primavera.
O desassossego que provocavas com a tua presença, contrasta com o desassossego que a tua ausência provoca.
Apesar
do que dizem, a necessidade de apaziguamento agudiza-se com o passar do
tempo. Dizem que o tempo tudo cura, enquanto eu o vejo passear-se em
câmara lenta. Enquanto sinto o meu coração cozer em lume brando.
Não somos estranhos um ao outro. Apenas estranhamos a alteração do sentimento forte que nutríamos um pelo outro.
Agora, fruto do desencanto e do afastamento, encaramo-lo de forma fugidia.
E
neste estranho reconhecimento, conhecemos que nada volta atrás. Que
nada volta a ser como era. Porque já nem nos lembramos exactamente como
era. Apenas recordamos o que imaginamos que foi.
Os apetites
outrora insaciáveis, ficaram saciados de um momento para o outro. É
possível ver o instante em que a linha quebrou. Em que deixou de ser
recta, de declive positivo, para passar a ser quebrada, ziguezagueando
sem levar a lado algum.
A paixão ardente não se transformou no
amor quente que ambos procurávamos um no outro. No amor quente que todos
merecemos e necessitamos. Procuramo-lo e, quiçá, encontramo-lo noutro
sujeito. Então tentamos não ser apenas um verbo de encher. Ou talvez
sejamos, se ainda não estivermos definitivamente curados deste
sentimento que jaz escondido nos nossos peitos. E não o revelamos. Nem o
podemos revelar, ou deixaria de ser um segredo bem guardado. E muito
menos o podemos confessar um ao outro, para não corrermos o risco de
percorrer o mesmo calvário que nos trouxe até aqui.
Anonimamente
confesso que o percorreria de bom grado, se caminhasses a meu lado e me
ajudasses a levantar de cada vez que caísse. Nunca te empurraria, ainda
que fosse capaz.