31 janeiro 2015

«O amor pode tardar mas não falta» - por Rui Felício



Enclausurada em casa, às vezes sentia-se abandonada, proscrita.
Como desejava que as mãos daquele homem bonito que vivia em frente a percorressem, que sentissem o perfume, a maciez, a textura e o aveludado do seu corpo!
Mas ele parecia nem reparar nela.
Nem um olhar fugaz lhe dirigia.
Era nova ainda, na força da vida.
Ele iria gostar dela quando lhe tocasse, quando o roçagar suave e sensual dos seus movimentos o despertassem.
Quando a apertasse nos braços ele ficaria rendido à sua beleza.
E ela alcançaria a felicidade. O seu sonho apaixonado seria finalmente realidade.
Tinha que se encontrar com ele.
Não podia continuar fechada em casa. Tinha que proporcionar um encontro com ele.
Subitamente, o ansiado dia aconteceu.
Foi jantar, num lugar romântico, com o belo vizinho e no regresso ele abraçou-a, acariciou-a por fora, por dentro, por todo o lado dando-lhe a vida que lhe faltava.
A vida daquele blusa de seda há muito abandonada no cabide, que naquela noite, por sorte, a dona escolhera para vestir...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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