31 julho 2017

Postalinho do Minho 1

"Esta marca tem gelados masculinos. Imaginem os femininos..."
Antonino S.


«Precisamos falar de Gaslighting» - Cláudia de Marchi

Vamos falar de gaslighting: uma espécie de abuso emocional comum a qual inúmeras mulheres foram ou são, diariamente, expostas. Ela consiste, segundo a Wikipedia, Gaslighting ou gas-lighting é uma forma de abuso psicológico no qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade. Casos de gaslighting podem variar da simples negação por parte do agressor de que incidentes abusivos anteriores já ocorreram, até a realização de eventos bizarros pelo abusador com a intenção de desorientar a vítima.
Vejamos alguns exemplos sutis desta forma de abuso que os homens negam até a morte que cometem, porque são incapazes de terem empatia e se colocarem no lugar da vitima do seu abuso. Tenhamos em mente que o macho que pratica o gaslighting é, a priori, egocêntrico, narcisista e machista. Acha-se o “pica das galáxias”, acha que porque faz “uma ou outra” coisa para lhe agradar deve tê-la de quatro, comendo nas mãos deles, sem ter autonomia alguma para iniciar uma “DR” e reclamar do que não está lhe contentando na relação.
“Chata" no dicionário machista/narcisista: mulher que não fica quieta diante de piadas que as diminuem ou que as colocam no papel de problemáticas e implicantes; "mau humorada" no vocabulário machista/narcisista: a mulher que não acha graça das suas piadas arrogantes, falocentricas, sarcásticas e abusivas.
Para o macho abusivo e narcisista "perfeita" é a mulher passiva, que não se ama e não se impõe. Aquela sem voz, nem vez, nem ânimo e energia que ri de suas brincadeiras de quinta categoria mesmo que elas lhes diminuam ao nível de "desequilibradas", "chatas", "ciumentas" ou "dramáticas".
"Decepcionei-me com você" no dicionário machista/narcisista: achei que uma mulher tão linda como você não iria "problematizar" sobre o fato de eu me achar o "pica das galáxias" e fazer pouco caso das suas necessidades emocionais que eu, "sabiamente" chamo de "chateações" e de "mimimi".
E tem mais neste minidicionário dos abusadores emocionais, querem ver? “Puta" no dicionário machista e misógino: 1- a mulher, seja ela virgem ou experiente, que não quis transar com ele, o macho, o gostoso, o “pau doce”; 2- a mulher, seja ela virgem ou experiente, que tendo atração por ele, resolveu transar, porque queria ter uns orgasmos (mas só teve um, tadinha!); 3- a acompanhante de luxo que o metidinho a “fodástico” procura disposto a pagar, mas que o rejeita, afinal, ela também escolhe!
E escolha é um direito de toda e qualquer mulher: nova, velha, linda, feia, magra, gorda, rica, pobre, negra, mulata, branca, amarela, rosada, vermelha, burra, intelectual! Mas tem muito pseudo-macho que acha que você, acompanhante, é obrigada a transar com ele, porque ele tem grana e se acha “pau de açúcar”. Esses eu não atendo nem que um dia, por ventura, eu venha a passar fome e sede. Sempre existirá uma poça d´agua pra beber, urina pra tomar, enfim!
Ah, e o tal de “louca” gente?! Palavra preferida por 9 em 10 homens incompetentes em conhecer o sexo feminino, enfim, "louca" no dicionário machista e misógino: 1- a mulher que não deseja ficar com o inapto; 2- a ex que entrou com o pé no termino enquanto ele entrou com a bunda; 3- qualquer mulher que o contrarie com veemência e argumentos, qualquer mulher que exija afetuosidade e coerência entre palavras e atos; 4- a ex; 5- a ex; 6- a ex; 7- a ex; 8- a ex; 9- eu já falei da ex?; 10- sempre a ex.
Infelizmente a sociedade machista ainda nos quer caladas. De preferencia nuas e abrindo a boca apenas para lhes chupar. Ainda somos meros corpos! Corpos que vendem cerveja, que vendem perfumes, grifes e revistas, ainda que quase totalmente alterados.
A mulher inteligente, a mulher que não depende emocionalmente de homem algum é exigente. Exige coerência, afabilidade e respeito. E, acredite queridinho, falar romântico e bonito, mas agir de forma, por exemplo, relapsa, não é respeitar. Mas, neste caso, seremos as “chatas” as “loucas”, pois eu ACEITO SER A FEMINISTA CHATA, mas eu não irei me abster de lhe fazer pensar!
Outro dia um jovem comentou num post meu no Instagram: “Muito gata e atraente, deixa a política pra lá...”. Bonita, gostosa, acompanhante de luxo, “pra que” eu preciso ler, me informar, questionar, e usar as redes sociais pra fazer quem pensa como eu não se sentir só e, aos demais, quem, sabe, questionar um pouco mais? Seguinte, darling: “aqui” é gata, é atraente, é linda, é gostosa e vai ter politica em post sim! Se reclamar vai ter filosofia, religião, sociologia, história, psicologia, Direito, FEMINISMO! Ops, já tem isso tudo né?!
Então, engole o choro! A beleza não afasta de ninguém a cultura e a inteligência. E não, eu não deixo e nem deixarei nada “pra lá”. Só opiniões não pedidas e machistas, por exemplo! Deixarei pra lá macho que quer “pintar” a mulher como desequilibrada, “nervosa”, maluca, estressada e etc., quando, na verdade, ela só esta manifestando alguma irresignação que ele, do alto de sua boçalidade, não sabe reconhecer.
E ainda tem quem ria quando eu digo que o que de melhor esses machos egocêntricos oferecem é o sexo! Gente, eles são tão "maravilhosos" quando só tentam nos fazer gozar e contam histórias que em nada se relacionam com a gente! Como são legais e interessantes aqueles que não conhecemos bem! Pra que se estressar com macho abusivo que acha que está sendo o "lord dos lords" e não passa de um grosso petulante? Eu gosto da cereja do bolo, ela é tão gostosa e sequer, engorda!
O macho abusivo, (que jura que não é abusivo), até porque o menosprezo aos seus pontos de vista, sensações, pensamentos e receios é tão corriqueiro que, pra ele, nada existe de anormal em estigmatizar suas irresignações fazendo “pouco caso” delas e até usando de ironia e sarcasmo, como as taxando de “braveza”, “pavio curto”, “bomba prestes a explodir”, “chata” e etc., como se você estivesse reclamando de algo ou reivindicando alguma coisa simplesmente por ser uma “louca”, uma “desequilibrada”. Ele está sempre certo e não pode ser questionado.
Para esses homens é natural acharem e dizerem-lhe que tudo o que você fala e lhe desagrada ou fere a seu precioso ego é “exagero”, “desnecessário”, “nervosismo”. Eles não se colocam no seu lugar e sequer fazem “mea culpa” (nem sabem o que isso significa!), ou seja, a culpa é e sempre será sua e da sua falta de “calma”.
Daí, por exemplo, na manha posterior há um dia em que você expos o que lhe desagradava no proceder dele o homem emocionalmente com QI de ameba em coma e narcisista, lhe chama assim: "Bom dia! Mais calma hoje?". (Claro, afinal no dia anterior, você estava “desnecessariamente” histriônica, apenas e tão somente porque disse o que pensa com convicção sobre a forma de ele agir e “amar”).
Por outro lado, o homem inteligente, gentil e empático, diz: "Bom dia minha linda! Espero que o que lhe incomodou ontem não ressurja. Se depender de mim, não irá!"...
Mas, onde estão os homens sensatos e com empatia? Bem, eu desisti de procurar a tempos e de uma vez por todas prefiro ficar com a "parte" deles que dificilmente da "close errado", economizar minha bendita energia mental e manter meu tradicional bom humor sempre em alta!

Simone Steffani - acompanhante de alto luxo!

Críticos de teatro

Crica para veres toda a história
Anais


1 página

30 julho 2017

Anúncio da AUDI na China

«A Leninha...» - bagaço amarelo

A empregada chamava-se Leninha e vinha todas as terças. Lembro-me dela a tirar o pó de todas as coisas lá de casa com um espanador que mais podia ser uma varinha de condão, tal a forma subtil como lhes tocava. Tratava-me na terceira pessoa, apesar de eu não passar de uma criança cujo centro do mundo era um balde cheio de miniaturas de automóveis. Só parava de brincar por alguns momentos para ver os seus truques de magia. Esperava sempre que ela pudesse transformar a redonda jarra de vidro da mesa de jantar numa bola de futebol, o quadro com a face do menino a chorar numa pintura infantil ou simplesmente dar cor às mobílias pintadas de velho pelo tempo. Isso nunca aconteceu.
A Leninha trabalhava em todas as casas do edifício de três andares onde cresci, bem no centro da cidade de Aveiro, cujos moradores trabalhavam todos em qualquer sítio. Alguns eram funcionários públicos, um homem do primeiro andar trabalhava num stand de automóveis em segunda mão e havia uma mulher que lavava cabeças no cabeleiro da Lurdinhas. O meu pai era polícia. Ainda assim, apesar de todos estarem empregados, tratavam a Leninha por empregada quando ela não estava. Se estivesse, tratavam-na simplesmente por Leninha.
Para além dela e da cabelereira, também a costureira da rua era tratada pelo diminutivo. Era a Mizinha, não sei bem porquê. Sei que ficava sempre fascinado com a quantidade de fios de cores diferentes que ela tinha na pequena loja de esquina onde o Sol se recusava a entrar. Para mim, aquele sítio era uma espécie de parque de diversões e cheguei a pensar ser costureiro só para poder ter tantas linhas de cores diferentes. Assim que verbalizei a minha vontade, o meu pai mandou-me calar.
Tens que ter uma profissão de homem! - disse.
De facto existiam as profissões de homem e as profissões de mulher. Nas profissões de homem da minha rua estavam o Carlos, sapateiro; o senhor Cunha, contabilista; e o André, alfaiate. Foi assim que aprendi que todas as mulheres que trabalhavam passavam a ser tratadas pelo diminutivo, enquanto os homens continuavam a ser tratados da mesma forma. Quando as profissões eram parecidas, a do homem tinha que ter mais categoria. “De categoria” era mesmo a forma como se falava dos fatos feitos pelo André, enquanto as blusas feitas pela Mizinha nunca passavam de “jeitosinhas”.
Com o tempo, a adolescência e os primeiros copos entre amigos veio o síndrome das “gajas boas”. Quem não usasse a expressão “gaja boa” pelo menos uma vez por noite era colocado na prateleira dos maricas ou, pior ainda, dos enjeitados para a vida. A “gaja boa” servia para que qualquer rapaz com dois cabelos de barba pudesse encher o peito de ar e pedir uma cerveja com orgulho em si mesmo.
Numa noite de Verão qualquer, o Raúl chamou boa a uma miúda que passou por nós. Todos nos rimos, encorajados pelo silêncio e pelo passo apressado, quase fugitivo, dela. Depois ele aumentou o volume da própria voz e gritou “comia-te toda!”. Ela desapareceu na primeira curva, engolida pela escuridão nocturna e pelos seus pensamentos.
Tudo o que contei até agora é ficção, mas retrata de forma fiel o Portugal em que eu cresci. Um país pobre e envergonhado onde o tempo parecia ter congelado. E se o país, saído de um regime totalitário que tinha como pilar principal a ignorância, se recusava a ver-se ao espelho, também cada um de nós se recusava a fazê-lo. Mais coisa menos coisa, era este o país onde ser homossexual era uma anomalia e as mulheres eram um diminutivo. Talvez por isso, algumas se comportassem como se pudessem fazer magia, fazendo do espanador de pó uma varinha.
Não serve para desculpar ninguém de nada nem isso me interessa, mas a mim serve-me para perceber que as novas gerações são melhores em muitos aspectos. E esperar que assim continue...
AdoroMostrar mais reações


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Explicação dos pássaros



Ele era inexcedível quando se atracava a mim e subia uma mão por dentro da camisola até fazer saltar um seio do sutiã para os dedos titilarem o mamilo enquanto a outra se metia desvairadamente pelo cós das calças ou da saia na ansiedade de um bando de pássaros migradores a bicarem cada milímetro das zonas húmidas

Foda madrinha


A de ontem à noite achava-se uma fada, mas a pinar não fazia magia alguma. Só por causa das coisas dei-lhe uma fodinha de condão.

Patife
@FF_Patife no Twitter

29 julho 2017

«Sim, meu Deus, sim!»


YES, GOD, YES from Karen Maine on Vimeo.

«vives entre a alma e o sol» - Susana Duarte

vives entre a alma e o sol,
deitado entre ti e ti,
de ti perdido,
de ti ali,
onde
as nuvens soltas
navegam delírios vestidos
de noite. vives entre a alma e
o que não sei. vives, em mim, noite
tempestuosa de olhos desassossegados.

inertes.

vives entre a alma e os dedos,
florescendo mágoas
e solidões
por entre
medos.
de ti perdido,
imaginas encontros de mãos
e sussurrares de aves finalmente tocadas
pelas primaveras do tempo. vives entre a alma,
e o que não sei. vives nas ondas submarinas do ventre

sôfrego.

vives onde não sabes,
e não vives nada, perdido de ti,
entre ti e as névoas das tuas dúvidas.

vives na sombra
do limbo das folhas,
onde a seiva segrega

o amarelecer dos dias.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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«Sois érotique» - Les Charlots

Disco single em vinil de 1972 com uma canção que aborda, de forma humorística, a "moda" do erotismo em França nos anos 60 e, em particular, a canção «je t´aime moi non plus» de Serge Gainsbourg.
Estava a fazer falta na minha colecção... mas já não faz.






A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

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Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

Postalinho das Autárquicas 2017 - 4

"Qualquer dia a Madalena chateia-se! PSD em 2013, PS em 2017... já não há casamentos para a vida."
Tesourinhos das Autárquicas 2017


28 julho 2017

«Petrina sanguilícia» - Jorge de Sena


Petrina, sanguilícia, de soluço
promessa rubra conijato ardente,
tibrada vibra se de tacto ilente
andia andiada estrangulardo cusso.

Que toques de fremores e de artibruço
ou de retorna em gânvias daltimente,
no junto e no despaço do nigrente
encarapelo rebabado esfruso.

Veloz de velocino se esgarando
em trávias roucas de que dançam bolas,
se tudo a fim se cói de contrapara.

No quiaras se de escuro é torvo imando
os de suprácia garinhantes colas,
e molibamba atrímula se esvara.

Jorge de Sena, Visão Perpétua

Postalinho do pastelinho

"São Rosas, olha o belo do croissant!"
Isabel V.


#charmedetrolha - Ruim

A minha colega tem um pacote cheio de biscoitos destes.
"Vou comer-te o "ésse"! - disse eu.
Ela riu-se. Vou sacar.




Ruim
no facebook

27 julho 2017

Ménage à Tetris


Ménage à Tetris from VANDAL.SYDNEY on Vimeo.

Luís Gaspar lê «Bom dia, meu amor» de Joaquim Pessoa

Acordo-me. Acordo-te. Sorrio.
E sobre a tua pele que a minha adora,
navega o meu desejo, esse navio
que sempre parte e nunca vai embora.
E como um animal uivando o cio
de um milénio, de um mês ou uma hora,
não sei se morro ou vivo, ou choro ou rio,
só sei que a eternidade é o agora.
E calam-se as palavras, uma a uma,
feitas de sal, saliva, dor e espuma,
com a exacta dosagem da alegria.
Bom dia, meu amor! O teu sorriso
é tudo o que me falta, o que eu preciso
para acender a luz de cada dia.

(Joaquim Pessoa, in “Os dias não andam satisfeitos”,Edições Esgotadas, Março 2017)

Joaquim Pessoa
Joaquim Maria Pessoa (Barreiro, 22 de fevereiro de 1948), conhecido por Joaquim Pessoa, é um poeta, artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica portuguesa.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Sono de Outono

Estatueta de bronze de mulher deitada sobre uma folha de carvalho, fabricado por Heredities, com a sigla H num escudo e RC (de R. Chadwick, o autor), com base solta em madeira.
Um sossego... na minha colecção.




















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«Viciados em sexo» - Adão Iturrusgarai


26 julho 2017

«A rapariga folha»


La Fille Feuille from Paul von Borax on Vimeo.

Postalinho da Islândia

"A cada instante pode aparecer algo que nos surpreende... como esta estranha paisagem de eldhraun, traduzida como fogo de lava, provocada por um grande fluxo de lava que ocorreu em 1783 e que levou o governo dinamarquês (que na altura governava a Ilha), a considerar o país inabitável!"
Daisy Moreirinhas



Dar o cu a quem?


25 julho 2017

Gaiteiros de Lisboa - «Roncos do Diabo»

Esta letra está um espectáculo. Mereceu o tempo que gastei a transcrevê-la, já que não a encontro disponível por aí.
Valeu a pena ter pedido uma ajuda especial para tentar transcrever o que eles cantam em latim. Obrigada, Maria Ana Benoliel: "Achei curioso o desafio e cá fica: o que eles dizem é uma variante disto (pelo que eu entendo cortam a parte entre [ ]) «Indulgentiam, absolutionem, et remissionem peccatorum nostrorum tribuat nobis [omnipotens et misericors] Dominus»".
Em 9/1/2019, o Carlos Guerreiro, autor da letra, corrigiu alguns versos e esclareceu o «latinório»: "São Rosas, olá. O meu nome é Carlos Guerreiro, sou o autor deste tema, e desde já agradeço os elogios. Admiro o esforço da transcrição, embora haja pequenos pormenores que te escaparam: na primeira quadra, em vez de "Por anónima a função", deve ser "O Demo anima a função"; na sétima quadra, primeiro verso deve ser "Guinchava como um leitão"; na 12ª quadra "O Gaiteiro as reunia". De resto está tudo bem. A parte em latim, extraí de uma missa gregoriana e está mal dito de propósito para ter um ar mais pagão. Eu não sei latim mas é mais ou menos: Indulgencia, Absolvicionem et remissionem, pecatorum tribut ab dominum. Uma vez mais, obrigado."
E temos então a letra completa:

Roncos do Diabo

Com três paus faz-se um bordão
Com mais um faz-se um ponteiro
O Demo anima a função
Encarnado num gaiteirooooo

O Diabo já é velho
Mas é grande folião
Na festa mete o bedelho
P'ra animar a bailação

P'ra aquecer o bailarico
Abre a torneira ao tonel
O cura dá-lhe um fanico
Lá se vai o hidromel

Essa bebida dos anjos
Que agrada tanto ao demónio
Já tentou S. Cipriano
S. João e Santo Antóniooooo

Santo António milagreiro
Fez um pacto com o demónio
O Diabo era gaiteiro
E o santo tocava harmónio

S. João tocava caixa
Com dois paus de marmeleiro
Mas o delírio das moças
Era a gaita do gaiteiro

Guinchava como um leitão
Quando se lhe puxa o rabo
Pela copa do bordão
Jorravam roncos do Diabooooo

Era a gaita do demónio
Que soava endiabrada
Afinava com o harmónio
Mas não estava homologada

Estava fora das medidas
Saía da convenção
Tinha veias no ponteiro
E dois papos no bordão

Criação de Belzebu
Diabólica magia
Nas voltas da contradança
Quem dançava enlouqueciaaaaa

E nas voltas da loucura
As almas em desatino
Saltavam de corpo em corpo
Errando de seu destino

O gaiteiro as reunia
Como se junta um rebanho
Fê-las descer ao inferno
No fogo tomaram banho

E já os corpos em brasa
Iam fazendo das suas
As vestes esfarrapadas
Mostravam as carnes nuaaaaas

Indulgencia, absolvicionem et remissionem pecatorum tribut ab dominum

Com três paus faz-se um bordão
Com mais um faz-se um ponteiro
Por anónima a função
Encarnado num gaiteirooooo

As fêmeas eram lascivas
Ondulantes de paixão
Corroídas p'lo desejo
Contorciam-se no chão

No terreiro da função
Os corpos se confundiam
Seguidores de Belzebu
Das almas santas se serviam

Foram pela noite fora
Perdidos no bacanal
Ao som desta banda louca
Até ao Juízo Finaaaaal

Indulgencia, absolvicionem et remissionem pecatorum tribut ab dominum

«Arribas» - Susana Duarte

(...)


fosses próximo da lava, e seriam de fogo, as tuas palavras. mas elas são do vento que ondula os oceanos, e flui, invisível, como invisíveis são as memórias, e, do vento, são as palavras. as tuas.


no vento das palavras, morrem arribas: encostas do ventre. fósseis, e nuas.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Facebook

(excerto do poema "Arribas", do livro "Pangeia", de Susana Duarte, a publicar (?!) pela Alphabetum Editora)

Isso, disfarça...


Finge-te amante enquanto recebes, distante, os beijos dados com promessas de paixão que retribuis por obrigação sem esconderes a repugnância.

Sharkinho
@sharkinho no Twitter

«Aux iris» (aos lírios) - Ito Ittosan

Desenho original em lápis de cor Caran D´Ache, pastéis aquareláveis (não aquarelados) e tinta sobre papel colorido Éléphant, assinado no verso pelo autor. O título joga com o nome da deusa Osíris.
Belíssima arte erótica... na minha colecção.








Comentário do A. Pimpão e a minha resposta:

A. Pimpão - É bíblico: "Olhai os lírios do campo que não fiam nem tecem e nem Salomão com todo o seu esplendor se despiu como um deles"

São Rosas (oui, c'est moi) - Lá tive que ir estudar. Isso é do Sermão da Montanha, relatado nos evangelhos de Mateus (Mateus 6:28-30) e Lucas.
Mas o Cântico dos Cânticos (uma das minhas leituras preferidas e que, obviamente, faz parte da minha colecção) tem várias passagens em que se invocam os lírios. Por exemplo:

Ela:
Eu sou o narciso de Saron,
o lírio dos vales.
Ele:
Sim, como o lírio entre espinhos
é, entre as jovens, a minha amada.
(...)
Ela:
O meu amado é todo meu, e eu sou dele.
Ele é um pastor entre lírios.
(...)
Ele:
Teus seios são como duas crias,
gémeos de gazela, pastando entre lírios.
(...)
Ela:
Seus lábios são como lírios,
a destilar um fluido de mirra.
(...)
Ela:
O meu amado desceu ao seu jardim,
aos canteiros de bálsamos,
para apascentar nos vergéis e colher lírios.
Eu sou do meu amado, e o meu amado é todo meu.
Ele é um pastor entre lírios.
(...)
Ele:
Teu ventre é um monte de trigo, cercado de lírios.


A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
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24 julho 2017

Veneziana ou Espanholada?


«Sobre os meus primeiros 3 meses!» - Cláudia de Marchi

Eu não poderia deixar de, na data de hoje, escrever sobre o que aprendi nestes dias.
E é por conta do conteúdo que este texto segue remetido ao link “Social” bem como ao de “Tutoriais e Crônicas”. Creio que exista, nas minhas experiências, algo de socialmente “útil”.
Enfim, faz 3 meses que passei a integrar uma classe minoritária e vitima de constante preconceito. Vitima da sociedade hipócrita, obviamente, onde se vender para casar com marido rico é interessante, mas ser dona do seu nariz, do seu corpo, do seu gozo, do seu sexo e de seu dinheiro assumindo para o mundo que eu gosto demais de sexo e que unir o agradável ao útil foi uma opção madura.
Uma opção bem pensada e, portanto, sensata. Eu penso assim, a pessoa que mais me ama no mundo e a única que me importa (minha mãe), concorda, portanto eu afirmo: conhecendo-me bem, sabendo do meu fogo e do quanto eu gosto de homem e de contato imediato (as pessoas desconhecidas sempre são muitíssimo interessantes!) está foi, sim, a minha melhor e mais corajosa decisão.
Posso escrever, estudar, ler, interagir quando quero e com quem desejo e, ainda, ganho para ter e dar prazer! Não vejo, realmente, nada de criticável ou feio nisso. Feio mesmo é o preconceito, é a atitude dos paladinos da moral e dos bons costumes conservadores que atiram pedra no telhado alheio. Miseráveis! Esta palavra lhes define.
Aprendi nestes meses que a postura que escolhi desde o primeiro dia foi a melhor que eu poderia ter. Atraio clientes agradáveis, preocupados com o meu prazer, educados, cheirosos e gentis. Obviamente, não sou procurada apenas por estes. Existem os tolos que são incapazes de achar uma foto num site, os coitados pechincheiros, os ricos sem cultura que não sabem conjugar direito verbo com sujeito, os “manés” cheios de lábia que acham que vão agradar, existem os ignorantes, mas estes todos apenas me abordam e são, na “sequencia”, rechaçados e bloqueados, ou seja, não são e jamais serão atendidos por mim.
Não atendo cliente que liga após a meia noite e antes das 07h30min da manhã. Sou acompanhante e não medico plantonista. Exijo respeito e só dialogo com quem age com respeito e educação para comigo.
Pelo fato de eu não atender ligações de quem não conheço após a meia noite (posso atender tal horário apenas e tão somente se o cliente tiver marcado anteriormente comigo e tiver uma boa razão para poder me ver apenas em tal horário) nunca tive nenhuma experiência com homens alcoolizados ou drogados. Menos ainda, violentos!
Ademais, atendo à noite apenas em hotéis, o que me dá segurança. Não vou a motéis com clientes estranhos à noite, apenas me sujeito a ir se o cliente já é meu conhecido e “fiel”.
Não vou a clubes de swing, não procuro clientes em bares ou em boates. Economizo-me ao máximo da exposição desnecessária e, nem sempre, lucrativa. Exposição está que, não raras vezes, impõe riscos: homens bêbados, alterados, mal intencionados, etc..
É triste dizer o que lhes direi, mas é verdade: a gente ganha o respeito que se dá. Ninguém precisaria impor aos outros o que é seu por direito, mas na sociedade machista e, sobretudo, no “universo” de preconceito e até de depravações que circunda o sexo enquanto profissão, nada mais franco do que admitir: a gente ainda precisa lutar, aberta ou silenciosamente, para obter o que é um direito inerente a todo ser humano pelo simples fato de existir, a respeitabilidade, o trato educado e gentil.
Eu vou além, exijo o fino trato. E, assim, posso lhes dizer que, conclui em três meses, que eu nasci para ser acompanhante. Eu nasci para fazer sexo e receber por isso. Eu nasci para gozar e fazer gozar sem me preocupar com amor, ligação no dia seguinte, futuro, comodismo, cotidiano e etc..
Na medida em que os relacionamentos evoluem o sexo amorna, a amizade domina e o empenho para dar prazer ao outro diminui. É a rotina, é o cansaço, é o sentir-se amado e achar que isso é tudo, que é o suprassumo do relacionamento. Eu não preciso me sentir amada, eu me amo e me basto, eu preciso mesmo é me sentir cuidada. Eu gosto mesmo é de ver o outro tentando me dar prazer. Eu gosto mesmo é de ver a excitação do homem ao meu olhar, ao enxergar eu abocanhando seu pênis e corpo com vontade e desejo. Eu gosto mesmo é de sentir-me desejada na cama! Claro, adoro ser intelectualmente admirada, mas, para isso, não preciso de “trabalho” algum. Cultura e inteligência eu tenho, simples, é um fato!
Enquanto inúmeras mulheres românticas transam esperando romance, eu faço sexo por prazer e recebo ao término. E isso não impede que surja uma relação de amizade, bom dialogo e até admiração mutua. Enquanto inúmeras moças fazem sexo por prazer com quem desejam sem esperar afeto ou futuro, eu faço o mesmo, mas ganho por isso! Ou seja, não faço nada de anormal, apenas agreguei um “plus” ao que sempre gostei!
A minha profissão não colide com minha postura feminista. A minha profissão se coaduna com ela, porque eu sou livre. Livre para ter decidido por este caminho, livre para usar o meu dinheiro com quem amo e com aquilo que amo, livre para me amar, livre para pensar como penso sem ter que dar satisfação a ninguém.
Livre de alma, pois não preciso seguir a cartilha da sociedade conservadora e hipócrita para ser feliz! Não preciso parir, porque sou livre para fazer o que desejo com meu ventre. E eu decidi que ele não irá gerar vida alguma, jamais. Livre para não precisar de um marido pra me sentir completa.
Livre para não precisar de um namorado no dia dos namorados. Livre para sambar na cara da sociedade e dizer: eu não tenho nada a esconder de ninguém, eu não digo que “amo”, eu não sou infiel, eu não iludo, e você? Eu não faço ao outro o que ele não deseja para si, e você?

Simone Steffani - acompanhante de alto luxo!

Ainda hoje devem estar a cavar!

Crica para veres toda a história
Educação sexual para piratas


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23 julho 2017

«Desafio Efeito Dominó» - Puro êxtase

Com Sara Rosa

«um coala e uma árvore» - bagaço amarelo

Éramos miúdos, umas vezes mais do que outras. Ela tinha uma saia verde que roubara à irmã mais velha e lhe ficava mal, mas que eu gostava. Eu quase que tinha um bigode onde o que tinha realmente eram borbulhas e espinhas. Se as pernas dela pareciam palitos naquela saia tão grande, a minha cara parecia a superfície da lua, de tanta cratera aberta. E foi assim que nos apaixonámos, num Domingo em que chovia a cântaros e por uma vez nos molhámos juntos.
Com excepção das andorinhas, que faziam os ninhos nos beirais dos telhados e por isso estavam protegidas, eu não sabia para onde iam os pássaros quando chovia na Primavera. Perguntei-lhe se sabia e ela olhou para as árvores do parque à procura da resposta. Não vejo nenhum, respondeu. Eu, na verdade, também não via. Depois trovejou e ela agarrou-me o braço com força. Foi a primeira vez que fui cavaleiro andante. E a última também, creio.
Estava à espera que nunca mais parasse de chover nem de trovejar, que nunca mais saíssemos dali, com ela a agarrar-me o braço e eu à procura de pássaros na copa da maior árvore que a minha vista alcançava. Mas saímos. Ela largou-me o braço e correu para debaixo da paragem de autocarro. Eu corri atrás. Foi a primeira vez que tive ciúmes duma paragem de autocarro. E a última também, creio.
Estávamos encharcados. A saia dela pontilhada pela lama e a minha cara por um Amor serôdio. Devia ter aprendido nesse dia que não se corre atrás de uma mulher que nos larga o braço e se afasta sem dizer nada, mas não aprendi. Talvez por ela ter dito que estava frio e se ter tornado a agarrar ao meu corpo, como se fosse um coala numa árvore.
A chuva finalmente parou, não sei bem quanto tempo depois. Talvez duas horas, talvez dois beijos. Sei lá. Às vezes tenho a sensação que ainda lá estamos, ela feita marsupial e eu feito uma árvore erecta na Austrália.
Foi isso que nos sobrou da vida.
Somos adultos, umas vezes menos do que outras. Ela tem uma saia preta que diz que é de Inverno e eu tenho a barba por fazer. Para além disso temos trinta anos desde esse dia e muitas histórias que gostávamos de conseguir contar um ao outro, mas não conseguimos. É incrível como as pessoas crescem e envelhecem, mas não perdem o olhar da juventude. É preto, o olhar dela. Tão preto que me anoitece. É ele que me sorri. Não os lábios.
Rasga o pacote de açúcar vermelho num dos cantos e põe apenas metade num galão fumegante. Parece neve a ser engolida por um vulcão. Tudo o que ela faz provoca alterações no mundo. Ora anoitece, ora neva num vulcão. Dou o primeiro gole na minha cerveja e pergunto-lhe se se lembra da molha que apanhámos no parque. Os lábios também lhe sorriem agora. Que bom.
Se ela tornasse a ser coala, eu tornava a ser árvore.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Calendário da fruta


Mas olha que as farras podem ter muitas vulvas...


“Muita farra, pouca vulva”. Pelo menos foi assim que aprendi.

Patife
@FF_Patife no Twitter

22 julho 2017

O Animador

L'Animateur - The Animator - Der Trickzeichner
de Nick Hilligoss

«lavrarás o peito onde te florescem as mãos» - Susana Duarte

lavrarás o peito onde te florescem as mãos
e se dissecam passados reencontrados.

sob as mãos, lavrarás as novas auroras,
e os dias da carne que se inscreve no outro,
e no outro se adensa, refletindo o brilho toado
das húmidas gotas de orvalho que, antes,
nos caíram do rosto. lavrarás a terra
semeada nos seios de todas as madrugadas,
e os cabelos onde perdes as mãos e nelas
te reencontras.

podias escrever sobre o amor, antes de o reencontrares.

agora, escreves sobre os seios onde aprofundas
o corpo, na procura da eternidade possível
das manhãs.

na noite, procuras o encontro dos lábios.
é na minha boca, que lavras futuros.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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Casal malandreco

Cinzeiro em metal com um casal em relevo. No verso do cinzeiro, o homem está a levantar a saia da mulher e a apalpar-lhe o rabo.
A face principal está bastante deteriorada, por muito uso como cinzeiro.
Peça idêntica a outras, da sexão «mecanismos e segredos» da minha colecção.






A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

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Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

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