Pisei, olhando para a distância, a orla de areia que o mar lacrimejava.
Senti os pés húmidos e escutei o borbulhar suave da breve espuma que escorria entre a multidão de seres minúsculos que habitam o universo infindo das partículas de areia.
Aqui e ali, podia adivinhá-los a esconderem-se rapidamente e para sempre em segurança até que viesse a próxima vaga.
A Lua estendia o seu eterno mar de prata com o que inundava as praias das almas que sabem pertencer-lhe.
Eu sei que há pessoas que são pertença dela!
Sinto-os meus iguais quando estão junto a mim.
Todo o meu corpo fica presa das ondas que emanam dos seus mares.
Não preciso que digam nada.
Que me olhem, ou que sorriam.
Basta existirem próximo de mim.
Sinto-lhes o bater do coração dentro do meu peito e faz-se me um nó na garganta.
Sim, porque eu sou um ser da Lua...
Achei uma ilha!
A minha ilha fica mesmo ali quando a sua mãe sai parida do mar, subindo aos poucos no céu.
Nunca repararam?
Hão-de ver nos dias em que, já próximo da Lua Cheia, surge do nada rente ao horizonte.
Se olharem com um pouco de atenção verão no colo da mãe, num suave embalo, o perfil das palmeiras e coqueiros, encimando um peito de mulher.
É a minha ilha!
Quis sempre visitá-la. Penetro no mar e nado para ela até ficar sem forças.
Deixo afogar-me.
Já estive quase a chegar lá e guardo na minha boca o sabor das águas que banham os seus lábios...
Acordo sempre com os pés a pisar a areia e dou com a Lua já alta.
É sempre ela que me salva e me põe de volta neste areal imenso. A perder de vista.
Este areal sem fim antes não existia.
Era uma extensão de rochas onde eu era uma fortaleza inabalável.
Depois....
Depois descobri a ilha rente à lua, às portas do horizonte, e chorei a distância em mares e oceanos.
Agora tudo secou e dos meus olhos só saem grãos de saudades de uma ilha onde nunca estive.
Sentei-me um pouco a pensar em tudo e chorei um castelo de areia.
Uma onda veio e puxou-a para dentro de si.
Para o mar das lágrimas para onde escorrem os castelos das saudades...
Charlie
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