14 outubro 2006

Nelo na inspecção - por Bartolomeu

"A propósito desta historinha «infantil» lembrei-me do dia em que o Nelito foi chamado à inspecção.
Estava o rapagão com os seus 18 aninhos quando apareceu afixado à porta da Junta de Freguesia de Virògalho de Cima, onde o Nelo nasceu, o edital que o mandava ao Centro de Recrutamento de Coimbra, provar que era homem (ou não) apto para todos os serviços (boca, cu e punheta).
Foi uma festa no seio familiar do Nelito. Pessoas humildes mas que já tinham percebido as tendências desportivas do mancebo para a prática do salto à vara... desculpem, quero dizer, do salto para a vara. Naquele dia surgiu uma réstia de luz, que criou a ilusão naquela gente de que o Nelo afinal pudesse ser macho, se os homens da cidade o chamavam...
Chegado o ansiado dia, lá foi o nosso homem de fatinho novo, gravata e sapatinho de verniz, porque os progenitores quiseram que o rapaz fosse apresentável.
Mal entrou na carreira, o nosso Nelo deu imediatamente asas aos seus instintos e tirou de dentro do casaco uma pochete feita com a pele de uma cabra que tinha sido degolada 2 meses antes para sustento da famelga.
De dentro da pochete retirou o seu espelhinho redondo, o baton e o bruche (pensaram que ia escrever broche?) e imediatamente retocou o seu visual. Lábios vermelho vivo e face rosada, queria apresentar-se sedutor junto à multidão de mancebos que sonhava ir conhecer.
Chegado ao quartel, perante um mar de rapazes, todos alegres, todos comestíveis, Nelo sentiu como se o chão lhe fugisse debaixo dos pés. Uma tontura abalou-lhe os sentidos, um tremor incontrolável fez-lhe fraquejar as pernas, tudo rodou à sua volta e, quando o seu corpo já se projectava na direcção do solo, sentiu que uns braços fortes o amparavam. Semi-descerrou os olhos e, ainda envolto numa névoa, vislumbrou um rosto másculo que lhe sorria enquanto lhe perguntava:
- Estás a sentir-te melhor?
Nelo pensou que tinha morrido e estava no céu, repousando nos braços de um anjo. Desejou que aquele momento se projectasse pela eternidade e que aquele rosto lindo, aqueles olhos doces, não deixassem nunca de o olhar.
Lentamente. o anjo protector colocou-o na vertical, ajudou-o a recompor-se e, quando recobrou as forças necessárias para falar, uma única frase lhe saiu dos lábios já sedentos de um beijo angelical:
- Como te chamas?
O anjo voltou a sorrir e respondeu:
-
Para ti, meu amor, sou o Lalito...

Bartolomeu"

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