24 julho 2011

«O livro» - por Rui Felício


Vestiu o seu melhor vestido que deixava adivinhar todos os contornos do seu corpo, perfumou-se, pegou no embrulho de papel de seda com um laço dourado e dirigiu-se a casa do Filipe. Tinham combinado jantar em casa dele só os dois. Era o dia do seu aniversário...
Tocou a campainha e quando o Filipe abriu, beijou-o , deu-lhe os parabéns e entregou-lhe o embrulho, dizendo que não conhecia o autor mas que era um romance que a empregada da livraria lhe tinha recomendado.
O Filipe agradeceu a prenda, rasgou o papel do embrulho e, atónito, só ao fim de uns minutos conseguiu articular palavras:
- Onde conseguiste este romance? Há meses que tento encontrá-lo. Já corri dezenas de livrarias e está sempre esgotado. Obrigado!
Ela via a felicidade que lhe transparecia do olhar, da boca entreaberta, dos gestos, da maneira sensual como os seus dedos acariciavam a capa e folheavam sôfregas e ao acaso as páginas.
Como ela desejava naquele momento ser tocada pelas suas mãos da mesma forma que ele acariciava embevecido aquele livro!
Mas o Filipe era um viciado na leitura. Depois de jantarem, sentaram-se no sofá da sala mas ela sentia que a atenção dele estava dedicada exclusivamente àquele livro. Ela sabia que só depois de ter devorado aquelas quatrocentas páginas é que o Filipe lhe dedicaria alguma atenção.
Ficou a observá-lo, paciente, excitando-se em silêncio com os suspiros e os gemidos que por vezes ele deixava escapar a cada virar de folha.
Por volta das quatro da madrugada o Filipe finalmente concluiu a leitura, recostou-se no sofá, estendeu-lhe os braços e ela anichou-se no seu colo.
Despiram-se. Ela sabia que depois da excitação da leitura não podia perder tempo com preliminares. O Filipe estava prestes a atingir o orgasmo.
Ela seria o epílogo daquele livro...

Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações

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