vaivém
Tomamos café. A Sónia pergunta-me como estou. Que estou bem, respondo. A Sónia pergunta-me se ainda estou apaixonado. Faço silêncio com os olhos e ela insiste. E tu, ainda estás apaixonado? Abano a cabeça afirmativamente e sem determinação. Sei que ela não quer saber a resposta, que apenas que eu saiba que ela não está. Então e tu? O Amor foi-se? Ela abana os ombros também afirmativamente.
Fico a pensar na minha pergunta. O Amor foi-se? É a assumpção de que o Amor se vem e se vai como se fosse um passageiro na nossa vida. Na vida de duas pessoas, porque o Amor é sempre isso, a vida de duas pessoas. O meu não se foi, mas também eu tenho medo que um dia destes ele se despeça de mim e saia num apeadeiro qualquer deste tempo que é o meu. Sorrio, talvez nervoso, e digo-lhe que a vida é assim.
Dizemos sempre que a vida é assim quando lhe perdemos o rasto; quando, de facto, nos apercebemos que não sabemos como ela é. Dizendo que ela é assim parece que a estamos a agarrar, mas não estamos. Estamos a escapar-lhe. Sabemos apenas como ela devia ser. Mais nada. E agora sorri a Sónia, talvez nervosa, e abana os ombros, desta vez negativamente. A vida não é assim.
Quando um Amor se vai a vida vai-se com ele. Da mesma forma que quando um Amor se vem a vida vem-se com ele. É assim, no sexo e fora dele, com o alívio de que a vida nunca se vai toda. Vai-se uma parte dela, talvez quase toda, talvez nervosa abanando os ombros esmorecidos. A que resta fica, às vezes, num amigo a quem se pergunta se ainda está apaixonado mesmo que não se queira saber a resposta. Quer-se só dizer que já não se está. E tomar um café.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
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Uma por dia tira a azia