26 março 2012

Padre Paulo Ricardo: "Feminismo, o maior inimigo das mulheres"



Comentário da Libélula Purpurina:
"«Desculpem-me a franqueza» mas eu não tenho tanta paciência para o politicamente correcto. Quem é este tipo para tentar definir o que seja uma mulher se, dentro da sua perspectiva, ele próprio não chega a uma amostra do que seja um «Homem»? Para ser mais sintética, só recorrendo ao vernáculo... Em vez disso, vou citar:
«A cada um que passava dizia o Cristo de pedra: "Em vez de ter morrido numa cruz, por ti, antes tivesse pegado na lança que me abriu o peito, para com ela te rasgar os olhos da cara, para deixar entrar claridade para dentro de ti pelos buracos dos teus olhos rasgados.
Tudo quanto eu te disse ficou escrito e é tudo quanto ainda hoje tenho para te dizer.
Se me fiz crucificar para to dizer porque não te deixas crucificar para saberes como eu to disse?
Não posso, por mais que tente, livrar uma das mãos, pregaram-mas bem, como se prega um crucificado; não posso, por mais que tente, livrar uma das mãos, para te sacudir a cabeça quando vieres ajoelhar-te aqui aos pés da minha cruz.
Se fosse o teu orgulho de joelhos, ainda era o teu orgulho, mas são as tuas pernas dobradas com o peso do ar.
Não tenho uma das mãos livres para te empurrar daqui da minha cruz até ao teu lugar lá em baixo na terra.
LEVANTA-TE, HOMEM! No dia em que tu nasceste, nasceu no mesmo dia um lugar para ti, lá em baixo na terra. Esse lugar é o teu! O teu lugar é a tua fortuna! O teu lugar é a tua glória. Não deixes o teu lugar vazio, nem te deixes p'raí sem lugar.»
Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro
(as maiúsculas são minhas... quem conta um conto...)
... e porque a malta é muito paciente... vou também citar um bocadinho de Fernando Pessoa, na voz do ilustre mestre Caeiro:
«Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.»
De resto... que raio de discurso o daquele senhor de saias... Já nem me lembrava de ouvir coisa tão cretina. Que doença esta, a deste monoteísmo mórbido, que põe os homens a atentar tanto contra a própria vida crendo que a defendem..."

Mensagem recebida do João:
"São Rosas,
Tinha pensado escrever o comentário abaixo no post sobre o feminismo, mas depois pensei para mim que é fútil. Quem quer ir embora, vai, e não faz disso publicidade. Faz publicidade quem espera que insistam "não vás". Não procuro isso. Mas também não me parece bem desaparecer sem uma satisfação, considerando a educação, simpatia e disponibilidade com que sempre fui tratado por vós.
Assim, embora disso não faça publicidade, entendo reproduzir abaixo o que seria o texto do comentário, sendo ele explicativo acerca da razão que me leva a não ter vontade de continuar a ser um membro d'A Fundi São.
Agradeço-te o convite, foi para mim um gosto muito grande poder estar convosco, vou-vos lendo, selectivamente, como sempre.
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É óbvio que escrevo, e penso, coisas que não são inteiramente concordantes com a doutrina da Igreja Católica. A vivência da sexualidade é o aspecto que considero mais difícil viver em concordância com essa doutrina, embora o entenda como limitação pessoal e não como imposição da fé. Dito isto, sou católico. Enquanto católico, é minha prerrogativa não estar onde não estou bem. Não imponho a minha fé, e não posso limitar a liberdade dos outros se exprimirem como entendem, já que não são obrigados a acreditar nas coisas em que eu acredito nem em manter reserva sobre as mesmas coisas acerca das quais eu me reservo. É muito frequente ler neste blog coisas que me agridem como católico. Não pode dizer-se que seja surpresa, porque ao chegar aqui rapidamente se percebe onde se está. Há gente muito divertida, é certo, o sexo é aqui discutido com uma naturalidade interessante, mas ainda assim em alguns momentos há comentários ou conteúdos sobre aspectos de fé em tom jocoso, apologia de "lifestyles" que não aprecio, ou mesmo ridicularização de símbolos ou valores em que acredito. Sois naturalmente livres de o fazer. Tanto quanto eu sou livre de não o fazer. Sem prejuízo para o muito que aqui me diverti, e sem prejuízo para o grato que sou por me terem, um dia, convidado a participar, o facto é que com o passar do tempo me fui questionando sobre se estava aqui bem. E hoje concluo que não estou. Em coerência, faço cessar a minha participação neste espaço. Não era já muita, convenhamos, pelo que a vós nada prejudica. Não excluo visitar o blog aqui e ali, mas não me apetece manter-me colaborador num espaço onde de quando em vez tropeço em insulto ou deliberada gozação com coisas com as quais me identifico. Sim, mesmo escrevendo e pensando o que escrevo e penso. É uma idiossincrasia, sim, mas é a minha idiossincrasia, eu me preocuparei com ela. A vós, tudo de bom, e obrigado pelo que de bom aqui tive.
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Obrigado,
João"

Nós é que te agradecemos, João. Serás sempre bem vindo aqui.
São Rosas