Parecia-me que as mulheres davam muita importância a elas mesmas. Enquanto género, quero eu dizer. Não pessoalmente, que isso era lá com cada uma delas. Passei a minha infância e a minha juventude a ouvir que o que eu precisava era arranjar uma boa mulher. Era assim que eu podia expulsar da minha vida todos os males. Foram sempre mulheres a dizê-lo, nunca homens. A minha avó, que já não está entre nós, a minha mãe, uma das minhas tias e as amigas da minha mãe. Até aquela caladinha, que passava os dias a fazer carapins coloridos, um dia me desejou essa sorte. "Talvez um dia encontre uma boa mulher", disse. A minha mãe concordou abanando afirmativamente a cabeça.
Não percebia porque é que os homens, que eram supostamente quem precisava delas, nunca me aconselhavam o mesmo. Nem o meu pai, nem o meu avô, nem o meu tio, nem os amigos do meu pai. Nunca nenhum me disse que o que eu precisava era duma boa mulher. Um dos meus tios perguntava-me, às vezes, como é que eu estava de gajas, mas eu abanava sempre os ombros para lhe demonstrar que o tema nem sequer me interessava. Mais nada, nunca me deu nenhum conselho.
Precisei de crescer para perceber o que era uma boa mulher para as gerações anteriores à minha. Era uma mulher que soubesse cozinhar, lavar a roupa, passar a ferro e limpar/arrumar a casa. Já tinha desconfiado, na verdade, mas só com a idade é que tirei tudo a limpo. O Amor era uma mera formalidade entre as famílias portuguesas, para que cada homem pudesse arranjar uma boa mulher, ou seja, era pobre. Não o chegava a ser.
Dali, dum tempo que não era o meu, era o que vinha. Um país onde o Amor era todos os dias atirado para a valeta em nome da união entre um homem qualquer e uma boa mulher. E antes de qualquer outra formação política, passou a ser essa a minha marca Salazar.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Sem comentários:
Enviar um comentário
Uma por dia tira a azia