"Confesso aqui publicamente e como um acto expiatório: «Sim, já me masturbei... e várias vezes!».
Esta confissão de um crime abjecto reforçado pela reincidência ter-me-ia custado a vida em Espanha no tempo da Inquisição, ter-me-ia valido a prisão no século XVIII, umas bastonadas e sevícias corporais no século XIX e o desprezo e uma dura reprovação ainda há bem pouco tempo. (...)
Com a publicação em 1758 do seu tratado De l'onanisme ou Des maladies produites par la masturbation, Tissot inaugura duzentos anos de obscurantismo ao declarar a repressão sexual, a repressão de pulsões que mal começavam a manifestar-se, a culpabilização do sexo no que ele tem de mais «inventivo», de mais natural, de mais necessário: a masturbação. Com o correr do tempo, o seu discurso passou para os hábitos e ainda hoje impregna a linguagem e a consciência populares. Continuando vivo no cerne das nossas dúvidas, ele alimenta a culpabilidade do homem, da mulher ou dos casais, que acreditam sinceramente, no seu foro íntimo, que o que é bom faz mal.
Mesmo sendo o acto mais frequente da nossa sexualidade, a masturbação continua a ser o tabu mais íntimo da moral sexual do ocidente. Mudaram os costumes, exibe-se o sexo na televisão, pode falar-se de violação, de incesto, de transsexualidade, pois isso não nos diz directamente respeito: eu nunca violei, nunca serei incestuoso, enquanto que... (...)"
É assim que inicia o livro de cabeceira ideal para quem não se quer sentir sozinho no mundo: «Elogio da masturbação» de Philippe Brenot (publicado em Portugal pela Campo das Letras).
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