06 outubro 2006

Bartolomeu e São zinha

"Uma noite destas acordei inundado em suor. Tive de sair da cama, tomar um duche, vestir novo pijama de flanela e trocar os lençóis.
Quando me voltei a deitar, fiquei um pouco a tentar perceber o motivo de toda aquela transpiração. Fiz um esforço de concentração, tentando lembrar-me o que estaria a sonhar que me tivesse provocado aquela inundação. Certamente um pesadelo, pensei.
De repente, uma imagem aflorou à minha memória: efectivamente tratou-se de um sonho, mas não fora um sonho mau. Pelo contrário.
Naquele sonho eu encontrava-me num belo veleiro, percorrendo despreocupadamente o Mar Mediterrâneo, ilhas Gregas, águas translúcidas, agradavelmente mornas e, por companhia, nem imaginam quem...
Certo! A minha companhia era precisamente a exuberante, a fantástica, a inigualável São zinha. Esbelta, esplendorosa, reclinada no pavilhão da proa, recebendo no corpo deliciosamente desnudo os raios quentes de um sol imenso, só nosso, que fazia ressaltar do seu corpo um brilho encandeador.
Eu, ao leme, conduzia o nosso barco que sulcava um mar manso, impelido por uma brisa suave, escoltado por um grupo de golfinhos que, ondulando os dorsos ao lume d'água, como que prestavam honras à beleza helénica de São zinha. A meio da manhã, São zinha mostrou desejos de se banhar, de ceder ao apelo daquele mar suave, desejoso de sentir o sabor da sua pele, de a acariciar e de a fazer flutuar graciosamente.
Baixei as velas e, quando o barco parou, São zinha saltou da amurada, descrevendo por breves instantes um arco gracioso, penetrando imediatamente as águas calmas. Quando reapareceu, rodeada pelos adoradores golfinhos, transmitiu-me a imagem de uma ninfa que visita o marinheiro, trazendo-lhe um melodioso e encantador cântico de sereia.
Depois de algumas braçadas e piruetas aquáticas, São zinha voltou a mergulhar. Segui a sua silhueta com o olhar, até desaparecer no fundo imenso. Nesse momento, o meu coração ficou em sobressalto e, num impulso instintivo, saltei para o preciso local onde momentos antes São zinha havia desaparecido. Nadei o mais rápido que os meus músculos conseguiram e em breve alcancei São zinha. Na difusa visão do fundo oceânico, percebi que São zinha não se encontrava só, apesar de não identificar com precisão o quê ou quem a estava segurando pela cintura e levando sempre na direcção do fundo. Nadei ainda mais rapidamente e alcancei São zinha e o seu raptor. Estranhamente, tratava-se de um ser que se julgava já extinto dos mares: um Tritão (Qual trintão, caraças... Tritão, Tritão, uma divindade dos mares, dasss)
Num esforço quase sobre humano resgatei São zinha do abraço do meio Homem, meio peixe, restituindo-lhe a liberdade de voltar à superfície, enquanto se desenrolava uma luta titânica entre o homem e o deus. Como estou aqui a contar a história, já estão mesmo a perceber que rebentei com o canastro do Tritão.
Tritã e Nereide
Agora ficaram cheios de curiosidade para saber como é que a São zinha me recebeu quando cheguei a bordo, não é verdade?
Pois... perguntem à São, vá, perguntem...

Bartolomeu"

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