18 fevereiro 2007

Haiku


Tenho saudades de ti, a quem nunca chamei meu amor, por julgar o termo vulgar, piroso, pimba e todos os adjectivos depreciativos que conheço. E também porque sempre duvidei que uma única palavra pudesse traduzir-te e nem sequer me apetecia usar pronomes possessivos. Apenas te dediquei uns versinhos:

Amar é libertar todas as grilhetas
escancarar todas as janelas para poderes voar
na volúpia de saber que ficas por quereres ficar

Claro que não é dispiciendo o facto de te ajoelhares, alheio dos ruídos do mundo enquanto as tuas orelhas encostavam nas minhas pernas e as papilas gustativas partiam em busca da esmeralda perdida, que rapidamente encontravas e burilavas de saliva como ninguém o fez, nem antes nem depois de ti.

Nem o mimo do ânimo que imprimias no cigarro da praxe enrolado nas histórias das lutas liberais pela praia do Mindelo, na Cova da Piedade e no desembarque no Cais do Sodré que me catapultavam para a pele da estudante de História do "Declínio do Império Americano" que fazia massagem tailandesa ao seu professor.

Mas não te preocupes que o teu fantasma tem sido de uma inesgotável competência a encher-me os dias e as noites, como se adivinhasse todos os meus desejos.

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