Olá, sou o Alfredo. É hoje que sucede a minha apresentação neste blog. Como tal, compete-me dar a conhecer a minha pessoa. Penso que não seja tão interessante dar-lhes a conhecer o meu perfil físico, quanto o da minha personalidade. É sempre um tanto ingrato definir-nos naquilo que respeita à nossa forma de ser, contudo, uma pequena retrospectiva de como tem sido o meu percurso de vida, será suficiente para que possais desenhar a traços largos as minhas definições pessoais e de carácter.
Sou originário de uma aldeia transmontana, daquelas absolutamente refundidas nos escafundéus de um vale, onde no inverno as pedras estalavam pela acção do gelo e as chuvadas que caíam ininterruptamente durante semanas a fio, alagavam os terrenos e faziam transbordar os rios.
Devido ao isolamento da aldeia, não frequentei a escola, pelo que só mais tarde, já adulto e para conseguir um emprego, frequentei uma escola para adultos, onde obtive um diploma da 3ª classe que me foi concedido graciosamente pela directora da escola. Uma belíssima senhora que dava pelo nome de Esmeralda e cujo esposo se tinha reformado antecipadamente das funções maritais. Mais tarde voltarei a falar desta senhora, a quem devo toda a minha literacia (antónimo de iliteracia). Fui criado juntamente com 3 irmãs, uma mais nova dois anos e as outras duas mais velhas, 1 porco que todos os anos era substituído no chiqueiro por um bácoro, uma burra, uma vaca, cabras e galinhas avulso, todos harmoniosamente na dependência rasa da exígua casa onde nasci.
Naquele tempo as dificuldades eram de toda a ordem, da alimentação ao agasalho, da educação ao lazer, tudo era conquistado com muito esforço quer dos mais velhos como das crianças.
Porém a vida decorria placidamente e se o inverno era rigoroso, o calor de verão era impiedoso.
Com a idade dos 18 anos, chegou também o dia da inspecção. Em seguida, apareceram editais à porta da junta de freguesia comunicando a minha incorporação num quartel de Lisboa.
O choro rompeu em minha casa, como as chuvas de Março pela encosta da montanha. Perante tanta aflição, não entendi se deveria juntar-me ao desespero familiar, ou se manter-me alegre por ir finalmente saber se para além daqueles montes existiria mais mundo.
No dia marcado, com a sacola do farnel já pronta e a guia de marcha no bolso do casaco, despedi-me de todos e galguei caminho acima até à estrada de macadame que me conduziu à vila onde tomei a camionete que me deixou direitinho à porta da estação dos caminhos de ferro, rumo a Lisboa.
Entretanto decorreram banalidades várias na minha vida, até ao dia em que aportei a este blog.
Aqui encontrei a essência humana definida sem tabus, numa confraria constituída por gente de olhar nu, divorciadas da patetice do preconceito, tudo magnificamente orquestrado pela batuta da clarividente donadisto. Não mais me afastei. Li e reli aquilo que tantos e tão bem escrevem, li e reli aquilo que tantos e tão bem comentam, revejo em todos e em cada um os personagens típicos da minha aldeia. Imagino-os, imagino-as a darem as fodas que aqui descrevem e mesmo que as não dêem, imagino que as possam querer dar, ou que já as tenham dado. Tal como a ti, Marequinhas lá da aldeia que contava ao serão no terreiro as galhardas cambalhotas que não perdeu à noite na eira pela altura da desfolhada. Ou o ti Zé da venda, que nos bailaricos nas aldeias vizinhas, quando ainda era novo, catrapiscava as moçoilas alheias e raras eram as vezes que não o corriam de lá à paulada, ou que tinha de bater com os calcanhares no cu até chegar à nossa aldeia.
Bom, meus amigos, por hoje não os maço mais. Ficam assim sabendo que o Alfredo é um completo campónio, por isso não esperem demasiadamente dos seus escritos.
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Valente Alfredo que levou logo à primeira com a excomunhão da diáCona:
"Vós que do Demo
sois mais não que vis sombras
Sabede que eu, vosso Mestre não temo
Ainda mais me fortalece o Sagrado empenho
Com que brando a cruz entre vossas alfombras
Sois apenas, tão somente
almas perdidas, de Deus desviadas
para os infernos que são, de fogos tão quentes
que jamais houve alma que antes fosse gente
onde restasse outra couza que cinzas queimadas
E é esse o destino
de quem este antro procura
Que combato, dura luta, da vida o meu hino
Darei sem descanso, os passos neste caminho
O Senhor está comigo, é a minha armadura.
E cheia de fé
Baterei na carapaça
Nas escamas co'a espada, minha mão é de Deus
vencerei Belzebús, Mafarricos e Dragões
Espalharei a Glória por este antro de desgraça
É este o meu lema
Ser do Senhor, braço direito
Não temo, São Rosas, Falcões e outros palermas
Nem Alfredos ou os Nelos ( pobre dona Efigénia)
Meu lugar é ao lado de Deus onde me sento.
Despeço-me assim
Na força que de mim transborda
Lutarei sem descanso, até que este antro tenha fim
- "Irmãos e irmãs, rezai e vinde a mim" -
Fugi antes do final em chamas desta choldra."
O Alfredo tem direito de resposta... e usa-o:
"Ora aqui está meus senhores
uma alma generosa e pura
A quem só devemos favores
Que se pagam de pixa dura
~ O ~
Enquanto tu te despedes
E o final em chamas não chega
Volta aqui, a casa destes hóspedes
De quem nunca receberás uma nega.
Essa força que de ti transborda
Precisa de ser acalmada
Isso não é bem força, é esporra
Que trazes acumulada.
Vem Diácona de mansinho
Vem abrir as tuas pernas
Vamos comer-te o cuzinho
E abrandar as tuas penas.
E então vais ver abrir-se
Esse céu de pesadas nuvens
Quando te sentires a vires-te
E a entrares nos aléns.
Não temas doce Diácona
Entrega-nos os pergaminhos
Nós comer-te-emos a cona
E descobrirás novos caminhos"
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