21 setembro 2008

O aroma do passado


Sinto falta da polpa da tua boca de encontro aos meus lábios como das cerejas que escasseiam por causa da chuva tardia que deu cabo delas e das azeitonas. Sinto falta das tuas mãos a escovarem-me pelinho a pelinho e a alçarem-me as nádegas de encontro ao teu frisador de cabo redondo. Sinto falta do cheiro fresco do teu suor derramado em mim em cada baralhação de pernas e braços em que comprimia compassadamente a tua cola Cisne até a grudar toda no fundo de mim que o teu aroma nas fronhas lavadas está cada dia mais imperceptível.

Nunca pensei que voltasse a escrever em papel e de caneta na mão para enviar uma carta pelo correio como não pensei que tu, eu ou os da nossa geração voltassem a ser emigrantes como nos idos de 60 e 70 se ia para a França e para a Alemanha para amealhar num emprego pago decentemente mesmo que fosse a lavar pratos mas há que manter a coerência e se bem que fotógrafo numa universidade inglesa a ganhar o dobro de cá até parece diferente eu cá estou à espera da tua missiva mesmo que por email em que me chames por já estarem criadas as condições para eu ir tal e qual como no passado.

E este papel tingido nas tuas mãos tem a vantagem de o poderes enrolar à laia de cartucho de castanhas para receptáculo de aflições e devidamente encharcado me devolveres o teu cheiro num envelope almofadado.

Da plagiadora do fode-me toda!

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