Faço sempre um esforço para me mostrar receptivo às maravilhas que o progresso tecnológico nos oferece, nem que seja para não fazer má figura junto da malta que abraça tudo quanto é novidade como se jamais o conceito de “novo” pudesse corresponder ao de “menos bom”.
Claro que estranhei imenso a transição dos teclados das máquinas de escrever, mais o seu “tac-tac-tac” e o “plim” que me era tão familiar, quando surgiram os teclados de computador que agora não dispenso no meu quotidiano.
E por vezes quase sinto saudades das folhas de papel substituídas pela versão electrónica como aquela em que vos escrevo esta posta. Isto a propósito de (mais) uma inovação que parece destinado ao maior sucesso e que dá pelo nome de ecrã táctil.
O bota de elástico em mim desatou logo ao pontapé quando percebi de que se trata.
De acordo com os mais optimistas, o ecrã táctil constitui o golpe de misericórdia na dupla rato/teclado que boa parte da população ainda nem experimentou. Consiste, ao que percebi, num monitor onde fazemos acontecer tudo com os dedos. Ou seja, dedilhamos em vez de teclar e apontamos em vez de clicar.
Revolucionário, dirão.
Sem dúvida, mas a ideia de imaginar um grande escritório com computadores partilhados por aquele tipo de pessoa habituada a comer a sandocha toda besuntada de maionese enquanto trabalha intimida-me.
Quase consigo imaginar o cenário, tendo em conta o pó e as marcas de dedadas na maioria dos monitores, quando tento visualizar o efeito prático da digitação nos objectos de trabalho de um sector terciário onde ainda existe muita gente sem tempo (nem vontade) de lavar as mãos com a regularidade que agora se impõe.
Sim, a ideia repugna um nadinha quando pensamos nos tais ecrãs modernaços cheios de pequenos pedaços de fiambre, manchas de ketchup ou ainda pior (há malta que não dispensa uma limpeza ocasional das narinas e nem sempre o lenço está à mão...).
Claro que nos teclados esse problema também se coloca, mas por algum motivo nunca ficam com um ar muito porcalhão e hoje em dia é fácil proceder à respectiva substituição quando as teclas já só exibem um círculo cinzento onde antes existia um caractere.
Mas se estes meus receios, provavelmente injustificados, até podem nem vir a confirmar-se não consigo deixar de imaginar a figurinha dos que pela surra dão uns tirinhos no horário de trabalho. E pior ainda, quando algum desgraçado se vir apanhado pela patroa a dedilhar no seu magnífico ecrã táctil as mamocas desnudas num qualquer site erótico ou o modelo de uma peça futura de louça das Caldas num blogue atrevidote como A Funda São...
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Uma por dia tira a azia