31 julho 2011
A Rapariga Vulgar (VII)
(A beleza da meia luz entorpece a banalização das colunas, nunca deveriam existir colunas aqui, onde o estrondo do rosa agudo se faz sentir no verde desmaiado, dois estabelecimentos lado a lado sem qualquer consideração pela harmonia, os seus néons magoam os sentidos de quem passa; magoa-me que tratem as calçadas, a meia luz, as colunas, os semblantes de quem passa, assim. Mais acima, os CTT são um eco vermelho do estrondo de mil garrafas em queda num contentor; roubam-nos a estética, a beleza, o silêncio, também ninguém os quer, somos todos muito feios. "Precariedade não é futuro", assegura-nos o branco sujo, desconfortável, do cartaz; quando se tornou o desconforto assegurador? O castanho baço do cabelo de uma rapariga, no que se assemelha a uma bicicleta sem rodas, confirma: não é futuro, não é futuro, não é futuro! Não há tom mais tom do futuro que o castanho baço. O futuro é o feio, o feio que entra pelos olhos enquanto um homem feio grita pelo feio cão. O feio corta a toda a volta; à noite, todas as noites, das linhas do passeio, varre-se o presente.)
Magoa-me, magoa-me, magoa-me, magoo-me, sim, sou eu. Ontem, queimei-me, acidentalmente, o borrão aceso do cigarro caiu-me numa perna e fiquei a ver aquela dor incandescente, tão mais bonita, tão atroz, tão perfeita e forte e viva e nítida que me apaixonei por ela e esqueci-me das outras. Mas depois foi-se, acabou-se, a beleza é beleza pela sua brevidade atroz, toda a dor que é beleza lhe copia a atrocidade e exige alimento ou esvai-se. Talvez se aquela rapariga, aquela que vejo no passeio, aquela que anda em círculos sem se aperceber - todas as pessoas marcadas pela dor que deixam entrar pelos olhos andam em círculos - talvez se aquela rapariga me magoar, talvez consiga acordar mais um pouco dessa dor de ontem em mim, mais um pouco dessa dor que apaga a outra. Ela entende do que lhe falo, ela entende, eu sei, ela entende porque tem lágrimas de gelo; as lágrimas de gelo são as lágrimas últimas, as que nos cortam para nos avisar que vamos ficar sem lágrimas, para nos avisar que os olhos vão ficar cheios dos restos mortais do coração; são, nos seus impiedosos golpes, o último aviso, a última esperança de redenção; a cara vai ficando marcada desses sulcos cortados pelo gelo; depois de secos, os sulcos, são como fossas na terra, muito feias, onde a água já não passa, fantasmas de rios, lembranças do abandono das carícias suaves de um leito azul. Ela sabe do que falo, a rapariga vulgar, e já a tenho cativa, mostrei-lhe a sua dor nos meus bolsos, estendeu as mãos para receber mais um pouco do que lhe dói, do que lhe dói tanto quando tem como quando lhe falta, abri a porta do carro e deixei-a entrar, temos muita dor para oferecer um ao outro.
Magoa-me, magoa-me, magoa-me, magoo-me, sim, sou eu. Ontem, queimei-me, acidentalmente, o borrão aceso do cigarro caiu-me numa perna e fiquei a ver aquela dor incandescente, tão mais bonita, tão atroz, tão perfeita e forte e viva e nítida que me apaixonei por ela e esqueci-me das outras. Mas depois foi-se, acabou-se, a beleza é beleza pela sua brevidade atroz, toda a dor que é beleza lhe copia a atrocidade e exige alimento ou esvai-se. Talvez se aquela rapariga, aquela que vejo no passeio, aquela que anda em círculos sem se aperceber - todas as pessoas marcadas pela dor que deixam entrar pelos olhos andam em círculos - talvez se aquela rapariga me magoar, talvez consiga acordar mais um pouco dessa dor de ontem em mim, mais um pouco dessa dor que apaga a outra. Ela entende do que lhe falo, ela entende, eu sei, ela entende porque tem lágrimas de gelo; as lágrimas de gelo são as lágrimas últimas, as que nos cortam para nos avisar que vamos ficar sem lágrimas, para nos avisar que os olhos vão ficar cheios dos restos mortais do coração; são, nos seus impiedosos golpes, o último aviso, a última esperança de redenção; a cara vai ficando marcada desses sulcos cortados pelo gelo; depois de secos, os sulcos, são como fossas na terra, muito feias, onde a água já não passa, fantasmas de rios, lembranças do abandono das carícias suaves de um leito azul. Ela sabe do que falo, a rapariga vulgar, e já a tenho cativa, mostrei-lhe a sua dor nos meus bolsos, estendeu as mãos para receber mais um pouco do que lhe dói, do que lhe dói tanto quando tem como quando lhe falta, abri a porta do carro e deixei-a entrar, temos muita dor para oferecer um ao outro.
«A prova» - por Rui Felício
Miguel Azevedo, produtor e grande conhecedor de vinhos, entrou naquele requintado restaurante de Lisboa, foi acompanhado à mesa pelo Chef de Sala, leu a carta e encomendou um tornedó mal passado, guarnecido com legumes salteados e esparregado. Pediu um Pegos Claros, reserva tinto, colheita de 1982.
Instantes depois, o escanção dirigiu-se à mesa com o vinho já depositado num decantador. Com extremo cuidado e aparato profissional, verteu uma pequena quantidade no copo e esperou que o cliente o provasse.
O Miguel Azevedo agitou o copo em lentos movimentos elípticos, chegou-o aos lábios, saboreou, quase mastigou o néctar, repetiu mais umas duas vezes o cerimonial, chegou o copo ao nariz, aspirou o aroma vínico, fitou o empregado e sentenciou:
- Este vinho é de facto de 1982, mas não é Pegos Claros!
O escanção ganhou coragem e atreveu-se a contradizer o cliente. Que sim, que era realmente um reserva tinto Pegos Claros de 1982.
Que não, insistia o Miguel Azevedo, com ar contrariado. O Chef aproximou-se e polidamente garantiu que realmente aquele vinho era Pegos Claros.
- Sabe, meu caro? Quem produziu este vinho fui eu e asseguro-lhe que não é Pegos Claros. É Pegões!, sentenciou o Miguel Azevedo…
O escanção interveio:
- Perdoe-me V. Exª, eu conheço bem a região onde se produzem estes vinhos. Pegões e Pegos Claros são duas vinhas de iguais castas, situadas a não mais do que 500 metros uma da outra, tratadas da mesma maneira, as uvas são colhidas, preparadas e pisadas na mesma Adega, segundo os mesmos métodos. Como pode V.Exª ter tanta certeza de que este vinho não é Pegos Claros. Na verdade, tudo indica que ambos sejam exactamente iguais.
- Mas não são!, disse o Miguel Azevedo.
E, em voz sussurrada, aconselhou o escanção:
- Faça a seguinte experiência: quando chegar a casa peça à sua namorada que se dispa completamente. Aprecie os orifícios mais próximos do seu corpo. Cheire-os, deguste-os e compreenderá que, apesar da proximidade geográfica, têm aromas e sabores diferentes e completamente distintos…
Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
30 julho 2011
«S. O. S. Brunet»
Ficção de Betse de Paula - 1988 - 18 min
França tem Bardot e o Brasil tem Brunet!
Nos anos 80, jornalistas encararam emocionante desafio: entrevistar a musa da Playboy. Só que ficam presos no elevador! Quem poderá salvá-los?
Link directo para o filme aqui.
França tem Bardot e o Brasil tem Brunet!
Nos anos 80, jornalistas encararam emocionante desafio: entrevistar a musa da Playboy. Só que ficam presos no elevador! Quem poderá salvá-los?
Link directo para o filme aqui.
Inesgotável
Falar de amor
é inesgotável:
sabes a maresia
e o teu cheiro é sal;
as palavras podem ser
o que nós quisermos.
Eu quero que as palavras
cheirem a ti
e que o teu sabor de maresia
se eleve no horizonte;
para tanto bastando
- no poente -
um doce murmúrio.
Poesia de Paula Raposo
«Adult XXX Superstars»
Já comprei estas bonecas, nos Estados Unidos da América, há alguns anos.
Como estive em arrumações, levei-as a passear até ao jardim e fotografei-as. Elas adoraram.
Como estive em arrumações, levei-as a passear até ao jardim e fotografei-as. Elas adoraram.
29 julho 2011
A piroca pergunta
Será normal eu, pila, de vez em quando ter ciúmes da boca do coiso agarrado a mim? E será legítimo algum receio de um dia me ver substituída por ela na minha função principal?
A prostituta azul (XIV) - Reino da Hipotermia
Ainda bem que Ele me deu dedos frios. Quanto mais frios os meus dedos, mais prazer me dá tocar o calor do Mundo, e mais consigo tocar-lhe o frio, percorrê-lo e conhecê-lo lentamente sem que a dor gelada me faça retirar a mão.
Ainda bem que a minha pele é fria, fria, tão fria que posso abraçar o homem de gelo; fria, tão fria, que, se abraço o homem de gelo, ele se julga quente; fria, tão fria que o homem de gelo se pode sentir capaz de me aquecer. Ainda bem que Ele entregou o meu corpo ao Reino da hipotermia; todos os dias, o meu despertar é um arrefecimento, o frio sente-nos iguais e não me sabe ferir, o calor vem beijar a minha pele que não tem poros, que não sabe respirar e não sabe deixá-lo entrar. Ainda bem que Ele me deu dedos frios, cada ténue raio de Sol, cada pequeno grau no âmago do gelo, me pode confortar.
Ainda bem que a minha pele é fria, fria, tão fria que posso abraçar o homem de gelo; fria, tão fria, que, se abraço o homem de gelo, ele se julga quente; fria, tão fria que o homem de gelo se pode sentir capaz de me aquecer. Ainda bem que Ele entregou o meu corpo ao Reino da hipotermia; todos os dias, o meu despertar é um arrefecimento, o frio sente-nos iguais e não me sabe ferir, o calor vem beijar a minha pele que não tem poros, que não sabe respirar e não sabe deixá-lo entrar. Ainda bem que Ele me deu dedos frios, cada ténue raio de Sol, cada pequeno grau no âmago do gelo, me pode confortar.
28 julho 2011
E os homens também.
Sentado na esplanada, B. vê A. caminhando com ar perdido e acena-lhe para o chamar. A. retribui o aceno com aparente dificuldade e caminha lentamente na direcção do amigo. Sem falar, puxa uma cadeira, deixa-se cair como se tivesse sido baleado naquele momento e fica aparvalhado a olhar para o horizonte, no caso a fachada em ruínas de um prédio do outro lado da rua. B. que lhe conhece os exagerados gestos teatrais a pedirem tortuosas explicações, bebe metade da imperial, agarra meia dúzia de tremoços para ir debulhando como pipocas no cinema e pergunta sem preâmbulos:
– Então, o que foi agora?
A., suspira ruidosamente recuperando vitalidade (mas pouca), estica o braço para colher uma mão cheia de sementes amarelas demolhadas em água e sal, ergue um dedo a pedir uma imperial, ergue outro a pedido de B., espera que o empregado lhe veja os dois dedos no ar e, quando isso acontece, aponta para o copo quase vazio de B.
– Ó pá... – A. interrompe-se para descascar e comer um tremoço, numa sucessão perfeita de movimentos mínimos mas absolutamente eficazes, e, depois de deglutida a semente cozida, continua com ar sofrido: – Não me digas nada... não me digas nada.
B. bebe o resto da cerveja, pensa como era bom se isso resultasse e murmura:
– Se eu não disser nada tu também não dizes?
– O quê?! Estás a rezar ou quê?
– Não. Estava a pensar numa coisa.
– Ah... Quem me dera ser assim, a poder pensar noutras coisas, a poder estar sentado como tu, despreocupadamente, numa esplanada a beber cervejas e a comer tremoços...
– Pois é... – B. mantém-se sério. – Ás vezes, as pessoas nem percebem a sorte que têm em poder estar assim, sentados, numa esplanada a beber cervejas e a comer tremoços... Aliás,...
A. concorda movendo a cabeça em câmara-lenta, com o ar cómico de quem vai desfalecer se continuar a concordar com tanto empenho.
B. olha-o, percebe que A. não o ouve e só espera que ele se cale para desfiar as suas últimas e insuperáveis tragédias, e conclui:
– Aliás, parece-me que há pessoas que mesmo quando estão sentadas numa esplanada a beber cervejas e a comer tremoços não sabem que aí estão e que, se depois lhes perguntarem, negam ou então dizem que só lá estiveram por absoluto altruísmo para acompanhar um amigo, só por isso, e só beberam uma imperial e comeram um tremoço por solidariedade e com muito esforço.
– Pois é... – A cabeça de A. continua a pender e a subir e a pender e a subir como se tivesse ganho autonomia. – Ó pá mas tu nem sabes o que me aconteceu...
– Mas vou saber.
– As gajas são todas iguais. Não há uma que se aproveite.
– Essa é que é uma grande verdade – intromete-se o empregado, que pousa as duas imperiais e, agarrando no copo vazio, declara enfático, antes de se afastar: – Leiam os meus lábios: Ne-nhu-ma! Nem uma, amigos!
B. não comenta, agarra no copo cheio e dá dois goles. A. agarra no seu copo e acompanha-o, depois, a cabeça, logo que a boca se vê livre do copo, volta por motu próprio ao anterior movimento pendular e, por fim, diz:
– É que quando querem alguma coisa de um gajo – "Mas alguém quer alguma coisa de ti?" admira-se o amigo –, não o largam, andam atrás, não descolam, e isto e aquilo, e que torna e que deixa e ronhonhó...
– E re-béu-béu pardais ao ninho...
– Pois é – anui A., pondo na boca todos os tremoços que tem na mão, sem os descascar, uns sete ou oito, que come de boca aberta ante o olhar espantado de B., e, ainda com a boca cheia e a cuspir pedaços amarelos, continua: – Depois de terem o que querem, deixam de nos ligar e um gajo que se lixe!
A. espera que B. concorde mas este, hipnotizado pelo espectáculo amarelo, branco e cor-de-rosa que se desenvolve na boca de A. e arredores, demora a perceber e só depois de um "Não achas?" sibilino e amarelecido de A., replica, sem saber do que está a falar:
– Podes crer.
Satisfeito, A. bebe o resto da sua imperial para empurrar a massa de tremoços e cascas que não tinham sido engolidas ou expelidas como projécteis e conclui:
– É que são todas. As mulheres são todas iguais!
– Mas há umas que são mais iguais do que outras – replica B.
– É, lá isso é – concorda A. imediatamente, sem ouvir, mais preocupado em ser visto pelo empregado e garantir a pronta reposição de cerveja na mesa do que com o rumo da conversa. – Queres outra? É que hoje estão a escorregar que é uma maravilha!
B. diz que sim, que quer, que sim, que estão, e sorri satisfeito, mas com uma ponta de remorso, certo da inevitabilidade de ter de ouvir o que aconteceu a A. mas seguro de que isso só acontecerá quando ele próprio já estiver alcoolicamente preparado para tal.
No teu abraço
27 julho 2011
Está (porno)gráfico o bastante ou é preciso fazer um desenho?
A pornografia, essa sexipédia do adolescente comum, sempre teve um estatuto marginal que, de resto, parece cobrir-lhe bem as partes de fruto proibido e por isso ainda mais apetecível para quem está sedento de aprendizagem de matérias que não se ensinam nas escolas.
Desde a puberdade nós gajos desenvolvemos essa arte da clandestinidade, da ocultação de pecados, e o estimulante exercício mental de improvisar o melhor esconderijo secreto para as Gina ou Weekend Sex acabou por preparar muitos para a idade adulta e respectivas contingências.
Esse é apenas um dos argumentos favoráveis à existência da pornografia que gerações de falsos puritanos têm tentado, sem sucesso, banir dos hábitos de consumo da mesma rapaziada.
Acaba por ser fácil desmantelar a retórica puritana, bastando um nível sofrível de inteligência, um valor residual de bom senso e uma pitada de humor.
Por exemplo: um dos clássicos da argumentação dos contras é o facto de a pornografia fomentar a frustração por recriar proezas fora do alcance do cidadão comum. Pois, pois…
Só faz bem a estes jovens moinantes serem ambiciosos ao ponto de tentarem igualar as tais proezas, de renegarem a preguiça e irem à luta com o máximo de fervor.
Não conseguem imitar o John Holmes no comprimento? Dêem o litro na duração. E se não conseguirem, pelo menos estiveram entretidos a tentar.
Se alguns, coitadinhos deles, ficam frustrados por não darem três minutos quanto mais três seguidas em vez de se motivarem para fazerem melhor na próxima é porque são mesmo assim e a pornografia não passa de mais um filtro para distinguir os incapazes. A vida está cheia disso, coisas muito mais feias e traumatizantes, e a ala conservadora não as tenta erradicar…
Outro clássico do discurso careta é o papão da exploração da sexualidade feminina, reduzindo as actrizes porno a vítimas do sistema, a desgraçadas a quem a vida apanhou literalmente nas curvas e andam ali com enorme sacrifício pessoal e sob coacção.
Mentira, claro está. E quem dera aos cofres do nosso Estado a receita fiscal inerente ao rendimento médio dos profissionais do palco alcova.
Por outro lado, e pegando pelo cliché da exploração do corpo da mulher, blábláblá, esse é tão rebuscado quanto irrelevado pela própria opção de muitas mulheres em evidenciarem precisamente o corpo enquanto instrumento de sedução, seja pelo vestuário ou pela atitude. E ainda temos essa “aversão” estampada na publicidade que reflecte os interesses dos consumidores. Ficamos conversados nesta também.
À falta de argumentos sérios, quem não gosta e preferia que os outros não pudessem ter (pois só come quem quer) tenta em desespero de causa pegar pela estética da coisa ou mesmo pela qualidade dos guiões.
Ah e tal, aquilo acaba sempre da mesma maneira. Pois acaba. E qual seria a alternativa? Começar por aí?
Ah e tal, aquilo acaba sempre da mesma maneira e é uma maneira nojenta. Poizé. Mas em matéria de nojos cada um/a fala por si. Ou o mundo mudou assim tanto e ninguém me avisou?
E no fundo o que está em causa é que toda a gente fala mal de algo que supostamente nunca viu e há imensa dor de cotovelo, tanto entre aqueles que comparam as suas pilitas com os bacamartes dos filmes como entre aquelas que vêem as outras a aviarem quatro ou mesmo cinco (não me peçam para entrar em pormenores ou eu entro mesmo) penises em simultâneo (e não, as mãos não entram nas contas) e elas mal aviam um, sobretudo quando ele bate à porta das traseiras.
Está em causa a hipocrisia do costume, dos que preferem brincar às escondidas do que serem apanhados a gostarem da paródia.
Outono, meu amor, Outono
O Outono estrangulava a noite
sufocava o brilho da lua
quebrava no meu peito
o maior é o mais violento
a marca era nítida, berrante, em carne nua
que o amor despe a maravilha e o açoite
voa em céu aberto, pousa onde sente
terra, pele eternamente sua,
estação fiel ao seu comboio lento.
Nada disto quer dizer nada
se tu não fores o Outono
a estação desfolhará do sono
e a noite, do tarde demais, na madrugada
sem ti, nada disto quer dizer nada
e tudo o mais só dirá abandono.
sufocava o brilho da lua
quebrava no meu peito
o maior é o mais violento
a marca era nítida, berrante, em carne nua
que o amor despe a maravilha e o açoite
voa em céu aberto, pousa onde sente
terra, pele eternamente sua,
estação fiel ao seu comboio lento.
Nada disto quer dizer nada
se tu não fores o Outono
a estação desfolhará do sono
e a noite, do tarde demais, na madrugada
sem ti, nada disto quer dizer nada
e tudo o mais só dirá abandono.
«Conhece-te a ti mesmo»...
... recomendava Sócrates, inspirado na inscrição à entrada do templo de Delfos.
O que a História abafou foi o que ele queria dizer com essa frase.
A minha colecção de arte erótica tem também uma forte componente didáctica.
O que a História abafou foi o que ele queria dizer com essa frase.
A minha colecção de arte erótica tem também uma forte componente didáctica.
26 julho 2011
dedos que passam a mão pelo pensamento
«Na sombra do meu sangue escrevo-vos do meu mundo, escrevo para todos aqueles que entendem que um poeta vive com o rosto no meio de letras e que elas selam um planeta que me dissolve, que se dissolve sempre a cada frase escrita por mim.
Anoitece entre o meu tremor e a minha treva. O mundo lá fora corre trespassado pelo láudano. Em vóltios e vóltios... No meu mundo o sangue aproxima-se escarpado. Os dedos preparam mais uma aurora e os Astros lutam, dentro, em mim, numa guerra de elementos, transformando a imagem trabalhada em palavras.
No chão da página escuto os rios que correm repletos de frases cheias, gritando, gemendo montanhas em falos gritos. Também Eu às coisas mentais grito;
- aaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhh!...
Na pele a encarnação, o amargo sal que o Astro na carne deixa fugir quando faço morosamente comida de um poema, uma visão ou um lugar para os outros, para os sonhadores, para todos os que procuram a assumpção, as palavras, em lugares compactos no entusiasmo do branco que se pinta às vezes de preto e de repente ficam ofuscantes, as palavras, as colinas das palavras. Em aceleração.
Existem em mim dias difíceis, onde planto a carne dificil na esperança de colher sentires dentre o delírio que a noite pulsa, a vírgula ardente das mãos que escrevem e me empurram de palavra em palavra, unindo-me à poesia, esse núcleo surpreendido que os dedos quase amornam, no poder que deles advém. É então que o verbo me acende a vida. Acendendo os dedos numa selvagem criação. Ergue-se fogo vermelho na transparência profunda da gramática atormentada pelas visões ferozes, pelo escaldar da minha caligrafia, devastando campos e larguras brancas, afogando páginas em loucura. Textos coagulados, impressos no meu pensar, num pensamento perfurado pela febre que me costura ao ar, tal e qual como uma droga, da qual eu sinto que sou totalmente dependente...»
* a mim própria, liricamente!...
Luisa Demétrio Raposo
Anoitece entre o meu tremor e a minha treva. O mundo lá fora corre trespassado pelo láudano. Em vóltios e vóltios... No meu mundo o sangue aproxima-se escarpado. Os dedos preparam mais uma aurora e os Astros lutam, dentro, em mim, numa guerra de elementos, transformando a imagem trabalhada em palavras.
No chão da página escuto os rios que correm repletos de frases cheias, gritando, gemendo montanhas em falos gritos. Também Eu às coisas mentais grito;
- aaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhh!...
Na pele a encarnação, o amargo sal que o Astro na carne deixa fugir quando faço morosamente comida de um poema, uma visão ou um lugar para os outros, para os sonhadores, para todos os que procuram a assumpção, as palavras, em lugares compactos no entusiasmo do branco que se pinta às vezes de preto e de repente ficam ofuscantes, as palavras, as colinas das palavras. Em aceleração.
Existem em mim dias difíceis, onde planto a carne dificil na esperança de colher sentires dentre o delírio que a noite pulsa, a vírgula ardente das mãos que escrevem e me empurram de palavra em palavra, unindo-me à poesia, esse núcleo surpreendido que os dedos quase amornam, no poder que deles advém. É então que o verbo me acende a vida. Acendendo os dedos numa selvagem criação. Ergue-se fogo vermelho na transparência profunda da gramática atormentada pelas visões ferozes, pelo escaldar da minha caligrafia, devastando campos e larguras brancas, afogando páginas em loucura. Textos coagulados, impressos no meu pensar, num pensamento perfurado pela febre que me costura ao ar, tal e qual como uma droga, da qual eu sinto que sou totalmente dependente...»
* a mim própria, liricamente!...
[Blog Vermelho Canalha]
Luisa Demétrio Raposo
No teu corpo
Desfia-me poro a poro
como se entrasses
sem entrar;
como se os beijos
se acalmassem em si mesmos
e soletra-me um sonho
que de azul, desfeito,
não passa de uma efémera
proeza.
Desfia-me as horas no teu corpo.
Poesia de Paula Raposo
«Ce cochon de Paulo»
Este cartaz de cinema é enorme. Tive que pedir a um gajo conhecido, com 1,80m de altura, para segurar aquilo. E teve que esticar os braços para o cartaz não tocar no chão.
Comprei-o por vários motivos. E é mais um miminho da minha colecção.
Comprei-o por vários motivos. E é mais um miminho da minha colecção.
25 julho 2011
Porque só os cravos murcham!
Descobri cedo, logo no embrião da minha entrada em (novas) funções, que a minha liberdade não está limitada apenas pelos constrangimentos anatómicos da minha condição de pila.
O coiso está agarrado a mim e desconfio que assim se manterá até ao fim dos meus dias, nada a fazer. Porém, esta relação de interdependência não é equilibrada. Sou um nadinha mais pequena do que ele (é tudo muito relativo em termos cósmicos) e ainda bem, ou sempre que eu me entusiasmasse acabávamos os dois no meio do chão.
Este desnível nas dimensões não explica mas ilustra a relação de poder que se estabelece entre o coiso e a sua pila, muito condicionada pela convicção dos coisos agarrados a nós de que não passamos de meros apêndices seus. Isso implica o autoritarismo presente na esmagadora maioria destas ligações complicadas, uma prepotência que impõe uma espécie de lei da selva na zona do matagal.
Ou seja, o coiso agarrado a mim tem a faca e o queijo na mão e acaba por ser tudo feito à maneira dele. Se o Benfica está a marcar uma grande penalidade quando vamos a caminho de uma mijinha lá tenho eu de me aguentar à bronca. Às vezes tenho perante mim uma passarinha completamente disponível para me acolher e o coiso lá em cima a complicar com os problemas e constrangimentos de coiso e acabo em doca seca sem necessidade. Isto tem algum jeito?
Claro que posso estar influenciado pelo último plenário das pilas em que participei, no wc de um centro comercial, e embora perceba que o drama vivido pelas minhas homólogas se reveste de contornos bem mais penosos sou uma piroca solidária e percebo a revolta contra esta espécie de escravatura que a abstinência forçada nos impõe.
Não votei a favor das medidas de luta mais radicais, admito, pois embora entenda a necessidade de nós pilas termos uma palavra a dizer (porque até os coisos sabem que pensamos pela própria cabeça) os meus hábitos de vida levaram-me a propor, em vez da recusa em nos apresentarmos operacionais no posto de trabalho, uma greve de zelo.
Seja como for, ando inquieta com os efeitos da crise nas pilas europeias em geral e nas portuguesas em particular e pelos quais pagamos o preço do tal abuso de poder por parte dos coisos que, de forma paradoxal, até podem menos do que antes.
Por isso nós pilas temos que lutar por uma maior autonomia antes que se perca de todo a fé nos amanhãs que levantam.
Eu sei que isto parece discurso grevista de comuna sindicalista e ateu, mas é só porque o tesão foi-se e essa é uma verdade sem ponta por onde um martelo pilão a possa pregar.
Tradução de fazer amor
Certa cor só existe em céu
é o verdazul do anoitecer
ao cortar o horizonte
sublinha as luzes e os telhados.
Quando eu era menina
subia às árvores para lhe tocar
agora, subo ao teu corpo
pelos teus ramos
e o verde embala-te o tronco
que o azul vem contornar.
é o verdazul do anoitecer
ao cortar o horizonte
sublinha as luzes e os telhados.
Quando eu era menina
subia às árvores para lhe tocar
agora, subo ao teu corpo
pelos teus ramos
e o verde embala-te o tronco
que o azul vem contornar.
24 julho 2011
A Rapariga Vulgar (V)
(Aquele escombro absurdo do silêncio mutilado, à deriva num mar de ruído, mantém o olhar inquieto, incauto, quer enrolar o burburinho sólido, tóxico e puxá-lo ao fundo de um castanho ansioliquido. O mundo recolhe às famílias, sobram cá fora os que não pertencem a ninguém.)
Aquela, a última do entardecer, é a melhor hora do dia. Ele fuma cigarros, embala o pensamento na inquietude serena do fumo, observa a rapariga vulgar, sem a interrupção incómoda das onomatopeias grunhidas do homem do estabelecimento ao lado. Dali, consegue ver bem até o que não vê. Mais um homem pára o carro e a rapariga entra. Deixa a imaginação segui-los, torna-se, assim, uma sombra invisível que se funde com os seus corpos. A rapariga está deitada, exposta, submissa, delicada. O desejo invade o homem pelos olhos, numa guerra sem opositores conquista o baixo ventre e lança, embriagado pela vitória, empurrado pelo sangue, uma rigidez de um vermelho nítido, a fome viva, lúcida e inequívoca. Vê-o subir o corpo da rapariga, as nádegas duras, masculinas, em contracções vorazes, o peito moreno, as formas geométricas do masculino, um cheiro ardente a suor preso nos dedos, pêlos negros nas costas quadradas, ossudas. Também ele é a rapariga debaixo do homem, deitada, exposta, submissa, delicada. Tremem-lhe os lábios entre o desejo e a bestialidade do primeiro beijo, o trespasse das margens do proibido. O cigarro parece acariciar-lhe a boca, agora que a fome parece ter tornado a pele mais fina, até a aragem parece uma carícia, uma língua proibida, saliva interdita, pensamento varado pela vergonha. E o Sr. João continua ali, sente-se exposto e delicado, submisso ao amante que a imaginação rouba da rapariga para os seus braços, deitado como uma belíssima flor incompleta.
Aquela, a última do entardecer, é a melhor hora do dia. Ele fuma cigarros, embala o pensamento na inquietude serena do fumo, observa a rapariga vulgar, sem a interrupção incómoda das onomatopeias grunhidas do homem do estabelecimento ao lado. Dali, consegue ver bem até o que não vê. Mais um homem pára o carro e a rapariga entra. Deixa a imaginação segui-los, torna-se, assim, uma sombra invisível que se funde com os seus corpos. A rapariga está deitada, exposta, submissa, delicada. O desejo invade o homem pelos olhos, numa guerra sem opositores conquista o baixo ventre e lança, embriagado pela vitória, empurrado pelo sangue, uma rigidez de um vermelho nítido, a fome viva, lúcida e inequívoca. Vê-o subir o corpo da rapariga, as nádegas duras, masculinas, em contracções vorazes, o peito moreno, as formas geométricas do masculino, um cheiro ardente a suor preso nos dedos, pêlos negros nas costas quadradas, ossudas. Também ele é a rapariga debaixo do homem, deitada, exposta, submissa, delicada. Tremem-lhe os lábios entre o desejo e a bestialidade do primeiro beijo, o trespasse das margens do proibido. O cigarro parece acariciar-lhe a boca, agora que a fome parece ter tornado a pele mais fina, até a aragem parece uma carícia, uma língua proibida, saliva interdita, pensamento varado pela vergonha. E o Sr. João continua ali, sente-se exposto e delicado, submisso ao amante que a imaginação rouba da rapariga para os seus braços, deitado como uma belíssima flor incompleta.
«O livro» - por Rui Felício
Vestiu o seu melhor vestido que deixava adivinhar todos os contornos do seu corpo, perfumou-se, pegou no embrulho de papel de seda com um laço dourado e dirigiu-se a casa do Filipe. Tinham combinado jantar em casa dele só os dois. Era o dia do seu aniversário...
Tocou a campainha e quando o Filipe abriu, beijou-o , deu-lhe os parabéns e entregou-lhe o embrulho, dizendo que não conhecia o autor mas que era um romance que a empregada da livraria lhe tinha recomendado.
O Filipe agradeceu a prenda, rasgou o papel do embrulho e, atónito, só ao fim de uns minutos conseguiu articular palavras:
- Onde conseguiste este romance? Há meses que tento encontrá-lo. Já corri dezenas de livrarias e está sempre esgotado. Obrigado!
Ela via a felicidade que lhe transparecia do olhar, da boca entreaberta, dos gestos, da maneira sensual como os seus dedos acariciavam a capa e folheavam sôfregas e ao acaso as páginas.
Como ela desejava naquele momento ser tocada pelas suas mãos da mesma forma que ele acariciava embevecido aquele livro!
Mas o Filipe era um viciado na leitura. Depois de jantarem, sentaram-se no sofá da sala mas ela sentia que a atenção dele estava dedicada exclusivamente àquele livro. Ela sabia que só depois de ter devorado aquelas quatrocentas páginas é que o Filipe lhe dedicaria alguma atenção.
Ficou a observá-lo, paciente, excitando-se em silêncio com os suspiros e os gemidos que por vezes ele deixava escapar a cada virar de folha.
Por volta das quatro da madrugada o Filipe finalmente concluiu a leitura, recostou-se no sofá, estendeu-lhe os braços e ela anichou-se no seu colo.
Despiram-se. Ela sabia que depois da excitação da leitura não podia perder tempo com preliminares. O Filipe estava prestes a atingir o orgasmo.
Ela seria o epílogo daquele livro...
Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
23 julho 2011
Inevitavelmente
Inevitavelmente
um sorriso entre dois silêncios;
a marca do beijo
amortecendo a queda.
Inevitavelmente
um aperto entre dois orgasmos;
a marca da canção
provocando o silêncio.
Inevitavelmente
uma surpresa entre duas vozes;
a marca do clarão
inebriando a noite.
Inevitavelmente.
Sempre: silenciando o silêncio.
Poesia de Paula Raposo
«Sereia» - azulejo de Júlio Pomar
Comprei este azulejo do Júlio Pomar já há alguns anos, na loja da Casa de Serralves.
Custou-me uma pequena fortuna, mas apaixonei-me pela sereia que teve o problema do sexo resolvido: duas caudas e o assunto fica tratado.
Custou-me uma pequena fortuna, mas apaixonei-me pela sereia que teve o problema do sexo resolvido: duas caudas e o assunto fica tratado.
22 julho 2011
The Gabarola Series (4)
- Ó sua boazona, se tu quisesses dava-te uma trancada sem pestanejar.
- Sem pestanejar? Despachavas a coisa enquanto o diabo esfrega um olho, não é?
Pecado
O meu corpo não tem fundo;
tudo o que já foi imundo
será, contigo, solene.
O meu corpo, por ti, treme,
é uma ventosa sugando,
o gemido mais profundo
que neste mundo se geme
Contigo, serei a amante,
mas contigo, serei o Mundo
Rendemos além-pele à nudez
e as formas que já não vês
perderam-se naquele instante,
eram as formas do pecado
mas um corpo é Templo Sagrado
corpo no corpo de quem o ame.
tudo o que já foi imundo
será, contigo, solene.
O meu corpo, por ti, treme,
é uma ventosa sugando,
o gemido mais profundo
que neste mundo se geme
Contigo, serei a amante,
mas contigo, serei o Mundo
Rendemos além-pele à nudez
e as formas que já não vês
perderam-se naquele instante,
eram as formas do pecado
mas um corpo é Templo Sagrado
corpo no corpo de quem o ame.
21 julho 2011
«Flipbook» - de Mark Squires
Com Paz de la Huerta, Elisa Sednaoui, Poppy Delevingne e Anouck Lepère.
FLIP from Mark Squires on Vimeo.
Labirinto
Conheço bem o teu corpo
percorro-o de lés a lés
perdida nos teus recantos
à espera das marés.
Desaguas nos meu lábios
sorvo-te o sal e o mel
borboleta sonhadora
abro em flor na tua pele.
Digo baixinho ao ouvido
colhe-me as pétalas, sim
desatina no enleio
nunca te partas de mim.
Esta paixão que arrebata
e que a razão não entende
às vezes penso que mata
outras vezes que me prende.
E se o limite não cabe
na palma da minha mão
Ama-me assim esta noite
sem disfarce e com tesão!
percorro-o de lés a lés
perdida nos teus recantos
à espera das marés.
Desaguas nos meu lábios
sorvo-te o sal e o mel
borboleta sonhadora
abro em flor na tua pele.
Digo baixinho ao ouvido
colhe-me as pétalas, sim
desatina no enleio
nunca te partas de mim.
Esta paixão que arrebata
e que a razão não entende
às vezes penso que mata
outras vezes que me prende.
E se o limite não cabe
na palma da minha mão
Ama-me assim esta noite
sem disfarce e com tesão!
20 julho 2011
O Primaverão puxado a vento
Em mais um belo dia de praia para os padrões do Outono dinamarquês, o mês de Julho continua a exibir um desvio colossal relativamente às expectativas criadas.
Existem rumores (de fontes anónimas, as melhores para o efeito) acerca de um boicote das andorinhas já para o próximo ano, pela reincidência deste logro estival que no ano passado também enviou o Verão propriamente dito para meados de Outubro.
Entretanto, a protecção civil (eu não sou militar) recomenda aos senhores que enfiem os chapéus pelas orelhas abaixo e às senhoras mais optimistas e arrojadas que decidam usar saia neste dia chama-se a atenção para a janela de oportunidade para o uso do melhor underware disponível.
Tradução do amor passado
Só o que vem do coração
amadurece e até pode transformar-se
sem nunca envelhecer
como nós
porque fomos nós
e depois fomos amálgamas de palavras anémicas
pálidas, caídas
a tristeza veste-se de medo,
enverga o mais lívido pano da solidão
que torna ainda mais frio
o colchão duro e estreito de uma cama de solteiro
à volta do teu quarto
paredes infinitamente brancas, infinitas
e as palavras minhas são lâminas já rombas
não cederam ao infinito
não pararam de tentar
e o amor apenas se transformou
numa outra coisa, sim, que nomeio Bonita
calou-se tanto que nos emudeceu
até abrirmos a gaiola da aorta
ao último pássaro azul
já não havia árvore, nem céu, ou ninho
só grades da mais feia teimosia
mas inventei-lhe um diálogo, entre páginas vazias
de nós que não parei de numerar
todos os números mudam e ainda sabem aumentar.
amadurece e até pode transformar-se
sem nunca envelhecer
como nós
porque fomos nós
e depois fomos amálgamas de palavras anémicas
pálidas, caídas
a tristeza veste-se de medo,
enverga o mais lívido pano da solidão
que torna ainda mais frio
o colchão duro e estreito de uma cama de solteiro
à volta do teu quarto
paredes infinitamente brancas, infinitas
e as palavras minhas são lâminas já rombas
não cederam ao infinito
não pararam de tentar
e o amor apenas se transformou
numa outra coisa, sim, que nomeio Bonita
calou-se tanto que nos emudeceu
até abrirmos a gaiola da aorta
ao último pássaro azul
já não havia árvore, nem céu, ou ninho
só grades da mais feia teimosia
mas inventei-lhe um diálogo, entre páginas vazias
de nós que não parei de numerar
todos os números mudam e ainda sabem aumentar.
Amor em Saturno
Anoiteceu... Estou enroscada no teu corpo enquanto respiras sobre o meu ouvido. Lá fora posso ver as luzes da cidade e o eterno piscar verde e vermelho dos trilhos... Ao fundo desenha-se o imenso Saturno enquanto rolamos lentamente na sua órbita. A tua mão acaricia-me a barriga e encontra o meu peito, beijas-me atrás da orelha... aninho-me em ti. Procuras-me inspirando o meu pescoço e apertando-me, forte, contra ti. As minhas ancas encontram-te desenhando círculos na tua pele nua e tu estendes-te para mim... Queremos movimentar-nos à velocidade da sombra, refreamo-nos. A tua boca e a minha encontram-se no nada e as nossas línguas dançam ao sabor do desejo. Ficamos assim, perdidos no paladar do nosso amor, encontrados nos aromas quentes da nossa paixão, fundindo-nos derretidos no desejo que nos provoca. Tocas-me a pele nua e percorres as paisagens que sabes de cor até aportares no cais húmido e quente que te recebe e te molha... A minha língua percorre agora a tua orelha, enquanto respiro pesado, indiferente aos meus sons, fixa nos teus. A minha boca desce o teu pescoço, a língua percorre o teu peito e encontro-me com o teu desejo que engulo e exploro à medida que te entregas aos prazeres do porto ao qual chegaste, agora, com a língua... A velocidade da sombra há muito que foi ultrapassada, procurando-nos, impacientes, inconformados de não conseguirmos verdadeiramente fundir-nos, unir-nos... Unimo-nos então no nosso querer, abraço-te, dentro e fora, deslizas-me em ti em velocidade de cruzeiro e deixo-me ir ... levando ondas ao teu navio, fazendo-o baloiçar... Mas continuas a navegar, procurando mais ondas para te embalarem na tua viagem... E enquanto me apertas pela cintura contra ti e te entregas ao momento em que o navio é uma nave e passa para lá de Andrómeda, abraço-te olhando-me lá fora nos anéis de Saturno... como eu sou agora o teu anel que em movimentos quânticos te aperta enquanto te esgotas em mim...
Ana Castella
Ana Castella
Vovó Bel canta (?!) «Escravo da Maldade»
Era alta madrugada
E eu cansada da putada,
eu voltava pro meu lar...
Quando apareceu no escuro,
Um criolo com o pau duro,
Que queria me estuprar...
Com um negocio bem grosso,
Era um puta de um colosso,
Ele me mandou pegar...
E me disse que queria,
Que eu chupasse que eu mordia,
Até seu pau levantar...
E eu que nunca tinha dado,
Era um negocio apertado,
Implorei para o negão...
Que parecia um jumento,
Que queria empurrar pra dentro,
Ai meu Deus, que judiação...
Mais o nego sem piedade,
Um escravo da maldade,
Começou a me devorar...
Só para ver se eu tinha medo,
Cutucou meu cu com o dedo,
Deu vontade de peidar...
Nesta hora agente grita,
Peida, chora e vomita,
Tudo aquilo que comeu...
Com as calças arribadas,
Perguntei com voz cansada,
"quem será que me fodeu?"...
Já estava amanhecendo,
Meu cu estava ardendo,
Quando entrei no hospital...
Todo doutor que eu via,
Eu implorava, eu dizia,
Que meu cu estava mal...
Viram meu cu de passagem,
Vai ter que fazer lavagem,
Me fizeram gozação...
Mais que ninguém costurava,
Era meu cu que latejava,
Na sala de operação...
_________________________________
O OrCa teve tanto dó que odeu:
"coitada da vovó Bel
que esperava um pincel
veio brocha p'ra caiar
caiou-lhe a casa à maneira
pelas frente, p'la traseira
pintou até se fartar
e o negócio funcionou
quando seu cu cutucou
batendo à porta p'ra entrar...
bem, e por aqui fora, que isto nem dá para acabar..."
19 julho 2011
SECRETOS [eu escrevo-te, Jota]
A noite escorre sangue e tempo, ardendo em amor ou simplesmente TU [alguém] me queima o corpo...
Um girassol serve de lareira, à procura de luxúria. Isso eu sei, porque em ti me quero. Aparece a dança, foi à tua dança que eu me perdi, aberta no meio...
Campos silvestres, campos celestes, levantados e loucos na noite que, entretanto, se faz dia. Vociferante, traz a tua cabeça ao cimo dum monte. A tua mão cresce depressa. Posição. Nela cresce a minha, ansiosa pressa, a turbulência íntima que me chama. A unir. O acaso se desmata, onde se enrola a pedra redonda. Em mim, submissa. Que procura o centro. Meu!...
O ar se debruça na atmosfera terna, calma, secreta espelha à boca do tempo e transforma-se.
Sangue ingénuo sobre as lajes, o amor queima. Maldito, que desce para te dar a beber.
Relâmpago!
É preciso ser Sexo para entender as palavras em transe e só aço deve transpirar através delas, infinitamente. Na obscura pele compacta. Exaltadas. Na espuma que pára para me inundar numa torrente inteligente (por aí dentro). Exigente. De mais. Quente. Faminta. Sobre o cru, vale!...
O nu lugar desaparece. Sei que devo escrever aqui todos os aa do acto, as ferragens da roupa que bate contra o texto, numa escrita em vapores, suores, ecos e pancadas de um, no outro, no lugar do outro. Nu tesão lacrado.
Em mente a tua zona. A minha boca escuta. As distorções das leituras, do teu rosto limite além das minhas neblinas, do meu gosto de ser. Expelida nas funduras do precipício ígnio. Génio. Mastro!
Agora sei o que quero saber, sei o que os teus dedos violinos dizem, quando falam, quando me tocam nas loucas costas, no meu cabelo em fogo. Olhando-te. Sorvendo-te. Empurrando-te. Num poder difundido. Na absorção irredutível.
O nosso amor é um caminho de fomes, embrionárias, e todo ele se enrola pelo lado de dentro. Todo ele se consome com o que em ti cresce pelo lado de fora. Dentro e fora. O nosso tempo é um relevo alto. Uma escrita louca, enquanto a minha voz abdicar do silêncio para aqui viver, escrever cada frase é um mundo, mudo aos olhos de quem me lê.
Para ti é sangue concentrado numa metáfora, a centelha. Paixão. Equilibrio. Rapto.
Os sonhos são estúdios severos, laços ateados, expelindo palavras, na minha e na mente de quem em mim se fecha...
Luisa Demétrio Raposo
*15 de Janeiro/2011
[Blog Vermelho Canalha]
Tentadora
Tentadora.
A oportunidade.
A proposta.
Tentas-me e deslumbras-me
no ruído impessoal
da cidade.
Tentadora a ideia
de te possuir de novo;
a saudade que nos vai
diluindo a vontade
ao longo dos dias.
Tentas-me e partes,
sem que as margens
se beijem loucas e húmidas.
E tentas-me, sempre,
nas palavras sem pudor
que me soletras.
Poesia de Paula Raposo
Fui agraciada com um Galardalho por John Brown, Governador da Califórnia
A imposição da Comenda da (Des)Ordem dos Cavaleiros e Demais Montadores foi feita com pompa e circunstância (seja lá o que for que isso quer dizer), perante várias testemunhas, pelos Condes de Azurva, que a trouxeram de Las Vegas para a minha colecção.
O Galhardalho não é tã'lindo?
O Galhardalho não é tã'lindo?
18 julho 2011
The Gabarola Series (3)
- Eu como as gajas e tá a andar, nem com o meu contacto ficam!
- Porquê, elas deixam assim tão claro que não querem voltar a repetir a experiência?
Metabolismos
Coração sem medo é árvore sem sede, não há o que o faça beber, não há o que o faça viver; seca e morre, sem luta.
Sem amor? Coração sem amor é árvore sem raízes.
Sem amor? Coração sem amor é árvore sem raízes.
17 julho 2011
«No quarto andar em frente» - por Rui Felício
Por essa altura, uma bela quarentona de cabelos pretos de azeviche, veio morar no quarto andar do prédio defronte da minha casa.
Os meus vinte e seis anos, ainda solteiros e viçosos, despertaram ao vê-la à janela, a um sábado de manhã, a sacudir o pó de um tapete, o busto firme e redondo a dançar dentro da blusa preta e justa.
À noite regressava a casa cedo e quedava-me invariavelmente na varanda da sala, fumava cigarros atrás de cigarros a olhar o vai vem do perfil elegante e de formas generosas da minha nova vizinha a cirandar na cozinha com a luz acesa.
Noite após noite, depois de ela apagar a luz, acabava por me estender na cama, com os olhos fixos no tecto sem o ver, a imaginar o que estaria ela a fazer naquele momento.
Construía as mais mirabolantes imagens, adivinhava-a no quarto, deitada de lado, o braço roliço dobrado sob o peito, o respirar cadenciado de um sono calmo, retemperador das lides diárias. E o desejo de estar com ela inundava-me a mente e o corpo...
Fazia planos para, no dia seguinte, ir bater-lhe à porta para lhe dizer que estava apaixonado por ela. Mas logo os abandonava, receoso da reacção que ela pudesse ter.
Não! Tinha que encontrar uma forma menos intempestiva, de proporcionar um encontro ocasional com ela, mas para isso tinha que descobrir quando é que saía de casa, para ir trabalhar ou para ir às compras.
Embora mais velha do que eu, era o género de mulher que me atraía. Cheia, robusta, sólida e, sobretudo, morena de cabelos negros.
Eu perdia-me por mulheres de cabelos pretos! Fazia parte dos meus genes!
No sábado seguinte de manhã, acordei cedo e lá fui, como de costume, para a varanda, na expectativa de a ver sair e tentar um encontro casual.
Passado um bocado, a janela do quarto andar abriu-se e por entre as portadas, vejo sair um tapete oscilando no vazio preso pelas mãos da minha vizinha que o sacudiam vigorosamente.
O corpo dela debruçou-se, pela primeira vez olhou para mim e sorriu-me. O meu coração disparou em incontroláveis e fortes batidas, acenei-lhe de leve com a mão com um leve sorriso, e só então reparei que os seus cabelos estavam louros. Talvez por causa do meu ar espantado, disse-me a rir que tinha pintado o cabelo!
Mandei os genes às malvas e reconfigurei os meus gostos! A partir daquela visão, passei a ser um perdido, um louco por mulheres louras...
Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
A prostituta azul (XIII) - Prestações
Cada gesto assombrado pela memória demasiado lúcida do desejo, uma ilusão quase perfeita da fome era abandonada em cada toque que percorria o corpo dos amantes. Não são apenas os olhos que traem o quadro de espessa tela da ilusão, aliás, nos olhos também podem morar os fantasmas, a intensidade da memória também trespassa o olhar, quem lá pousa o seu também poderá confundir esse brilho com um desejo presente, pois, sim, sim, é nos ombros refeitos de um chumbo que curva a coluna; nos ombros, o peso ostenta o fantasma da solidão. Os amantes julgavam que o corpo da mulher traía o desejo que a voz dela não lhes queria dizer, abandonavam-se àquela derrocada do vazio sobre as suas cabeças, resvalavam para dentro do corpo da mulher, mais fundo do que alguma vez tinham ido com outra; dentro dela, existia muito mais espaço, ela fugia, saía de si para onde os fantasmas a levavam, deixava o espaço aberto, imenso, do corpo vazio - qualquer vazio é maior do que qualquer corpo -, sem que ninguém que a ocupasse conseguisse ver para além da muralha do calor. Ainda sobrava a verdade nos ombros pesados mas, no leito, pareciam vergados ao turbilhão nos lençóis. Era a prostituta mais barata do mercado, desejava estar disponível para quantos amantes a solicitassem, cada um era um comboio para o passado, cada euro pagava o bilhete de embarque para fora de si.
16 julho 2011
Única
Dos beijos que trocámos,
húmidos e apaixonados,
eu guardo o sentimento
do teu sorriso,
e sei de ti (entre as minhas pernas),
sugando a minha vida
e salpicando-me
de loucura.
No teu regresso,
comporei a música que
- ainda -
te falta.
A única música de nós:
a do prazer infinito.
Poesia de Paula Raposo
Patinho cor de rosa da Sephora
Ofereci este patinho, já há alguns anos, à Gotinha.
Num Encontra-a-Funda seguinte ela devolveu-mo: "fica melhor na tua colecção".
É uma jóia, a Gotinha.
Num Encontra-a-Funda seguinte ela devolveu-mo: "fica melhor na tua colecção".
É uma jóia, a Gotinha.
15 julho 2011
Aprendiz de Frankenstein
Os olhos da Elizabeth Taylor.
O nariz da Cleópatra (pronto, admito que não reparo muito em narizes...).
A boca da Angelina Jolie.
O peito da Salma Hayek.
O rabo da Jennifer Lopez.
As pernas da Tina Turner.
O apetite sexual do Shark (pronto, admito que pensei primeiro no Strauss-Khan...).
Oremos
Pai nosso que estais no céu,
Santificado seja o Ricardo Esteves,
Venha até nós o Ricardo todo nu,
Sejam inventadas novas posições,
Assim no quarto como no quintal,
As posições de cada dia e as que só fazemos à noite,
Perdoai os nossos palavrões,
Assim como nós perdoamos aqueles que acabam antes do tempo,
Não nos deixais cair no chão porque a tentação já lá vai,
E livrai-nos de que o preservativo se rompa,
Em nome do Ricardo, do pénis do Ricardo, e dos tintins do Ricardo,
Ah, man!
14 julho 2011
Hoje a funda São traz brinde!
Há por aí algum gajo que precise de explicação para saber como usar esta imagem?!
Agita antes de usar. Se o tamanho não servir, amplia ou reduz à vontade do... freguês.
A Rapariga Vulgar (IV)
(A Maria Multidão sai às ruas, traz nos olhos sem olhar o silêncio constantemente mutilado, uma língua esponjosa derrama o seu tamanho baço para fora daquela boca que cospe palavras numa saliva engrossada pela morte da alma. O deserto avançou-lhe pelo peito, faz muito que o coração se transformou num cacto para não morrer de sede. Noites como esta, só escuro, só chiar metálico de tendões (pouco) humanos, só areia, são apenas a dor da lua, o ateísmo crepita nos risos de estranhos contra a sua pele, o arrepio percorre-lhe a luz que se apaga. Já me cansei de gritar que vão matar a lua, faz muito tempo que já me cansei de gritar. Só a solidão não ofende a beleza do silêncio, coagula-o no seu sangue, dissolve-se e mantém-se viva em mim, chama-me para dentro deste templo de carne e mostra a sua tristeza à lua por todas as minhas janelas sempre abertas.)
A mulher lembra-se, ao amanhecer, do amor que fez com o homem, ao tocar o líquido coalhado que reteve na vagina, nada mais reteve, não sobrava mais memória. Todas as manhãs se toca, sozinha, sacia-se em partes que fingirá saciar à noite, em braços alheios, para que lhe saciem o coração. Fecha os olhos e sonha-se uma rapariga vulgar, como aquela que o marido espreita, envergonhado; sonha que atrai desejo suficiente para lhe saciarem o corpo com mais de três golpes de anca, sonha um auge em explosão de abraços entre a ternura e a luxúria, os seios quentes entregues ao toque flamejante de dedos estranhos, contudo meigos, domados pela sua beleza, as pernas entreabrem-se e chega o grito que a almofada amordaça. Mais tarde, sai às ruas, vai espreitar o quadro do marido, da rapariga vulgar e dos seus amantes imaginários.
A mulher lembra-se, ao amanhecer, do amor que fez com o homem, ao tocar o líquido coalhado que reteve na vagina, nada mais reteve, não sobrava mais memória. Todas as manhãs se toca, sozinha, sacia-se em partes que fingirá saciar à noite, em braços alheios, para que lhe saciem o coração. Fecha os olhos e sonha-se uma rapariga vulgar, como aquela que o marido espreita, envergonhado; sonha que atrai desejo suficiente para lhe saciarem o corpo com mais de três golpes de anca, sonha um auge em explosão de abraços entre a ternura e a luxúria, os seios quentes entregues ao toque flamejante de dedos estranhos, contudo meigos, domados pela sua beleza, as pernas entreabrem-se e chega o grito que a almofada amordaça. Mais tarde, sai às ruas, vai espreitar o quadro do marido, da rapariga vulgar e dos seus amantes imaginários.
13 julho 2011
Desencontros
Na escada, aquela jovem mulher sentada que me olha sem me ver.
Sentada para se sentir apoiada pelo chão, desamparada pelo coração que a abandona quando mais precisa, inerte, olhar desistente concentrado em mim que vou a passar e por acaso prendo a atenção na jovem mulher sentada no fundo daquela escada, sozinha na sua batalha interior, saturada de buscar o amor que a salvaria daquela decadência mansa que a tristeza incute nos olhares perdidos da madrugada.
Ofereci-lhe ajuda com a expressão, tentei estender-lhe uma mão por fracções de segundo mas não é assim que funciona o mundo e a jovem mulher sentada na pedra fria daquela escada seguiu por um caminho oposto ao meu.
Esbracejar
Ergo as mãos aos céus
mas os braços já são ateus
e nem a lua vem roçar-se
entregar-se, olhar-se,
nos dedos espelhados de alumínio
Entre suspiros cresce um domínio
onde sobram o frio, o escuro. O medo
entre dedos espreita o segredo
ensopado pela fadiga
numa cama tão antiga
que o tempo veio maquilhar.
Já aqui veio dançar
o vento que lhe doura o corpo
e o lençol com que nos tapo
já não chega para nos enlouquecer
sequer chega para nos adormecer
porque os nossos braços já são ateus
mesmo que os teus ainda sejam os meus.
mas os braços já são ateus
e nem a lua vem roçar-se
entregar-se, olhar-se,
nos dedos espelhados de alumínio
Entre suspiros cresce um domínio
onde sobram o frio, o escuro. O medo
entre dedos espreita o segredo
ensopado pela fadiga
numa cama tão antiga
que o tempo veio maquilhar.
Já aqui veio dançar
o vento que lhe doura o corpo
e o lençol com que nos tapo
já não chega para nos enlouquecer
sequer chega para nos adormecer
porque os nossos braços já são ateus
mesmo que os teus ainda sejam os meus.
12 julho 2011
pensa [ todas as Vaginas possuem pálpebras]
(...) A ideia. Louca, chama por mim; Inteligente congemina-se no meu pensar quando este sangra obsessivamente palavras que gravitam pelos (meus) quentes baixos, num avançar e recuar; num pestanejar, nas pálpebras, doces, iluminadas por uma extensa inspiração, decorrente; por um rio de sangues, irrigadas, elas escutam as palavras que descem húmidas no calmo halo de um fogo que me morde em toda a minha húmida carne...! (...)
Luisa Demétrio Raposo
[Blog Vermelho Canalha]
Luisa Demétrio Raposo
Até mim
Queria ser uma só nota musical,
aquela que tu sempre tocas
nas músicas que fazes:
eu quero ser essa nota;
ser tocada por ti
a todas as horas,
de todos os dias
da tua vida.
Toca-me e compõe
a mais bela canção de amor!
Saberei que é minha,
dos teus dedos até mim.
Poesia de Paula Raposo
Viva Las Vegas!
A Daisy e o Alfredo Moreirinhas foram a Las Vegas e, pelo que me explicaram, pelas ruas distribuem destes "cartões de visita" em grandes quantidades. Para aproveitarem papel, todos eles estão impressos nas duas faces, com meninas diferentes.
Se alguém quiser fazer uma encomendinha, é só telefonar. Mas não se esqueçam do indicativo internacional.
Se alguém quiser fazer uma encomendinha, é só telefonar. Mas não se esqueçam do indicativo internacional.
11 julho 2011
The Gabarola Series (2)
- Tenho tanto jeitinho para lidar com mulheres que as trato como bonecas de porcelana.
- Tens praticado muito com as insufláveis, não é?
Confissões
De alguns amores, só a dor é bela, tão bela como dedos perfeitos, esguios, delicados, capazes de trazer o desejo ao olhar. São esses dedos, filhos de uma mão feita só de sombras, que retalham, arranham, com as suas belas, imaculadas unhas, no centro mais centro do peito, enquanto esperam, escondidos, a sua presa mais tenra, o amor que sobe aos olhos, para o empurrarem, enclausurarem dentro das órbitas, cego de mundo, prisioneiro em si. Também eu já vivi, também eu já senti, umas vezes prisioneira resignada, outras vezes hóspede fascinada; sobra-me dor na sua perfeição atroz, na sua beleza de gelo; não sei se a tento escrever ou se sou apenas mais uma das suas adendas.
Amo-te. Quando olho para ti, não sinto dor, nada dói, asseguro-te. De alguns amores, só o amor é...
Amo-te. Quando olho para ti, não sinto dor, nada dói, asseguro-te. De alguns amores, só o amor é...
10 julho 2011
«No psiquiatra» - por Rui Felício
Luisa entrou no consultório para mais uma sessão semanal de terapia. O divórcio litigioso tinha-a deixado de rastos e recorreu ao psiquiatra, onde andava há mais de um ano. O preço era alto, tinha que rentabilizar o tempo. Mas os resultados estavam a ser satisfatórios.
Ela sabia que se abandonasse ou alargasse a periodicidade das consultas, iria certamente ter uma recaída grave.
João, o médico, iniciou a consulta...
Uma das suas mãos subiu pela perna feminina, contornou a coxa, e quando agarrou na nádega… descobriu-a nua. A saia erguida até à cintura e as cuecas minúsculas deixavam a nádega redonda completamente descoberta e apetecível.
Ele interrompeu o gesto seguinte e olhou-a, inquisitivo.
– Vim preparada para a consulta, doutor, incentivou ela. Prossiga!
E as carícias continuaram até que ele a deitou sobre o divã.
O seu corpo sobre o dela, as mãos nos seus seios de bicos erguidos, a boca entre as suas coxas, saboreando-lhe o liquido melado e espesso, lambendo a sua humidade, levando-a ao primeiro orgasmo…
Beijaram-se de novo, a língua dele parecia que a devorava, tocando-a nos recantos mais escondidos. O seu beijo, cada vez mais profundo, aumentava-lhe e renovava-lhe a excitação. Deslizava a língua pelos lábios, pelo pescoço, mordiscava e chupava-lhe a ponta da sua orelha.
Luísa, escorregava as mãos pelo corpo masculino, desde a nuca, descendo pelas costas, apertando-o contra si, de mãos espalmadas nas nádegas masculinas. Sentia a força do seu membro endurecido e imaginava-o a rasgá-la até ao fundo, em pleno. Deslizou uma mão até ao fecho das calças de João, introduziu os dedos pela abertura, afastou para o lado as cuecas e, finalmente, tocou a carne dura, quente e húmida do pénis túrgido, de ponta aveludada, já lambuzada.
Ouviu o gemido dele contra o seu ombro e, deslizando para o chão, ajoelhou-se à sua frente, e baixou-lhe as calças. Meteu-o na boca...
Sentia fome daquele corpo masculino, de sexo. Sentia-se louca e só pensava em despir-se rapidamente, despi-lo a ele e pedir-lhe que invadisse as suas entranhas.
Mas a consulta ainda estava no início. Só tinha passado um quarto de hora, e, por isso, foi deixando que a sedução se prolongasse lentamente, que fossem conhecendo cada pedaço dos seus corpos, calmamente, beijando, chupando, tocando, apalpando, sentindo o prazer a dominar cada poro da pele, cada milímetro do corpo.
Olhou novamente para o relógio. Agora já só faltavam 10 minutos. Abriu-se toda e disse ao médico: Foda-me agora, doutor!
Profissional, ele quis certificar-se, previamente, se ela já tinha pago e perguntou-lhe:
- Quando entrou, a secretária, lá fora, deu-lhe o recibo?
Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
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