É por isso que, com o tempo, torna-se mais difícil apaixonar-me por alguém. Um Amor tem que ser forte e intenso, mas não pode acordar os anteriores. Esta verdade não é má. Aliás, é essencialmente boa. Torna o Amor mais raro, mas também melhor. Mais acolhedor.
A saudade de um Amor acorda com as coisas mais simples e essenciais da vida. Uma fotografia, uma canção, um copo de vinho ou um cheiro. Qualquer momento que me transporte para um momento passado de intensa felicidade e ela, a saudade, desperta como se fosse uma princesa adormecida numa história da Disney.
Amar depois dos quarenta é mais assim, sempre com um passado. Às vezes acho que a maior parte das pessoas pensa que dois quarentões Amantes devem esquecer os seus Amores passados. Eu discordo. Devem sempre lembrar-se, mesmo que durante o sono. É a única forma de cada vez se Amar melhor e haver uma hipótese de não sair desiludido da coisa.
Só quem se lembra dos seus Amores passados pode apaixonar-se a sério outra vez, sem ter que fazer um reset à vida para esquecer tudo aquilo que viveu. A esse propósito, quem é que quer ao seu lado na cama quem não se lembra de viver nada? Eu não, certamente.
Marcámos um encontro num bar mal iluminado. Meia hora depois, o copo de vinho dela estava cheio e o meu vazio. Tinha sido assim toda a noite, com ela cheia de tudo e eu vazio de nada, a ouvi-la falar dos Amores passados que eu, por manifesta incapacidade de a Amar, tinha despertado.
Depois acordou. Perguntou-me se estava falar demais da sua vida. Respondi-lhe que a saudade de um Amor nunca morre. Adormece, mas nunca morre.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»