25 junho 2005

Diário do Garfanho - 87

Wouldn't It Be Nice

- No meu tempo é que era, menino: faziam-se piqueniques.
Eu sorrio mas não digo nada, pode ser que a velha se cale.
- Íamos para o campo. Uma beleza, só lhe digo, menino, uma beleza.
Estou a tentar perceber como é que apareceram os piqueniques mas não consigo, a conversa não tinha nada a ver.
- O menino já fez algum piquenique?
E ela a dar-lhe. Aceno com a cabeça negativamente.
- Antigamente é que era... Que piqueniques, meu Deus, que piqueniques.
Não sei se a velha se vai babar ou chorar. Está a vibrar, a delirar. Sorri pateticamente.
- Meu Deus... quero dizer, Deus não tinha muito a ver, está a ver?
"Olá!?" Faço uma cara interessada, que conversa é esta?
- Os piqueniques eram mais coisas do demónio. Coisas do demónio! - A velha ri-se satisfeita. - O prior bem avisava: Deus quer recato, juízo, circunspecção. Sabíamos lá o que era circunspecção e juízo era coisa de velhas. Como eu. Ah! Como eu agora!
Eu faço um esgar entre o sorriso e a dor. A velha não quer saber.
- Mas recatadas éramos... só os piqueniques... só nos piqueniques.
A velha sonha acordada e acaba a sussurrar para si como se eu não estivesse ali.
- Ervas nas costas, vento nas coxas, formigas na...
A velha apercebe-se da minha atenção e acaba a conversa com um sorriso trocista.
- Outros tempos, menino, outros tempos. Vocês pensam que inventaram tudo, pois, enganam-se!
Faço um sorriso amarelo e abano a cabeça a dar-lhe razão.

- Agora diga-me lá, que contribuição é esta que eu tenho de pagar? - pergunta ela.

Garfanho in Garfiar, só me apetece

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