06 junho 2005

ressabiamento

mulher fodida.gif

Estava no café de sempre, mas ela não era a mulher de todos os dias. Saíra de casa ressabiada. O homem deitara-se a dormir depois de um jantar onde os amigos abrilhantaram a festa. Ela ia servindo a comida, fazendo sorrisos de circunstância e tentando parecer inteligente e pouco ansiosa. As amigas, ou as namoradas dos amigos (como perceber quem era o quê?) pareciam tomá-la por empregada ou amante casual, ignorando o facto de estarem em sua casa. Escolheram a música, comentaram a actualidade, filosofaram, sempre de olhos fitos no homem que de vez em quando pedia "Meu amor, trazes mais uma garrafa de vinho?". E o amor dele, a dona da casa onde todos se moviam como se ela não existisse, trazia mais uma garrafa de vinho, de sorriso tão postiço quanto possível, mas que ninguém percebia, nem o homem, perante o qual, nessa noite, ela era transparente.
Deitaram-se tarde. Ele ressonou. Ela, olhando o tecto, não dormia. De manhã levantou-se com dores no corpo e as olheiras espalhadas por todo o corpo. De óculos escuros via a manhã começar o seu habitual movimento. Passavam homens que a olhavam. Cruzou mais as pernas, deixou a saia subir um pouco pelas coxas, casualmente destapou os ombros. Nada de especial, o seu corpo. Mas aprendera em tempos idos a arte da sedução e ainda se lembrava de algumas coisas. Sorriu a um homem. Um que lhe pareceu bem, cabelo molhado, provavelmente saído do banho e dos braços de uma mulher como ela. O homem aproximou-se. Ela não hesitou, puxou a cadeira a seu lado, convidando-o a sentar-se. O sol batia-lhe nos olhos, na pele, a esplanada denunciava uma segunda-feira ressacada. O seu telemóvel tocou ao mesmo tempo que o homem se sentava a seu lado. Do outro lado, ainda no calor dos lençóis, o homem que deixara em casa perguntava-lhe onde estava. Que iria ter com ela daí a quinze minutos. Desligou. Perguntou ao homem a seu lado se tinha pressa. Não tinha. Levantou-se, estendeu-lhe a mão e guiou-o até ao seu carro. Passou pela porta de sua casa. O carro do homem ainda lá estava. Deu mais uma volta, dois quarteirões, e tornou a passar. Viu o carro do homem desaparecer na esquina da rua. Estacionou no lugar deixado vago pelo homem que se dirigia para o café à sua procura. Entraram em casa. Deitou-se com o desconhecido na cama ainda quente. Disse-lhe que não tinha tempo para preliminares nem outras tretas, queria apenas que a fodesse uma vez, duas, três, o que conseguisse, mas dispensava atenções. O homem fodeu-a uma vez. Depois outra. E tinha acabado de enfiar o seu caralho na boca da mulher quando ouviram a porta abrir-se. O desconhecido assustou-se. Ela disse-lhe que não deveria preocupar-se e ajoelhou-se de novo para o chupar. Quando o homem entrou no quarto ela virou-se, lentamente, para a porta. Disse-lhe: "É um amigo, nada de mais." Não voltou a ver nenhum deles.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia