08 junho 2005

Prefácio - por Marca Dor

Aquela mulher aparentava uns 55 anos. Estava no quarto e em cima da cómoda uma moldura com uma fotografia que tinha tirado há cerca de 20 anos. Quanta mudança...
Pegou na moldura e sentou-se na beira da cama. Olhava fixamente para a sua imagem de outrora...
As mãos são a parte do corpo que menos muda, pensava. De repente levantou-se, colocou a moldura no sítio do costume e, num movimento instintivo, apalpa o ventre, a cintura e os peitos.
Há quanto tempo não se via nua! Em frente ao espelho despiu peça por peça, procurando alguma ousadia na "arte" de despir...
Com as mãos afagou o corpo, agora mais mole, mais largo, sem brilho. Há quanto tempo não era desejada!
O homem que partilha consigo a cama, há 20 anos, acaba sempre escondido entre os seus peitos ou adormecido sobre o seu ventre como se fosse almofada.
Por vezes só se abraçam a uma perna ou a um pé, incapazes já de se abraçarem, de se beijarem. Ela só sente o peso do seu corpo que, num vai e vem sem sentido, faz "adormecer" o seu sexo.
Segundos após o clímax, ela finge mais um orgasmo para agradar e fica quieta, aguardando que o seu homem se "enrosque" e adormeça, iniciando a vigília do sono, como uma mãe, ou como uma amante, ou como ambas as coisas ao mesmo tempo.
Depois, quando ele acorda, ela senta-se na cama e espera que o sangue flua normalmente e o formigueiro acabe e nem uma palavra, nem um gesto de amor ou carinho, nada...
Com as mãos massaja a zona da pele avermelhada pela pressão do corpo do homem que sustentou sobre si, naquele acto carnal, já que o amor há muito que se foi, continuando a manter aquela relação de há 20 anos com um penso rápido descolorido e frágil...


Marca Dor

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia