05 junho 2005

Leite fresco - por Charlie

Finalmente chegou a casa. De todas as vezes que saía era a mesma coisa. Homens olhavam para ela com olhares cheios de absolutamente!
Havia os que se aproximavam com um sorriso lascivo e olhos semicerrados, sussurrando-lhe as propostas do costume. Prometendo-lhe paraísos algures perdidos no seu corpo, que eles estariam dispostos a desbravar numa cavalgada heróica pelo império dos sentidos.
Outros ficavam parados nos passeios enquanto os seus olhos falavam mais alto que as propostas dos anteriores.
Havia ainda um outro tipo de homens que do outro lado do passeio lançavam brejeirices, supostamente em piada para alguém das suas relações mas que ela via logo que lhe eram dirigidas.
Contudo hoje a coisa fora diferente. Uma mulher aproximara-se dela. O seu olhar era diferente. Imperioso; quase demolidor.
Olhou bem para ela enquanto lhe disse de imediato:
-Quero-te! E vou ter-te!
Afastara-se sem lhe dar resposta mas ficara perturbada.
A frase não lhe saía do sentido. Toda a tarde mexera com ela.
Agora que estava em casa, onde vivia só desde o abandono do seu companheiro, descalçou-se e tirou a blusa deixando os seus trunfos a acariciar o ar da cozinha.
Abriu o frigorifico. De dentro tirou um pacote de leite. Lentamente encostou os lábios e fechando os olhos deu um golo longo. Sabia-lhe tão bem beber assim... 'Que bom', pensou.
Umas gotas escaparam-se-lhe pelo canto da boca, escorreram-lhe pela face e caindo em cima dum dos mamilos, que ficou imediatamente erecto com o contacto frio do líquido. Passou as costas da mão pelo rosto. Sentia-o ligeiramente pegajoso. Depois desceu e rodou o dedo indicador pelo bico do peito, sentido-se arrepiar. Fechou os olhos, sentindo um gozo interior tomá-la aos poucos.
Parou, suspirou e abriu os olhos. Num impulso inexplicável aproximou-se da janela da cozinha e, sem se expor, olhou para a rua através do cortinado de palhinha que protegia do sol e que agora, quase de noite, era totalmente inútil.
Ali estava ela!
Olhando para cima!
A mulher que a tinha perturbado toda a tarde com uma curta frase dita em tom de mandamento!
Durante um longo instante desviou o olhar. Depois, olhou novamente procurando vê-la. Afastou a cortina expondo-se.
Os olhares cruzaram-se.
Significativos!
Determinantes!
Depois, voltou a fechar a cortina.
Lentamente, dirigiu-se à porta. Pegou no telefone de porteiro e accionou o botão do fecho da entrada do prédio. Abriu o apartamento deixando uma pequena fresta na porta quase encostada.
Depois pôs o pacote novamente à boca.
Umas gotas mais escorreram generosas pela face quando os passos nas escadas pararam de repente e a porta se abriu...

Charlie

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