26 setembro 2006

5. Sopa de Tomate - por Bruno

(se perdeste o filme, tens aqui as cenas anteriores: 1, 2, 3 e 4)

Então sempre queres ir tomar um copo? – olhou-me nos olhos com desconfiança e, mostrando indiferença, baixou o olhar para o jornal. Era o Público.
“Multinacional Gizeh Consulting Services alvo de investigação” – era o título do artigo, que já tinha lido de manhã. Na altura tinha ficado ligeiramente preocupado, pois a minha empresa Rhodes Intelligence ERP’s é parte integrante do grupo. Mas, naquele momento, só interessava resseduzir a Marla.
Adoro mulheres que lêem jornais sérios como o Público. Certamente Freud, explicaria...
- Então, sempre queres ir tomar um copo? – repetiu desinteressadamente com os lábios apontados para o jornal.
- Espera, posso almoçar aqui contigo? – Fugi novamente, aquela pergunta era perturbadora.
- Sim – murmurou frouxamente.
Levantei-me da mesa, e com a estúpida preocupação de cativá-la, decidi comer o mesmo que ela, numa acção de sedutor estereotipado.

Fui para a fila das sopas, e tinha de tomar decisões:
Vou sair com ela?
Vou mentir construindo um cenário Kerneriano?
Que sopa vou escolher?
- Ora... Sopa de Tomate... Sopa de Grão... Sopa de Tomate!
Tinha uma oportunidade de ser eu próprio, deixar-me de filmes, e ser genuíno perante uma mulher que aparentava ser tão natural. Poderia ajudar-me a tirar aquela máscara universal do quotidiano hipócrita. O Alexander Kerner que se foda!
Claro que tinha vontade de sair com ela, para socializar e/ou fornicar? Ou seria apenas o instinto de caçador, para sentir a tal superioridade do caçador em relação às demais coisas do mundo, sem necessariamente comer a presa?

Recolhi a sopa e regressei ao local da verdade e da caçada.

Bruno

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