13 setembro 2006

Riders on the Storm

– Ó pá, larga-me a braguilha, foda-se!
A tipa olhou-lhe para as calças andrajosas e presas por uma guita de cordel, focou os olhos vesgos e ramelosos um pouco abaixo da cintura e respondeu, burilando um escarro que lançou logo depois:
– Qual braguilha?! Isso não tem fecho!
O tipo ajeitou a gravata, passou as mãos pelo cabelo, ajeitando uma madeixa que já não tinha há mais de trinta anos, passeou o olhar pelo amarelento escarro que descia lentamente a parede, pelas calças e pela tipa, que avaliou sem disfarçar, endireitou-se solene, fixou o horizonte e, em tom formal e afectado, very british, fez o favor de declamar:
– Não tem zipper, mas tem botões – fungou ruidosamente –, não deixa por isso de ser uma braguilha!
A tipa parou de brincar com a palhinha do arruinado copo do MacDonald’s, sorveu um pequeno e educado golo de água suja do capitalismo, passou graciosamente o indicador direito pelos lábios, como se tivesse apreciado o que bebera, e, com um trejeito de plácida, mas segura, indiferença, proclamou:
– Qual braguilha, qual carapuça! – Deu uma estridente gargalhada escarninha. – Essa merda não tem botões, pá!

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