23 dezembro 2006

Conto de Natal

Por Falcão.

...O negócio é a mulhé. Cê sabe? Ela trabalha,né? Eu faço a protecção da minina...

Ena cum filha da puta, que está um frio do caralho a tapar de branco as minhas bouças e quase não se vê nada de outra cor...
Chegou o Natal e ande tudo cheio deste ambiente que nos enche de sorrisos à volta duma boa chouriça regada com o sumo do pipo lá no barraco por trás da casa.
Gosto de juntar uns bacanos do caralho, tudo canalha dos meus tempos de miúdo, e contar umas histórias das antigas. Hehehehe que o Natal traz caras que ande no estrangeiro e juntar tudo é uma festa. Durante dez dias é ora na casa de um, ora na casa de outro. Aqui todos fazem uma pinga e andemos ao despique a ver qual tem o vinho melhor.
E foi numa destas voltas quando íamos provar um presunto lá para a cozinha do Joaquim da Zarolha que está na Suiça e que casou com uma prima minha que é melhor que o milho, que vimos o calmeirão. Estava parado de mãos nos bolsos, mandando bufadas de ar no frio na manhã.
Parámos a perguntar baixinho uns para os outros quem era, mas ele viu-nos e atravessou a rua.
- Ôi pessoau, como estão cêis? Tudo beim?-
Ficámos a olhar para ele. Depois eu avancei e disse:
- Ei cum caralho, o que faz um Brasileiro aqui no fim do mundo? Venha beber um pingo aqui com o pessoal, óh bacano. –
Ele veio, e foi já com um pingo a embrulhar uma raspa de presunto com broa que ele contou o que fazia por ali.
- Céis sabem, né?... Um cara tem dji sacá uma grana! A coisa tá preta.... Tá fáciu não! Tem muito cara por aí, né?, que não gostam di Brasileiro, não. Falam dêssi negócio de emprego. Qui Brasileiro vem tirar trabalho di Portuguêis. Precisam di se preocupar não. Trabalho não é comigo.- E riu-se.
- Então se num trabalhas, vives do quê, caralho?- disse-lhe eu.
– Foda-se tu és rico, ou vives do ar...-
Olhou para mim, fez uma pausa e disse-me depois duma golada:
- O negócio é a mulhé. Cê sabe? Ela trabalha, né? Eu faço a protecção da minina.
Você topa? Né? Vou na cidadji no ônibus deixá a minina no Bar onde ela trabalha e dispois vou buscá ela mais tardji. Aí dá grana, né e para o mêis qui veim a genti está pensando em arrumar aí um carro, né? É melhor que esse negócio di ônibus. A genti pensou em mudar pra cidade mais aqui é mais sossegado, né. Dá pra discansá..
- Ai, ela trabalha num Bar... - Disse-lhe eu. – E com o trabalho dela dá para tu viveres sem fazeres um corno... Então escuta lá uma coisa, oh bacano do caralho. E quanto é que ela leva por uma geralada aí pelo pessoal?-
Bom, o gaijo, cum filha da puta, ficou assim a olhar para mim, num sei se era meio fodido se não, mas eu fui sempre pão, pão; queijo queijo. E pus-lhe mais uma pinga no copo inquanto o Joaquim a rir-se baixinho lhe aviava mais um naco de broa a pingar de presunto.
- Pois oh bacano. - continuei. -Pode ser já amanhã, caralho! Ela descansa do Bar e em vez de ires levá-la ao entardecer e buscá-la de manhã como dizes que fazes, fazemos uma festa, ela fica por cá e faz o dia. Bebes uns copos. Então o que dizes, oh meu caralho? -
Então, perante o esvaziar do copo e o acertar com desconto o número de notas de vinte que ele ia abarbatar, demos-lhe umas boas palmadas nas costas e dissemos-lhe satisfeitos... Bebe aí mais um, oh bacano!
E depois a rir para ele, disse-lhe piscando o olho:
- Ei caralho. Cum filha da puta. O Pai Natal este ano é mesmo Brasileiro... hehehehe. Toca aqui-
E os copos tilintaram.
Falcão

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