31 dezembro 2006

Ecossistema


Naquele tempo, enchia-o de longas conversas, telefonemas e oferendas para não dar azo à mínima dúvida de que o havia escolhido como objecto da minha paixão. Palavra de Maria!

Mas o gajo, moita-carrasco, chutava para canto algum duplo sentido e repetia a lengalenga de como é bom ter amigos que até parecia que me estava a dar sopa não fosse o fino recorte do seu orgulho me levar a pensar que gajo que se quer afirmar como gajo precisa do faz-de-conta que é o caçador.

Preparei a pantomina da presa, diminuindo os contactos de moto próprio até estalarem os telefonemas a questionar a ausência para lhe fornecer a resposta batida da falta de tempo, de tanta coisa mas tanta coisa para fazer que me esquecia de tudo, sempre dito com tal terna modulação de voz que lhe ressoava na caixa das ideias como a música do "esta já cá canta!"

De modo que quando me convidou para jantar em vez do trivial almoço ou cafézinho, escolhi um cómodo conjunto de cuecas e soutien em algodão que à primeira os gajos nunca observam o que trazemos como roupa interior tal a ânsia de ver a carne exposta e, demoradamente seleccionei uma fragância fresca e floral que os gajos gravam é os cheiros no disco rígido da memória.

No final da atrapalhação e rapidez da primeira teci o maior sorriso que a desmoralização nunca levou ninguém a melhorar a qualidade e quando chegámos à quinta, na vantagem de não se ter ainda três décadas e porque ele até já me conhecia, desabafei para o meu querido amigo que valia mesmo a pena entendê-lo todinho.

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