13 dezembro 2006

A vida tal como ela é

Posso vir-me ou queres que te foda?
Hã?!
Depressa! Posso vir-me ou queres que te foda?
Quero que te vistas e te ponhas a andar!
Desculpa?
Não ouviste?!
Queres que me vá embora?
Quero.
Por te ter perguntado?
Sim.
Mas, eu pensava…

Foda-se! Custa-me escrever isto!
Foi contigo?
Não, mas gostava que fosse…
Dizias aquilo?!
Achas?!

Se eu soubesse que escrevias isto, não te tinha contado nada!
Porquê?
Não me contaste para eu escrever?
Sim, mas não para escreveres isto.
É verdade…
Verdade?! Sabes lá o que é verdade!

Quem é que te contou aquilo?
Hã?!
Quem é que te contou?
Ninguém…
Ninguém?!
Pois.
É ficção?! Foste tu que inventaste?!
Fui…Pareces pouco convencido e ainda menos convincente… Não queres dizer não dizes!

O que é isto?!
Isto o quê?
Esta história!
Qual?
Esta! Esta do “posso vir-me ou queres que te foda?”!
Ah! essa… sim… O que é que tem?
Querias que fosse contigo!?!
O quê?
Querias ser tu a estar com ela?!
Eu?!
Quem é ela?!

E foi isto.
Mas era ficção?
Era.
Tudo?
Quase…
Infelizmente, acabou a nossa hora, para a semana continuamos, pode ser?
O doutor é que sabe.
Garfiar, não é?
É.
Vou lá ver… Até para a semana.

E o gajo não lhe disse mais nada?
Não…
Foda-se, que psiquiatra da treta que você arranjou.
É, não é?
É, mas atenção!, isso não é razão para saltar. Temos de ter calma.
Temos?

E depois?
Ele saltou!
Saltou?!
Mas morreu?
Quando saltou não, foi só quando bateu no chão.

E como é que era a frase do princípio?
“Queres que te foda ou posso vir-me?”
E quem é que disse isso?
Não sabemos.
E a quem é que disse?
Também não sabemos, pá, ele saltou antes de chegar a esses pormenores.

Suicídio?
Sim.
Está um bocado maltratado…
Décimo quarto andar, doutora.
Está aqui todo?
Não, está ali uma parte no balde.
E sabe-se a história?
Uma coisa qualquer a ver com uma frase e com um texto…
Então?

Amo-te muito.
Também te amo muito.
Posso apagar ou vais ler?
Estou cansada, vou dormir…
Algum morto que fugiu?
Não brinques, tive de montar um que estava todo às peças…
Acidente?
Suicídio. Atirou-se de um décimo quarto andar…
Bolas! Porquê?
O Nunes diz que foi por causa de uma frase.
Uma frase? Conta lá essa.

E depois?!
Sim, o que é que tu tens a ver com isso?
Ó pá, foda-se, o gajo matou-se por minha causa!
Por tua causa!? ‘Tás maluco ou quê?!
A frase que a minha mulher me disse que o gajo tinha dito…
Sim…
Fui eu que a disse.
Tu?!
Sim. Fala baixo, porra.
A quem?
A quem o quê?
Disseste a frase a quem?
Não conheces e isso agora não interessa nada.
E a tua mulher sabe?
Sabe o quê?
Que foste tu que disseste isso e o gajo se matou por tua causa?
Achas?! Claro que não!

E o gajo disse-me isso, ‘tás a ver?! E, ainda por cima, o outro matou-se!
E contou-te?
Pois foi, o homem estava à rasca!
Para se vir… não aguentava nem mais um bocadinho?
Não, estava à rasca com remorsos…
A teoria do caos. Se uma borboleta bate as asas em Pequim, pode haver um tufão no outro lado do mundo…
Pois, é capaz…
E ela?
Quem?
A mulher a quem disseram isso?
Não sei, se calhar a esta hora está em Pequim, sei lá…

Quer dizer que achas que ele sabia que era eu?
Não! Acho que ele disse aquilo ao calhas… como eu tinha falado em Pequim, estás a ver?
Mas porque é que tu foste falar em Pequim!?
É da teoria do caos, a borboleta bate as asas em Pequim…
Qual Pequim, qual carapuça, a borboleta bate as asas num lado qualquer.

E deixou de te falar por causa disso?
Foi, estás tu a ver…

É aquele!
É?
Tenho a certeza! Não foi ele que veio todo partido e se tinha mandado de um vigésimo andar?
Foi, mas o outro era do décimo quarto…
As pessoas gostam de exagerar e assim arredondaram… Décimo quarto, vigésimo… O que interessa é que é ele! Tenho a certeza! Esta é a campa dele!

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