Quando
o viu aproximar lembrou-se de Florentino Ariza. Do Florentino Ariza que
imaginou enquanto lia “O Amor nos Tempos de Cólera”. Faltava-lhe o chapéu mas
de resto parecia-se com a imagem que fez da personagem enquanto a meio da vida
adulta aquele se embriagava em sexo clandestino. Imaginara-o mais novo e mais
alto. Mais descontraído e – via-o caminhar na sua direcção abrindo um sorriso
tímido, incerto – mais leve. Até o ver nunca tinha pensado em Florentino Ariza
mas agora, sabia-o com a certeza dos factos demonstráveis cientificamente,
nunca os conseguiria dissociar. Nunca vira o filme mas tinha a certeza que o
homem que parara à sua frente era muito mais aquele que o Bardem.
–
Olá – cumprimentou-a o homem, abrindo um sorriso radiante que se espalhava pela
face e pelos olhos.
–
Olá – respondeu ela, aceitando os beijos que ele lhe deu.
–
Acho que nem precisava do livro – gracejou ele.
–
Para me reconheceres? – Perguntou ela, atabalhoadamente, sem conseguir decidir
se lhe falava na parecença que lhe achava com a personagem literária. Havia
muitas conotações e variáveis. Havia muitas ou nenhumas explicações para dar.
Havia ideias e juízos que ele podia ou não fazer. Calou-se.
–
Sim, claro – respondeu ele, sorrindo, enquanto esticava o braço, apontando para
a esplanada onde se iriam sentar. – Vamos?
–
Sim – disse ela, começando a caminhar. Ele parou para lhe dar passagem. Ela deu
dois passos e voltou-se para trás. Não era Fermina Daza. Não era Fermina Daza e
não ia ser mais ninguém. Esticou o braço e deu-lhe o livro que lhes servira da
senha: – É para ti.