01 junho 2005

Iludiu-se com os meus gestos largos, a língua solta, a atitude despudorada e descomplexada. Na primeira noite não passámos dos beijos, das mãos perdidas, dos calores, das roupas atrapalhadas no banco traseiro do seu velho Toyota branco, parado no parque de estacionamento. Na segunda noite, ambos sabendo ao que íamos, estendemos o saco-cama no canto mais escuro do recinto do Festival. Ouvíamos a música, Pixies, não sei já em que canção, ao longe, no palco principal. Fogosa eu, ardente de um desejo ainda mal controlado, fruto de ter conhecido isso do sexo com um só namorado e depois, durante 3 ou 4 meses ter ficado à deriva, consequência de um amor juvenil e mal acabado. Ele ansioso, inseguro, tanta vontade mas tanto medo a pairar sobre si. Eu, com a inicial aparente segurança, pensava: “O que vamos fazer é sexo. Nada de amor. Amor sentia eu pelo outro. Por este não pode ser mais do que sexo. Conheci-o ontem. Não deixámos de estar pedrados desde então.” O que eu não sabia era que para ele isso de foder não tinha ainda passado dos filmes emprestados pelos amigos, dos livros e revistas descobertos na arrecadação lá de casa. O que eu não sabia era que ele esperava de mim o que eu mal tinha ainda aprendido.
Já nus, suores de fibra de saco-cama, de desejo e de ansiedade, na atrapalhação de tentar enfiar em mim a sua pila que mal vi, na pouca luz de lua que nos envolvia, ele disse-me: “Tens de me dar uma ajuda. Sei como é, mas nunca fiz.”
Pois. Eu tinha acabado de perceber isso mesmo. Podia ser só falta de jeito minha, ainda arrisquei pensar. Mas não. O rapaz era virgem. E eu pouco menos do que isso.
A minha generosa mão desceu então, cega, à procura da pila virgem e pululante. Guiei-a com o jeito que então me assistia e fi-la entrar lentamente. Ele começou a balançar-se dentro de mim, de um modo brusco e mecânico que hoje, à distância, me faz sorrir quase maternalmente, e rapidamente se veio, escondendo no meu pescoço o seu rosto.
Não tornámos a ver-nos. Telefonou-me ainda durante algum tempo. Dizia-se apaixonado por mim, claro. Por mim, pouco sabia, mas nesse pouco sabia que não era paixão o que ele sentia. Seria antes qualquer coisa da casa da gratidão enleada nas malhas de um compromisso que nunca o foi.
Quando o Festival acabou e a erva e a cerveja também, deixei-me ficar na relva, escondendo o frio no mesmo saco-cama que nos albergou, vendo sair os mais apressados, olhando distraída os que, como eu, se esqueciam de ir embora e, entre um cigarro e outro, percebi que me tinha libertado de paixões e de tabus, que o meu corpo era livre. Que, mais do que isso, eu era livre. E comecei a viver.

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