02 dezembro 2006

A vizinha e a morcela


por: Falcão

... por aí em Lisboa quem abafa o salpicão tem o futuro garantido.

Cum caralho!
Ena que já num vinha a esta página há um bom par de dias, e pouco mudou, caralhos me fodam e me refodam! Continua a paleiraje a entrar em forte, mas prontes; deve ser essa coisa moderna do lóbi guei. Ouvi dizer que por aí em Lisboa quem abafa o salpicão tem o futuro garantido, arranjam empregos, os bons taichos, televisão, lugares nas revistas e jornais e até dizem que vão para a política.
Pois que se fiquem por lá, que aqui no Norte é tudo gente à antiga. Quem for paneleiro que se foda. Já sei que há nesta página quem num goste da forma cumo trato a paleiraje, por isso fico-me por aqui. Adiante para pôr a cunversa em dia.
Andei a tratar das minhas coisas lá nas bouças que isto com o que choveu foi tudo para o caralho mais velho, cum filha da puta que ou há-de ser tudo queimado de Verão com os filha da puta que deitam fogo aos nossos haveres, ou então vem uma chuvada do caralho que num pára e fode tudo água abaixo!
Foda-se que num sei onde li ou ouvi, que nem tudo o que nos fode é erótico, mas tem toda a razão de se dizer, e ando fodido e refodido cumó caralho!
Bem mas agora estou a beber um verdasco cá do Norte, tirado de barriga encostada ao pipo, a rapar uma boa fatia de presunto de Chaves e por isso mesmo lembrei-me duma coisa que aconteceu aqui há atrasado, ainda não tinham começado as chuvas.
Ena. Isto é do caralho. Mais abaixo tenho duas vizinhas, mãe e filha.
A mãe é viúva já há uns anos e tem uma filha, a Adosinda, moçoila dos seus dezassete.
Estava a mãe à porta a chamar a filha, ao fim da tarde:
- Oh Adosiiiiiinda! Vem cá.
E a moça nada, donde eu estava num ouvia responder.
Passou-se um minuto ou menos. A mãe repetiu; desta vez com mais força:
- Oh Adosiiiiiinda! Tu num ouves?...
Nada. Nem resposta. Mas eu estava no meu barraco encostado à parte de trás da casa onde tenho os pipos de verde. Salpicão, morcelas e o presunto pendurado, um sofá a um canto e onde às vezes ponho o carro.
Vim espreitar por uma fresta. E lá estava ela encostada a um pinheiro de conversa cum o filho do Abuim padeiro, um que é casado e mora numa freguesia, nuns casais, a seguir a uma aldeia aqui ao lado. Ena que a cachopa é de sangue quente, atiraram-se um ao outro, e o gaijo mete-lhe a mão e no melhor ouve-se o grito, desta vez parecia os travões dum cumboio a chiar:
- Oh Adosiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinda. Tu vens ou num vens, filha duma granda puuuta?...
- Vou já minha mãnhe.- Respondeu ela de imediato enquanto se arranjava e se despedia do calmeirão.
Ena, cum caralho! Fiquei logo com a pulga atrás da orelha, atravessei a casa para cuscar a vizinha que estava do outro lado a chamar a cachopa e apreciei-a. Deu-me um filha da puta dum tesão que até me fez doer o corpo, caralho. Olhei bem para ela. Ainda estava capaz de dar umas cambalhotas, e da forma cumo chamou a filha e ela respondeu logo…
Bem! Bebi mais um caneco para alegrar e depois fui ter com a vizinha a ver se lhe levava um garrafão do meu verdasco e lhe oferecia uma morcela, à escolha dela aqui no meu barraco.

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