30 janeiro 2010

Livro de Eros (fragmentos)

por Casimiro de Brito

538

O sexto sentido é o tesão, a tensão sexual, masculina e feminina. Não, como desejava Scaliger, o “alacritas” do homem mas o desejo álacre e nostálgico de ambos os sexos, a aspiração de fusão que experimenta o retorno de uma fusão antiga, na matéria, uma memória do êxtase material. O sexto sentido que todas temos naturalmente, pedaços que somos, restos de acaso, da Natureza, desejantes e expelentes. É o sentido que mais se aproxima e nos aproxima do caos primordial — mas há um caos mais primordial do que este, aqui, agora?


549


Acabo de chegar. A ilha do meu quarto está gelada. Nas tuas pernas frias estrelas eu beberia; estrelas que devolveria ao céu acolhedor da tua boca.

559
Canto o ser, a carne desejante e sangrenta, ou é ela que me canta e fecunda?
Devoro as bocas que me devoram.


938
Quando se faz amor devem-se destruir todos os relógios da casa.





963

Quando nos vimos regresso a países do antigamente. Tu, não sei o que sentes. Houve uma vez em que disseste que te sentias uma boca que me queria comer. E depois que me queria expulsar para poder comer-me mais vezes.






Fotos da colecção de Mafalda Bettencourt

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