30 abril 2010

Deixa-te em paz

Deixa-te estar onde não te consiga alcançar a minha mão ou mesmo o olhar, ilusão, que te adora a prudente distância, como recomenda a prudência quando o fruto é proibido e o pecado é garantido pela mais ténue cobiça.
Deixa-te estar onde apenas o pensamento alcança e o tempo aniquila qualquer esperança que possa trair a lucidez, inatingível, para que não seja concebível qualquer desvio ao rumo traçado, qualquer gesto mais tresloucado que resultaria em catástrofe emocional.
Deixa-te estar onde afinal é o teu lugar e permite-me evitar a memória do momento em que um estranho cruzamento de caminhos, coincidência, desvendou a existência de uma vida sem lugar para mim.
Deixa-te estar assim, distante, que só o facto de estares ausente me protege de tentações, de me enredar em emoções demasiado intensas que não passam de pequenas peças de um puzzle onde não me deixas encaixar, de um teatro tão amador que não concede margem de manobra sequer para alimentar um sonho qualquer quando fecho os olhos no camarote de onde assisto, a prudente distância, como recomenda a prudência quando os dedos anseiam tocar tudo aquilo que me oferece o olhar ou a recordação que me acelera o coração, à tua passagem pela vida que só me inclui em pequenas parcelas e na maioria delas não passo de um figurante acidental.
Deixa-te estar como é normal na tua forma de encarar o presente, uma mulher independente que não hesita soltar o lastro depois de apagado o rasto deixado por quem teve, como eu, oportunidade de olhar para o céu mas depois o perdeu por detrás do nevoeiro que se instala a tempo inteiro em teu redor quando o futuro te soa melhor assim, à distância, no aconchego de uma solidão acompanhada ou de uma companhia mais adequada ao que te apeteça sentir.
Deixa-te estar, não precisas responder às perguntas repetidas que não passam de causas perdidas de um mero peão nesse tabuleiro onde és rainha poderosa, uma torre com parede rochosa quando entendes jogar sob regras que não pretendes, na realidade, definir, pois a tua vontade de decidir é soberana e só fazes o que te dá na gana e sem ceder a pressões.
E eu deixo-me ficar, sem ilusões, num canto secreto onde tento permanecer tão discreto que acabes por me deixar, à distância, a negar em vão a tua importância enquanto os meus olhos fechados servem de telas para os filmes passados, vidas paralelas, neste espaço interior onde projecto histórias de amor que não passam de ficções para entreter os corações de quem se deixe estar, como tu, a observar ao longe, de fora, o futuro que finge agora tudo aquilo que pareceu num passado que apenas o prometeu.

Canção de amor


Gosto das canções de amor
Embaladas na tua voz
Como se a música
Chovesse prateada
Em torno do meu corpo
Emudecido.

Gosto de te ouvir
Nas canções de amor
Que a tua vida não calou
E que cantas ainda
Sob um feixe de luz
Na madrugada aquecida
De um quarto de hotel.

Adormeces-me em desvario
Quando assim me embalas
E a chuva é prateada
E o vento se torna poema
Na tua canção de amor.

Foto e poesia de Paula Raposo

A erecção do Primeiro-ministro



HenriCartoon

IBIZA FUCKING ISLAND



INÉDITOS (2006)
Lápiz sobre papel Gvarro esbosos
Formato DINA4
Click en las imágenes para ampliar

29 abril 2010

O Brilho das Pessoas Felizes

Ela falou e ele ouviu.
Ele falou e ela ouviu.
Falaram os dois e nenhum se ouvia ou ouvia o outro.
Discutiram.
Ela pôs um ponto final na conversa:
– É assim, Bernardo: a decisão está tomada, ponto final. O que há para resolver é só a forma de o fazer, mais nada.
Ele grunhiu e esbracejou como um louco furioso numa luta contra um poderoso inimigo imaginário, provavelmente, um polvo gigante com capacidades mediúnicas e de desmaterialização, tal era o empenho anárquico dos seus movimentos e a desconcertante placidez das suas pausas e, no fim, sentou-se.
Ela manteve-se quieta, de braços cruzados, contemplando o espectáculo.
Ele pousou os cotovelos nas pernas e enfiou a cabeça entre as mãos, soluçando.
A mulher hesitou entre o silêncio e o ficar calada. Ponderou e decidiu nada dizer.
– Sabes… – começou o homem, sem erguer a cabeça – eu esperava muita coisa mas isto não. Isto, agora, definitivamente não.
A mulher em silêncio, encostada ao umbral da porta, ponderava ainda se havia de entrar na conversa quando ele continuou, depois de se certificar de forma furtiva se ela ainda estava lá para o ouvir.
– Não sei mas se pensei que isto nos pudesse acontecer… E pensei, reconheço. Houve alturas em que pensei seriamente nisso. Houve tempos em que achava que tu tinhas razões, tal como houve outros em que achei que era eu que as tinha. E fases em que tudo se podia desmoronar e, justificadamente, terminar, não acho que agora aja… – A voz embargou-se-lhe e levantou a cabeça para a fixar, respirou fundo, limpou os olhos com as costas da mão direita e concluiu num repente: – Agora fui apanhado de surpresa, completamente de surpresa!
– Foda-se, Bernardo – replicou ela, em tom só ligeiramente irritado, em que os palavrões só sublinhavam a sua contenção e enfado. – Mas porque é que tu és sempre tão teatral, caralho!
– Bolas, Patrícia, sabes que eu não gosto que digas palavrões – censurou o homem. – Evita, por favor.
– Vai-te foder – respondeu ela. – Vai-te foder mais a tua educação de merda! Não queres palavrões não te portes como um miúdo, não te ponhas aos saltinhos como se estivesses a levar choques eléctricos nos colhões, como se te tivessem atado o caralho a… a… a sei lá o quê, a uma merda qualquer que não pare, não esteja quieta e ande para todo o lado… Se não queres palavrões, comporta-te, foda-se! Deixa de esbracejar como uma menina, deixa de bater nas coisas e de saltar como se tivesses molas nos pés.
– Eu estou parado.
– Agora!
Ela saiu da sala a resmungar:
– As pessoas felizes brilham… Nós não. Nós estamos cada dia mais cinzentos e baços… Chega!
Ele ficou sentado e gritou:
– É porque comem pirilampos!… Essas pessoas não são felizes, Patrícia, essas pessoas comem pirilampos! São assassinos viciosos e maus! São comedores compulsivos, viciados em pirilampos para brilharem!… Ninguém brilha por si… ninguém brilha por si… Não há pessoas felizes… ELES COMEM PIRILAMPOS!

Beijo



Onomatopeia

O grito seco de madeira. A mão contorna o ar.
Fugiu, encheu-se de vácuo. Outro circulo, o vácuo.
Enche-se de anéis, tocam os seios nus. Ajoelhar.
No início não tem fim. Começa num rosto ingénuo
feito de lábios. Dedos. Água. Vento. Fogo. Respirar.
É feita de sede, a língua; faz o tempo pingar, inócuo.
Violento. Manso. O cabelo molhado de instante a afogar
a boca na fome. Entrançar o lilás teu no cabelo. Destruo
o dois. A palavra dois. Um. Pernas. Espaço. Apertar.
Cerrar grades. Conter. Não sai mais. Guardar. Concluo.
Um grito seco de madeira estremece e não corta o ar.

LIBERDADE Tenga

Para os homens e mulheres que ainda tem alguns preconceitos em relação à masturbação, chegou TENGA, um brinquedo para estimular o pénis, com diferentes formatos permitindo assim diferentes estímulos.

É tão baratinho que vale mesmo a pena experimentar... AQUI

28 abril 2010

Diálogos maduros...

Por Charlie

... o que é feito dessa jovem maravilhosa?...

Olhando vagamente para a linha-mar do horizonte emoldurado pela vegetação típica daquelas ilhas e que os abastados do mundo tinham transformado nos resorts para onde transportavam durante uns dias os tiques do modo de vida do qual pretendiam descansar, moveu as excrescências adiposas e voltou-se para a companheira.
Mesmo junto a eles tinham acabado de passar duas estampas de mulher. Lindas e jovens, de corpos a desafiar a mente em lances sucessivos de poesia, vinham ajeitando os bikinis ao mesmo tempo que sacudiam os incómodos grãos de areia. Um apetite, pensou deliciado mordendo o que restava da sandes.
Rodou lentamente a bebida de enfeites ridículos e incaracterísticos que os seus dedos gordos seguravam, sorveu lentamente pela palinha multicolor, e enquanto seguia as linhas sinuosas dos movimentos de ancas deixou escapar:
- Lembras-te como começámos?-
Ela mirou-o por detrás dos óculos de sol que lhe cobriam totalmente os olhos. Sem dizer palavra imitou o gesto e deu um golo também na sua bebida.
- Se me lembro...-
E fechou-se de novo no seu silêncio, olhando por trás do conforto anónimo das lentes escuras que lhe permitiam, cómoda e despudoradamente, olhar para onde muito bem lhe apetecesse.
- Éramos então tão jovens...Acho que tu nem tinhas ainda feito os dezoito.
- Já tinha dezoito. – Interrompeu ela.
- Pois. Mas terias talvez mesmo acabado de fazê-los...-
- Enganas-te, que uma semana depois de nos termos juntado fiz os dezanove.
- Bem, isso pouco ou nada interessa. - acrescentou ele à pressa e já visivelmente agastado – A verdade é que éramos tão jovens, tão pobres mas tão cheios de sonhos e crentes no futuro... Lembras-te da nossa primeira casa? Um terceiro andar na parte antiga, o chão a cheirar a tábuas velhas... E os alguidares, baldes e latas que púnhamos por toda a parte quando chovia?
- Sim, lembro-me. – respondeu novamente em tom vago enquanto voltava a atenção de forma explícita para um belo exemplar macho que a poucos metros passeava os seus bíceps junto à mansidão cálida das águas turquesas.
Uma pausa sobreveio levando os olhares a divagar pelos areais, pelas águas, pelos corpos expostos, pelos pensamentos.
- De alguma maneira tenho saudades desses tempos, da paixão que nos consumia, da entrega genuína em sessões infinitas de amor. - Recomeçou fazendo uma curta pausa.
- Agora... - continuou - temos uma mansão enorme, carros de alta cilindrada nas garagens, casa de praia e de campo... A vida sorriu-nos, viajamos várias vezes ao ano, fizemos fortuna, mas por vezes... Sabes? Por vezes sinto a nostalgia da juventude e simplicidade desses tempos...-
Ela escutara em silêncio. Ajeitando a alça do fato de banho, olhou para ele, fez a linha do olhar passar por cima das lentes escuras e parou fixamente nos olhos do seu companheiro.
- Escuta, se tens saudades desses tempos é fácil. Pegas numas destas jovens de dezanove anos que passaram aqui agora mesmo, e que armado em basbaque tu ainda não paraste de mirar, e os meus advogados põem-te num ápice de novo e cheio de sonhos num terceiro andar com goteiras a morar com ela...
Num compasso de espera antes da réplica ficou a mirá-la, às marcas que o tempo acrescentara na pele a anos de exageros trazidos pela abundância.
- Lá estás tu com o mau feitio do costume. Porra! Diz-me lá o que é feito da jovem maravilhosa que conheci nessa altura? Fico a pensar o que é feito dela quando me ponho a olhar para ti...
- Querido... Não sabes o que é feito dela, dessa jovem que conheceste? Não sabes? Pois olha-me para essa tua enorme barriga... Está toda aí. Comêste-la! –

Saudade

É entre o ventre e o peito
que nasce a tempestade;
dedos de paz, mãos de leito,
sabes, quando nua em ti me deito
adormece, tão nua, a saudade.
Sabes, azul com sabor a verdade,
é por isso que tudo aceito;
sabes, o tudo de sabor desfeito
nada ao sabor do corpo e a ansiedade
que faz ferver a pele da cidade,
depois, lenta, alaga-a pelo porto.

Do Celibato. Influencia do celibato sob o ponto de vista geral e sob particular.


I. O celibato é o estado das pessoas que, tendo atingido a edade nubil, não se submetteram ao jugo do casamento. Devem collocar-se n'esta categoria não só aquelles que, por efeito de disciplina religiosa, fizerem voto de guardar castidade, mas tambem os eunucos, os chamados ordinariamente celibatários, as prostitutas, os viuvos e as viuvas. Considerado sob um ponto de vista geral, o celibato é contrario à nossa natureza e aos nossos destinos. «Não é bom que o homem esteja só» disse o Eterno (Genesis II, 20); aplicado em grande escala, seria attentatorio da conservação da especie e em contradicção formal com o mais antigo dos preceitos que Deus deu a nossos primeiros paes: Crescite et multiplicarnini replete terram: crescei e multiplicai-vos e enchei a terra. (…)
No ponto de vista individual o celibato offerece usualmente mais inconvenientes do que vantagens. É nessario que o homem obedeça às leis da natureza, para que o equilíbrio das funcções, d'onde resulta a saude, se estabeleça. A continencia absoluta é uma desobediencia às leis de Deus e d'alguma sorte uma impiedade. Em geral, as pessoas casadas vivem mais tempo do que as celibatarias. (…) Não é sem rasão que se accusa o celibato de desenvolver o egoismo, de expôr às paixões baixas, brutaes e contra a natureza. «Nas mulheres, diz M. de Vaulx (1), a falta de satisfação das necessidades physicas e moraes do amor produz muitas vezes a perda da frescura, da gordura, da inergia muscular; uma espécie de chlorose lenta consome-as e póde estabelecer-se em these geral que se ha alguma doenças que se aggravem n'ellas sob a influencia dos deveres do casamento, ha tres vezes mais das que o celibato faz nascer ou desenvolver; no homem, o celibato põe não só obstáculo à satisfação de desejos muitas vezes imperiosos, mas arrasta-o às tabernas, às casas de jogo, aos logares suspeitos, e podemos convencer-nos, consultando as estatisticas criminaes, que faz nascer n'elle o pensamento do suicidio, do assassinio e do duello, e affasta-o das ideias religiosas e dos sentimentos de tolerancia.

(1) Guide pour te traiternent des rnaladies veneriennes à l´usage des gens du monde.

SERAINE, L. (19??) Da saude das pessoas casadas ou physiologia da geração do homem e hygiene philosophica do casamento : theoria nova da procreação varonil femenina, esterilidade, impotencia, imperfeições genitaes, meios de as combater, hygiene especial da mulher gravida e do recem nascido.
[S.l. : s.n.], ( Porto : -- Typ. Commercio e Industria) - p.162-164

Abençoado artista que pintou tão bem a minha cara chapada e o meu corpinho danone!

"Sãozinha,
Aqui vai para a sua colecção, mais um dos muitos graffitis da Ponte Europa. Ao vê-lo, lembrei-me logo da menina...
Rui Pato"

27 abril 2010

«Pedofilia?! Ná. Adorei!» - por Elfo

"Todas as férias de Verão, a empregada dos meus avós dava-me banho à noite. Desde os meus 6 anos até aos meus 12 anos. Ela, desde os 16 até aos 22 anos. No chuveiro lavava-me e, quando chegava à zona da pilita, que já na altura era uma pilona, dava-me beijinhos, metia-a na boca dela e simulava que estava a brincar comigo. Eu adorava essa brincadeira e nunca achei uma situação abusiva. Ela chegava a ficar com a blusa molhada do chuveiro ao ponto de se notar os bicos das mamas volumosas espetados e colados ao tecido. Agora, com mais vinte e tal anos em cima, quem me dera que continuassem a fazerem-me o mesmo.
É assim que nasce um fétiche.
Pedofilia? Ná. Adorei.
Elfo"

Aniversário

Há uns tantos anos
este dia (embora fosse noite), foi especial
para algumas pessoas (queridas).

Quando me apercebi,
este é um dia (noite!) muito especial
(também) para mim;
e - felizmente - ainda,
para algumas pessoas (queridas).

O mistério de se nascer,
faz deste meu dia
o momento solene
de vos acompanhar:
uma taça de champanhe,
um brinde a todos os sonhos
que não pude - ainda - cumprir.

Parabéns, Menina (Eu)!

Foto e poesia de Paula Raposo

_____________________________
Nota da EdiSão - este intervalo no erotismo destina-se a felicitar a nossa Paulita, com esta música com que o blog do Katano parabeniza toda a malta (som ao máximo, pessoal):



Cruzados

Susteve-te na voz
e na palma da mão
uma última dança:
os pés sobre os pés nus.
Ah! Nós!
Cortámos do chão
os corpos numa trança
de nós na contraluz.
Ah! Escadas sós
de dedos descem-me o corrimão,
cruzam o corpo que se lança
no ventre alvo, nós em cruz.

Mudar de ideias...



O Certidóbito


1 página

oglaf.com

26 abril 2010

A prostituta azul (III)

A Lua estava deserta. Hesitou entre o elevador desengonçado e a enorme escadaria; o homem parecia demasiado grande e pesado para os dois. Não tinha medo dele porque observara a forma delicada como transportava um saquinho rosado de aspecto leve e suave a contrastar com uma "paquidermice" vermelhusca e ofegante no corpo suado... Rangeram até ao andar de cima. Prima, quero um quarto. Da garganta do imenso homem soltou-se novamente a voz fininha e melodiosa: "o maior que tiver, por favor". Entraram. "Espero que dances, espero que dances" - cantava ele enquanto a música tocava suave; o rádio saído do saquito em cima da cama, ao lado o maillot e as sapatilhas. "Vestes? Vestes? Espero que dances, espero que dances." Vestiu e dançou, delicada. O homem chorava: "não morreste, afinal nunca morreste". Agarrou-a; os pés descalços, grosseiros, debaixo dos dela, rodopiaram-nos - leves - pelo quarto. "É a última dança, é a última dança." Beijou-a; a dança estremecia nos soluços do homem-montanha. Baixou as calças e molhou as sapatilhas de bailarina. Deitou-a e despiu-a. Guardou tudo no saco e foi-se embora. Os papelinhos coloridos de feio ficaram deitados na cadeira, alheios ao cenário. Ainda o ouviu ranger as memórias na escadaria.

Finalmente tenho um na minha colecção!

A malta que já visita este blog desde o seu início (em 2003), decerto se recordará de um dos momentos altos que aqui tivemos, com a descoberta destes... objectos.
Lembram-se de como se chamam? E do nome com que os baptizámos?
Para a malta que não sabe o que é e para que serve, tentem adivinhar.
A partir de agora, tenho um enfiado... na minha colecção.

«Bloqueio para crianças» - publicidade da Beate Uhse




Publicidade genial roubada com luvas de pelica à Didas

Garotas que fazem tudo


Alexandre Affonso - nadaver.com

25 abril 2010

aqui é de Abril

Aqui nos fica Abril



aqui nos fica Abril
aqui se inquieta
aqui na margem sul
de outro viver
que é mais azul
diz um poeta
só por nos ser

nos ser
maior
fazer melhor e ter de ser
por ser do riso
e ser a meta
de outro viver

aqui
no singular plural
dos meus sentidos
que é mais Abril
por sermos nós
por nós
unidos


- poema e fotocomposição de Jorge Castro

_______________________________________________
E nos comentários houve mais quem odesse ao 25 de Abril:
"fica de Abril o sonho da mudança.
fica de Abril o ar de liberdade.
fica em Abril pedaços de vida... e acreditar ainda é possível!
um beijo meu
uminuto"

"Fiz de Abril a minha manta
Onde os corpos se libertaram
Em pinhais e matos de esperança
E manhãs verdes que se encarnaram.

Fiz do mundo a minha palma
e das palmas nos peitos; o mundo
Dos olhares, lábios de fome
saciados em corpos de lume.

Fiz do tempo o passar lento
Travo na boca a cada segundo.
Ser-se livre não é um momento
é ter asas sempre em tudo

E crescemos em ilusão
de era para sempre ser
sermos donos do nosso pão
e senhores do nosso querer

Ai e onde é que está o sol
que Abril a todos deu?
Agora onde ele seria maior
só o grande é que o pode ver.

Ah, mas cresce mais a vontade
de voar alto e quente sempre
Não deixemos a liberdade
Fugir de Abril pr'a um frio Dezembro
Charlie"

O Santoninho traz-nos Ary:
"***** R E G E N E R A Ç Ã O *****
Já não vagueia em mim a escuridão
E transformou-se a dúvida em certeza.
Bastou um gesto só de minha mão,
Para secar as fontes de tristeza.
No filtro redentor da oração,
Deixei ficar o manto da incerteza;
E agora, tendo a Deus no coração
Sou maior que a própria natureza.
Estrada de luz, sem guia nem farol,
Apenas o clarão do rubro Sol
E as minhas asas que ninguém mais vê.
E no esplendor da minha mocidade,
Eu vou além da própria eternidade,
Sem limite, sem espaço, sem porquê.

José Carlos Ary dos Santos, Obra Poética, Ed. Caminho"

Vem(e)vai

Sentada à beira mar
Com as pernas flectidas
Num gesto frequente,
Os cotovelos sobre os joelhos
E as mãos na cara.

Ela olha aquela imensidão
Sentindo nos pés
Uma frescura de mar
Que vem e vai suave,
Salpicando-a um pouco.

Exercício diário
Naquela praia
Olhando a imensidão
Não pensando em nada,
A boca salgada de plenitude
E as mãos plenas de sal,
Num vai e vem suave.

Foto e poesia de Paula Raposo

InVocações (V)

Acordei ontem quando já não era de manhã nos dias dos outros. Ao espelho tentei aumentar os olhos; os meus apareceram pequenos. A roupa está fria. Todos os dias cresce o corredor das horas penduradas na parede. Hoje falei com um homem nu. Acho que é um homem nu porque nasceu folha e cresceu árvore. Há poucos homens nus, muito poucos. Sentem mais o frio e sucumbem à tentação da roupa. Perdoa-me homem nu, eu disse tantas coisas e a verdade é que não sei nada. Mas sei que pode fazer muito frio, sei que o frio pode magoar e sei que as palavras mágicas são abrigos. As minhas ainda não são mágicas; ainda não chegam muito fundo no vosso corredor das horas penduradas na parede. E eu tenho muitos medos. Já te disse que tenho medo do escuro e dos barulhos estranhos? Já te disse que o mágico ainda não veio? Sabes, quando mudei de nome, estava sentada numa sala pequena, a luz era amarela e a janela estava fechada. À entrada tinha conhecido a recepcionista numa enorme secretária e esperei ver na saleta a cadeira de um dentista. Não! Um "almista". Extraía almas e inventava próteses. Vi mulheres que achei iguais a mim, surpreendentemente normais. Também entraram e saíram alguns homens; passaram por mim mas, estranhamente, não os vi, não tinham rosto nem corpo. Nessa noite, sentada no balcão de um café, olhei para muitos homens. Como seriam? Tentava percebê-los porque, doravante, todos me poderiam ter. Era melhor vê-los bem, antes. Era melhor ver um alguém do que um estranho a tocar-me. Era um mês, no máximo dois. Conseguiria se os visse bem. Consegui. Mas não consegui mais nada, ainda aqui estou. Nunca mais voltei ao teu mundo. Agora conheço três: o teu, o das casas de janelas fechadas que é a fronteira e o meu. O meu parece absurdo porque tem coelhos sem orelhas e jangadas que levam castelos na corrente; mas os outros também são tão mais estranhos - repara - andam sempre cheios de pressa mas, quando correm, raramente é para onde desejem ir. Entendes que acordem e se levantem ainda exaustos? Só falo disso, agora; mas há muito pouco que faça sentido; o absurdo do meu mundo faz todo o sentido: os coelhos tiram as orelhas porque o silêncio tem uma música única - as orelhas têm sempre vontade própria, ouvem o que querem, quando querem - e todos sabemos que os castelos, muitas vezes, têm que se soltar na corrente. Não tenho magia para te abrigar mas, se quiseres, mostro-te as minhas horas penduradas na parede. Pode ser que, um dia, entendas o outro sentido das coisas. Se vires o meu mágico, no teu mundo, dizes-lhe que não me ouve? Acho que ele pensa que ouve. Sabes, foi ele que fez as minhas palavras nascerem. Foi ele que as educou quando lhe caíram nas mãos que devolvia ao meu colo nu. Não, não era um toque, era um regresso. De vez em quando, perde-se mas, de vez em quando, sabe regressar.

«O Fauno e a Flora»

Já tenho vários desenhos originais do Laurent na minha colecção.
Este é mais um mimo:


«O Fauno e a Flora»
tinta da china sobre papel



Detalhe


E, por ser 25 de Abril, o OrCa dá-nos outro mimo:

"a Flora aflora o fulano
o Fauno desflora a Flora
e nesse vai-vem sem hora
cresce um Abril mais ufano"

Truque para não olhar para decotes


crica para visitares a página John & John de d!o

24 abril 2010

Se conseguires ver para lá da pornografia...

... há um mundo de design de interiores excelente para apreciarmos uma dada época.
É o que nos demonstra o d!o com uma página de 90 imagens retiradas de revistas porno dinamarquesas dos anos 70.
Aqui vos deixo alguns exemplos:



















Ema: conto de entender

Sim, amor. Eu entendo tudo, amor. Claro que entendo. O que eu não entendo, meu amor, é porque há sempre tanto para entender. As palavras a vaguear? Porque são vagas, essas tuas vagabundas que moram nas ruas de mulher em mulher. E tu moras nelas, nas tuas palavras. E as tuas palavras moram aqui. A pele de aluno só cresce quando reconhece o tecido secreto da palavra de um Mestre. A minha pele é um vestido tecido de tudo o que dizes. O vestido que teces em ruas de perder o tempo. Sim, amor. Eu entendo tudo, amor. Claro que entendo. O que eu não entendo, meu amor, é como é que julgas ter a armadura do tempo a prender-te as mãos e a soltar-te o corpo. Era uma pergunta? Era? Sim, amor.

Não tive coragem de cortar esta batata...

... vá-se lá saber porquê.
E vai para a minha colecção até ficar toda encarquilhada.

23 abril 2010

no dia mundial do livro...

de autor desconhecido, mas muito a propósito:

Tudo depende da posição...


Fazê-lo parado fortalece a coluna,
de barriga para baixo estimula a circulação do sangue,
de barriga para cima é mais agradável,
fazê-lo sozinho é enriquecedor, mas egoísta,
em grupo pode ser divertido,
no w.c. é muito digestivo,
no automóvel pode ser perigoso…

Fazê-lo com frequência desenvolve a imaginação,
a dois, enriquece o conhecimento,
de joelhos, torna-se doloroso…

Enfim, sobre a mesa ou sobre a secretária,
antes de comer ou à sobremesa,
sobre a cama ou numa rede,
despidos ou vestidos,
na relva ou sobre o tapete,
com música ou em silêncio,
entre lençóis ou no roupeiro:

Fazê-lo é sempre um acto de amor e de enriquecimento.

Não importa a idade, nem a raça, nem o credo, nem o sexo, nem a
posição económica... o que importa é que...
.
.
.
.
.
.
Ler é um prazer!

Quem me oferece...


... esta Nossa Senhora de Fátima em cristal, da Atlantis, para a minha colecção?
Obrigada, MN!

Sex Crime (1984)

O rapaz atirou-se para o chão logo da primeira vez que os nós de uns dedos se encontraram com a madeira da porta do quarto.
– Sim? – conseguiu a rapariga dizer, concentrando-se para que o som saísse.
O pai abriu a porta, viu a cama desmanchada como num cenário de filme e a filha pudicamente tapada com o lençol quase até ao pescoço, olhando-o desorbitada e afogueada mas com um livro na única mão visível.
– Ah… – O pai sonorizou assim a sua surpresa e embaraço e, sem largar a porta, nem entrar no quarto, comunicou em tom pastoso mas sem baixar as sobrancelhas que se colaram à franja: – É só para avisar que eu e a mãe vamos sair agora. Se precisares de alguma coisa, liga-nos, a mãe deixou o número ao pé do telefone.
– Está bem – respondeu a filha, tentando que se definisse um sorriso normal no seu rosto. – Se for preciso eu ligo – confirmou, no meio de esgares e caretas indefinidas.
– Não vais sair? – perguntou o pai, começando a fechar a porta do quarto.
– Não, hoje não – disse prontamente a filha, com ar angelical.
– Até amanhã, então – despediu-se o pai e fechou a porta.
O namorado ergueu a cabeça com lenta cautela e ela sorriu-lhe luminosamente:
– Eu bem te disse que devíamos ter esperado que eles saíssem.
– Achas que ele desconfiou? – perguntou o rapaz, num sussurro, ainda deitado ao lado da cama.
– Achas?! – respondeu ela, já segura de si e troçando do ar apavorado dele. – Achas que eles se iam assim embora se desconfiassem que estavas aqui?
Ele concordou com a cabeça mas não se mexeu. Viu-lhe o livro na mão e olhou para a porta fechada.
– Só saio daqui quando ouvir a porta e o portão da rua – declarou e, voltando a fixar o livro, perguntou: – Que livro é esse que estás a fingir que lês?
– 1984 de George Orwell – disse a rapariga, levantando o livro. – E não estou a fingir, estou mesmo a ler!
O rapaz abriu um sorriso em resposta ao tom sério e quase sentido da última frase e gracejou:
– Mas hoje não... – O rapaz calou-se ao ouvir a porta da rua bater.
Olharam-se e, entre sorrisos silenciosos, esperaram e ouviram o portão e o automóvel a arrancar.
– Não, esta noite não – concluiu ela, largando o livro. – Esta noite não é noite de leituras!

E este ditirambo?!

É grosso, longo e furado,
Pinga mas não se derrete,
Enxuto e duro se mette,
Tira-se molle e molhado;
É à cobra assimilhado,
Mas tem seu que com a espiga;
Penetra até à barriga,
Sacia a vontade à gente;
Porém, ser cousa indecente.
Não se creia nem se diga.

E não se creia, não, senhores.
Tudo isto quer dizer mui simplesmente
??????

Publicado originalmente por Belchior Manuel Curvo de Semedo em Composições Poéticas e citado por BARATA, António Francisco (1894) Viagem na minha livraria - Barcelos: Typ. Aurora do Cavado, pág. 40.

_______________________________
O Mano 69, depois de todos vermos só caralhos nisto, dizia "frio, frio....". Quando perguntei se era um caralho frio, esclareceu do que se trata:
"E não se creia, não, senhores.
Tudo isto quer dizer mui simplesmente macarrão!"

Banal


Banais silêncios
(se os silêncios são banais)
do outro lado do mar
trazidos pelas vagas
da tempestade
enquanto os meus braços
te envolvem
de ternura azul
(se a ternura é azul)
no cinzento mesclado
dos beijos
que não damos
(se cinzentos são os beijos não dados)
do outro lado do mar
as palavras banais
(se as palavras são banais)
agora é o tempo inacabado
do nosso amor
(se o amor acaba em tempo).

Foto e poesia de Paula Raposo

Cancela

A moldura da nossa janela
aperta os rins da noite;
de lençol vestiu-se uma estrela,
a estrela chamada Cadente.
Na dobra azul da saia dela
guarda gotas de um velho poente
espera-o, mais ninguém consente;
a dobra agora chama-se Cancela.

Na moldura da nossa janela
a chuva passa entre os teus espaços;
de gotas vestiu-se uma estrela
o seu nome reflecte os teus traços.
Nos botões azuis da blusa dela
guarda casas dos teus olhos,
na porta espera os teus passos;
ao azul, chamou Cancela.

22 abril 2010

beijo

vês?
chegámos de novo a Abril
e os teus olhos abrem-me sempre novas madrugadas
os teus seios de oferendas
mil ensejos
mil moradas

o teu ventre abre-se em flor
e o tempo cruzas
na promessa de um prazer que é quase dor
ou quase sede
de que abusas

e a tua pele quando me acolhe
de veludo a maciez
mas quase ardência
nessa urgência em que eu pare e p’ra ti olhe
e ao de leve pressentir
numa premência
de ti um fremir quase ventura
que estremece
porque tanto
tanto me apetece
dos teus lábios a suave comissura

a minha língua toca-a
e os teus lábios recebem-me
e desenham-se em sorriso
e afogam-me
e bebem-me
sem aviso

«Excesso de Intimidade» - Crónica da semana na Sábado

Sempre me preocupou o excesso de intimidade entre os casais...
Bem sei o quanto a intimidade é importante, pois sim, mas tudo o que é demais, é demasiado.
Acho que falta, a muitas pessoas, preservar determinadas coisas que só interessam a si.
Quando estamos no início dos relacionamentos existem coisas que não questionamos, porque estamos apaixonados e aquela pessoa parece sempre perfeita, sempre tão atraente e desejável.
Mas quando passamos a partilhar o mesmo espaço, a descobrir determinadas coisas, pode ser assustador e existem mesmo situações em que o excesso de intimidade pode ser um veneno para a nossa química relacional. Vejamos por exemplo, o uso e partilha da casa de banho: muitos casais, adoptam um à-vontade tal, que parece que voltámos àquele tempo em que, em crianças, tínhamos os nossos pais como espectadores das nossas poses no bacio.
Alguém me explica o sentido de estar sentado na retrete de revista na mão enquanto o(a) companheiro(a) faz a barba, ou toma duche?
Alguém pode achar atractivo que o(a) parceiro(a) saque à sua frente daqueles aparelhos que tiram os pêlos de todos os orifícios do corpo, pêlos que nós quase nem imaginávamos que existissem? Alguém poderá achar interessante ver a companheira com as pernas cheias de creme depilatório e rolos na cabeça?
Existem coisas que são do nosso espaço e que são nossas, que apenas deviam existir por detrás de uma porta fechada para não corrermos o risco da química se perder.
Claro que todos sabemos que existem pêlos em determinados sítios e que são retirados para não serem encontrados; todos sabemos que existem tampões, pensos higiénicos e necessidades fisiológicas... mas daí a vê-los, ouvi-los e cheirá-los vai uma grande distância...
Importam-se de oferecer as vossos amigos que vão viver juntos pela primeira vez, aquela coisa fantástica que se coloca na porta e avisa: «Não incomodar, se faz favor»? Garantidamente não imaginam o bem que lhes fará, porque eles até podiam viver sem ela, mas não era a mesma coisa....
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Nota da ediSão - recomendo a visita semanal às crónicas «Sexo Tabu» da Vânia Beliz na revista Sábado, às terças-feiras. Estão aqui.

Encaixe


Cândida: conto de papel

A casa no folheto, amor. Só olho. Só olho. Só olho. Mas faço os caminhos à volta em palavras soltas; peças do dominó que tirei do armário. A casa no folheto dói, amor, quando o amor não tem casa. Não espalhes o meu dominó. Não tropeces com tanta força nas minhas palavras. Eu assusto-me; vejo os meus caminhos lançados aos tropeções pelo ar e assusto-me. Não, as portas ainda não me endureceram. Sim, deviam ter endurecido. Sim, assusto-me. Não, amor, mais não. Até a casa do folheto me assusta. Porque tudo pode passar e a casa nunca sair do folheto. E se a casa existe - eu sei que existe - se calhar é a minha vida que é feita de papel. Papel humedecido em sonhos de dominó não endurece; palavras rasgadas aos tropeções.

O mistério do discóbolo sem disco

Mais uma peça de P. Leroux (ou melhor, neste caso é um par de peças), com 19 cm de altura e 1Kg, na minha colecção.
O que fará um discóbolo que, mesmo sem o disco, se mantém naquela posição?!
A resposta encontra-se quando se junta o discóbolo sem disco a um cavalinho... satisfeito:



21 abril 2010

Amor soprado

Naquele campo de trigo conseguia seguir o vento com o olhar, conseguia perceber-lhe o vaguear pelas espigas.
Ali acompanhava as danças sob a luz do sol que nasceu anunciado pelos sopros do céu numa esplendorosa alvorada, testemunha convocada pelo acaso para a plateia de um espectáculo privativo, para observar de tão perto a beleza de um dia no seu parto alaranjado, o escuro da noite rasgado pelos primeiros raios no horizonte para lá da barreira que as serras desenhavam para lhe esconder a magia.
Mas esta irrompia por detrás, com toda a força que o sol é capaz de exibir quando chega a hora de expulsar a madrugada para outro lado qualquer, longe daquele campo de trigo onde conseguia apreciar o vento a dançar sobre as espigas pintadas pelas cores emanadas a leste, de onde o dia se agitava numa brisa que se desenhava de forma suave no solo que nesse momento sentiu como fazendo parte de si. Ou o contrário, com os seus pés a criarem um contacto que julgava imaginário, raízes de energia, com a terra que o recebia como mais uma árvore para alimentar, e percebeu que a brisa começava a acariciar-lhe os cabelos que abanavam como pequenos galhos, como pétalas de flores, como se o vento tivesse amores para consumar enquanto decorria a celebração do calor que já se fazia sentir, com o sol a espreitar por cima dos picos mais altos que o faziam sorrir com a pose que não se coadunava com a pequenez relativa, uma pose altiva desmascarada pela grandeza do astro-rei.
E o vento passeava pelo jardim do palácio improvisado, o mundo inteiro concentrado naquele campo de trigo onde a testemunha involuntária o conseguia seguir, gravando na memória sensações inesquecíveis que acrescentaria com o amor que fazia agora no chão com a companheira de emoção naquele dia em que o vento, enciumado, tentou em vão destapar com o despeito soprado sobre o trigo que os escondeu, quem olhava para outro lado e nesse momento, nesse pedaço de tempo, já não o seguiu.

Não percebi bem. Como é mesmo, Figo?

Quanto ao duelo que está a marcar a actualidade, entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, Luís Figo admitiu que desfruta mais a ver o pequeno génio argentino. “São jogadores distintos, depende do estado de forma de cada um. Mas sem dúvida que para mim é um prazer ver Messi jogar, é como ter um orgasmo, é um prazer incrível”, disse Figo.
Figo, queres usar figuras de estilo, não é? Mas espera, olha lá bem para isto...





E agora centra a tua atenção nisto:



E pronto. Agora diz-me lá porque é que me parece que a figura de estilo não soa muito bem. Esta só pode ser uma das metáforas mais mal metidas de sempre. Há tantas maneiras de pegar nisto, que até fico cansado só de pensar. E, fundamentalmente, fico muito, muito longe desse tal prazer incrível quando vejo Messi. Mas isso sou eu, que sou esquisito.

(os mais curiosos, procurem no Google por imagens com o nome da Helen, que encontram coisas giras)

Vera: conto da "prostituta renitente"

Sorriu aos rios que subiam. Nada soube até então, como eles. Talvez ainda nada soubesse. Mas sabia que, se eles não sabiam sequer se desciam ou subiam, também poderia não o saber. Era pequena, infinitamente pequena e ignorante; era ainda mais pequena que o rio, talvez tão pequena como a folha embrulhada na corrente. Uma folha que pensava. Demasiado pequena e embrulhada na corrente do rio para ver o todo. Para ver o caminho. Para ver o mar. Para ver o mundo, as margens, a floresta. Ah! Mas podia imaginar. Mas podia virar-se. Mas podia deslizar mais rápido se mergulhasse mais na corrente ou deslizar mais devagar ao ficar mais à tona. Podia chegar-se mais à margem. Podia, afinal, tantas coisas e todas com alguma influência no percurso e no fim. Muita influência? Pouca? O que interessa? Bastava saber-se. E mergulhou mais no rio de perguntas para deslizar mais rápido na corrente.

Ricky Martin promove digressão e mostra mensagens como tatuagens

20 abril 2010

O melhor da minha colecção...

... é tudo aquilo que me faz recordar um bom momento, uma história curiosa e, como diz uma rapariga que eu conheço, "o bolo em cima da cereja" são os gestos de amizade.
A minha colecção tem um pouco/muito disto tudo.
E, a partir de agora, tem uma caixa feita pelo Raim com os seus desenhos originais (a lápis) para o «diciOrdinário ilusTarado» e outros "para encher a caixa", como me explicou o Raim quando ma ofereceu.


A Caixa.



O conteúdo.



Alguns dos muitos desenhos.



«Já deu o que tinha a dar»


E este, que divulgamos pela primeira vez, quando adivinhávamos que algo estava mal na editora do «diciOrdinário ilusTarado» (Via Occidentalis, que pouco tempo depois entraria em falência) quando o seu gerente, Júlio Sequeira, não respondia às nossas tentativas de contacto:


Encomendinha da funda São para a Via Occidentalis.