12 maio 2010

A hierarquia da relevância

Percorreu, ensonado, a longa distância que os separava, deliciado por antecipação com o que adivinhava seria a reacção dela à surpresa que lhe preparara ao longo de dias.
Cansado, chegou finalmente ao destino e tentou controlar a emoção que o desesperava por faltar ainda tanto tempo, minutos, eternidade, para poder abraçá-la outra vez.
Ansioso, fumou um cigarro e depois dirigiu-se para o ponto onde iria encontrá-la, preocupado por poder escapar-lhe algum pormenor que não poderia confirmar porque assim iria estragar a surpresa planeada com todo o carinho e atenção.
Esperou, sempre com a cabeça no ar para se certificar que não a perderia no meio da pequena multidão, saudades mal contidas, vontades reprimidas pela distância que os separara até esse dia que sentia especial.
A boca denunciou-lhe a alegria quando a viu, num sorriso que ela não devolveu, visivelmente aborrecida com algo mais importante do que o facto de ele estar presente e com isso nem contar.
Tentou perceber o que se passara, grave certamente, para justificar tão estranha reacção.
E foi quando recebeu a explicação que percebeu, na hierarquia da importância, a dimensão da sua irrelevância perante o desgosto que outro lhe dera e que se sobrepunha de forma conclusiva a qualquer emoção que a sua presença inesperada pudesse suscitar, e que concluiu, desencantado, que o amor já tinha acabado ou aquela pessoa não era quem julgara até então.

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