22 maio 2010

Prostituição: carta aberta - a realidade na sombra (Comentário "extraído" do facebook)

O texto que se segue é o comentário integral deixado no mural do meu facebook pelo José Daniel Nunes Dias:

"Posso ser polémico, mas possuo uma visão muito própria e que resumiria em poucas letras...

A relação sexual comercial habitual é uma relação rápida e, por norma, desprovida de afecto. Mas, às vezes, pode haver sentimentos e emoções passíveis de serem concretizados.
Muitas vezes, os clientes tornam-se habituais e começam a investir naquela relação, que passa a ser de amizade, de afecto e, caso a prostituta esteja disponível, pode até evoluir. Ou seja, apesar de, por regra, não haver afecto, é possível que ele exista. Tal como o prazer.

Antigamente, definia-se a prostituição como a ausência de escolha e de prazer; quanto à escolha, já vimos que existe; quanto ao prazer, embora não seja algo facilmente admitido pelas prostitutas, percebe-se que algumas acabam por tê-lo com os clientes. Ora, isto é polémico: dizer que a prostituta é activa, que escolhe, e, ainda por cima, que o faz porque pode ter prazer sexual, é mais um tabu para o que se julga ser o comportamento sexual adequado a uma mulher... É mais fácil vê-las como vítimas, e não como sexualmente activas, porque o comportamento esperado de uma mulher não é aquele – é o recato, a monogamia, a fidelidade, ideias que estas mulheres, de algum modo, vêem contrariar. Daí a sociedade não estar preparada e não aceitar muito bem esta profissão.

Assim, os clientes não são nenhuns pervertidos, são homens de todas as classes sociais, idades, estatuto civil e experiência de vida - os maridos, pais e irmãos de toda a gente. Os abolicionistas, que acham que a profissão é uma forma de violência sobre a mulher, chamam aos clientes “prostituidores”, porque, na sua óptica, a mulher é uma vítima passiva tanto do chulo como do cliente - a lógica é: se não houvesse clientes, não havia prostitutas. E fazem deles seres perversos. Não são.

Há que respeitar uns e outros e olhar para esta profissão como mais uma."



A minha resposta:


Bom comentário, muito bom mesmo. Eu apenas substituiria o "que o faz porque pode ter prazer sexual" por "quando o faz pode ter prazer sexual".

Não digo que não existam mulheres que se prostituem pelo gozo de se prostituírem mas não me refiro a elas quando escrevo. Não por criticar mas porque simplesmente não saberia o que dizer, não conheço nenhuma. Conheço algumas, num extremo, que decidiram prostituir-se por fome de comida e outras, noutro extremo, que decidiram por fome do último modelo da Nokia e todos os casos intermédios. Em todos, o ponto comum: motivação base - dinheiro; mesmo que depois 100 outros motivos se pudessem juntar a esse, o central - dinheiro.

Depois, se o prazer acontece? Claro que pode acontecer, afinal continuam a ser pessoas. Depende do homem, depende da mulher, depende do dia, da hora, do estado da lua; mas estas circunstâncias não fazem com que as pessoas deixem de ser seres humanos.

Se há aqui vítimas ou mulheres que não tiveram outra opção ou que outra opção seria insuficiente? Há... Mas também há quem esteja aqui porque escolheu estar. De qualquer forma falamos sempre, quando falamos em alternativas, de alternativas insuficientes. E sofremos todas o preconceito, as dificuldades de se ter uma vida dupla, a discriminação, o medo de sermos descobertas.. o dedo apontado.

Não, não é uma vida fácil, embora algumas possam achar mais fácil que outras, depende de cada uma a forma como se lida internamente com isto.

Infidelidade? A minha perspectiva romântica não me permite considerar infidelidade um encontro que não tem como motivação (da mulher) o desejo. Mas isto é teoria, na prática, o companheiro de uma prostituta tem dificuldades sérias para racionalizar a coisa dessa forma.


Não, os clientes não são nenhuns bichos papões e mauzões. :) Mas que os há, bichos papões e mauzões, há; mas isso não é porque são clientes, é porque há homens assim que por acaso são clientes.
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Agradeço ao José o comentário que "emprestou" aqui ao meu blogue. :) Obrigada! Quem quiser, pode "espreitar" o original aqui.

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