Agora que não te trais e que ninguém te trai, sabe que te trai a tua sombra: ela continua a colar-se à minha pele durante a noite, todas as noites. E depois trespassa-me. Uma e outra e outra vez. Mais tarde, enfraquecida pela aproximação da manhã que sabe sempre escura junto de ti, quer invadir a minha sombra e morar aqui. Mas eu não deixo; convido-a a sair pela janela e penduro-a no regaço da lua para que encontre o caminho de volta. Porque a minha sombra não me trai; porque eu vou com ela onde quero ir mesmo que a sombra do medo ou de qualquer outro sentimento escuro nos acompanhe; porque eu não quero ser uma sombra.
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Uma por dia tira a azia