05 novembro 2010

Carta ao Viajante (IV)

A verdade é que apenas pode encontrar a resposta quem pergunta; faltava querer mais do que a resposta, faltava querer perguntar; faltava, antes sequer disso, encontrar a pergunta. Andava irrequieta, andava por ruelas e vilas e aldeias e pessoas e povos e peitos e mundos e nadas. Andava, andava, constantemente nessa sofreguidão de movimento, nessa intranquilidade do todo que procura, que avança, que afiança que corre sem parar porque corre atrás da felicidade, de porto em porto, de cais em cais, de si em si, corre. Um dia, bem no meio de um salto mortal entre duas montanhas, enrolei-me na pergunta: corre assim, sem o poder evitar, quem corre atrás da felicidade ou quem foge à frente da tristeza? Uma única resposta genuína, verdadeira, real, acerca de mim, me traria (in)certa felicidade, é mais do que tanta gente tem. Nesse dia parei, incerta, e aqui estou, à espera do que me venha apanhar. É isso que eu faço, esperar a tristeza que ainda não chegou e, porque ainda não chegou, entretanto sou feliz. Também não procuro o amor, fico sentada na minha cama, - cais de embarque, dirias tu - pode ser que me apanhe. Por diversas vezes me apanhou; nessas alturas ofereço ao meu passageiro um bilhete e uma chave e espero para ver se entende; se entender, espero para ver o que faz, que escolha faz; quase posso jurar que nenhum sequer entendeu, embora tenham feito muitas coisas e muitas escolhas que inventaram. Se o amor é feito de entendimento, afinal quem me amou?

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Uma por dia tira a azia