Tu entras e sais de mim e eu entro e não saio de ti;
para entrar tiveste de sair, para voltar tens de ir
e eu fico aqui neste jogo convulsivo de ganhar-te
e perder-te.
Sobra-te roupa, pendura-se em ti como num cabide, parece-me,
deve ter ficado mais espessa entre nós,
de repente adensou e parece recortada de uma parede.
Não, não te afastes enquanto te debates contra as mangas,
eu esperneio contra o tempo,
esperneio contra as paredes de tecido até à nudez tua
e o tempo enrolado nelas;
acabas-me com o último instante,
o único, o mais efémero de todos; talvez seja o que traz à memória
dos constantemente incompletos um tempo embrionário
antes dos tempos,
um tempo em que não conheciam essa estranha falta de si,
talvez separação de si mesmos,
saudade e vazio de um braço, uma perna,
um qualquer órgão interno desconhecido.
Depois submergimos, cada um viaja na sua direcção,
fundo, cada vez mais fundo até que,
horas mais tarde, quando chega o momento do Sol,
encontramo-nos a meio caminho,
damos as mãos
e voltamos à tona juntos, acordamos juntos,
olhos nos olhos acabados de abrir.
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Uma por dia tira a azia