29 abril 2011

Perdidos e achados

Não estava a dormir quando acordei e dei por ti, dei connosco, no meio da cama de ninguém. O meu tempo estava triste e cansado por ter feito tão grande corrida, por eu nem o ter visto passar, como sempre, e, como sempre, estava na hora de fazer alguma coisa, esperavam-me com vontade grande da minha chegada. Mas o tempo, esse de quem tanto nos queixamos, também é sensato, ele viu tudo e todos e aprendeu todas as coisas de agora e as de ontem e as de amanhã, o tempo vestiu-se do teu olhar e sorriu-me no brilho macio dos teus lábios, soprou mais um bocadinho no nevoeiro e eu vi a pergunta despida: "não queres começar a viver?". Bastou! E fiquei. Mais tarde dei por ti no meio da minha cama e, agora, dou por ti no meio da nossa cama; são milhares de ponteiros, meninos perdidos, os fios do teu cabelos, perderam-se do tempo e riem-se muito quando encontram as minhas mãos; cheiro-as, cheiram ao tempo quando me ensinou a morar entre o Outono e a Primavera, quando me ensinou a esconder-me dele debaixo do teu corpo, se eu não o vir, ele não me vê, se eu não lhe falar, ele não me responde, o teu olhar é uma venda, a cova entre o teu ombro e o teu pescoço é uma mordaça, não digo nada, nunca mais digo nada, só o teu nome, e o único ritmo, o único tic-tac, é uma redoma, é o estremecer de tudo teu em tudo meu até ao estremecer da Luz.


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