22 fevereiro 2011

Equilibristas

Dei a mão ao Menino-Homem e avancei. Lisboa deve ser a cidade de todos os equilibristas, um pé aqui e um pé ali e vamos apenas avançando um pouco, sem tentar caminhar, sem conseguir dançar; ninguém aprendeu. Dizem que as calçadas são assim, as nossas, de pedras que lá caem embriagadas e já não existem bailarinas que nos ensinem a constante graça e beleza de andar em pontas, desafiando qualquer chão. Gosto de agarrar bem a mão, apertar o calor entre elas ou então agarrar um só dedo com força, fica escondido, inteiro, dentro da minha mão pequena, por vezes é preciso agarrar menos para conseguir agarrar mais. Dei a mão e a rua estava escura, os candeeiros tinham silêncio em vez de luz, o vento soprou-me a ausência do mundo e desenhava um desamparo assustador nas folhas das árvores que fazia cair, o vento tem dedos e puxa coisas, muitas coisas. Dei a mão ao Menino-Homem e avancei; pode-se oferecer a pele, um mapa e o caminho; secretamente chamei ali a minha solidão, é assim que se oferece o que só a ausência de tudo nos vê, só ela, verdadeiramente, nos conhece; ser apenas é ser só.

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