11 fevereiro 2011

Momento cultural patrocinado pelo Carlos Car(v)alho

ÁLIBIS

Um amigo meu que é tipógrafo, diz que leva sempre um exemplar do jornal onde trabalha «para mostrar em casa à mulher que esteve a trabalhar durante o dia».

Um pescador, que conheço, também costuma passar pelo mercado, não para se gabar das suas façanhas, mas para a mulher não desconfiar de que não foi à pesca.

Um calceteiro, com quem falei há tempos, confessou-me que leva diariamente uma dor de rins para casa a fim de a mulher lhe não fazer cenas de ciúmes.

Aquele provador de vinhos, que encontrei, explicou-me também que nunca lavava os dentes antes da mulher ter a certeza do volume do trabalho que diariamente o avassala.

Outro que tal, era aquele noticiarista que antes de ler as notícias ao microfone, dizia: «Olá, querida!».

Não há dúvida que há mulheres ciumentas e maridos que não querem problemas em casa. Penso, no entanto, que os homens abusam.
Os casos que citei são bons exemplos de homens felizes. O seu trabalho faculta-lhes o álibi que as respectivas mulheres exigem.

Agora, se vocês são meus amigos, digam-me: acham francamente, que a minha mulher vai acreditar que levei todo o dia para escrever isto?

(Joaquim Letria, in “Histórias para ler e deitar fora”)

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