Poema de Maria do Rosário Pedreira publicado como inédito no Jornal de Letras e Artes» nº 1110, de 17 de Abril de 2013.
Obrigada pela prendinha, Dr. Diogo!
Já se esquecera a que sabia o sémen
de um estranho. E agora que voltava
sem querer às ruas vermelhas, quase se
arrependia de ter apagado tão depressa
o nojo e a indecência nos caracóis de
um menino que haveria de ser sempre
só dela. E como lhe parecia igualmente
viscoso e escorregadio o dinheiro que no
fim lhe entregavam dobrado e à pressa –
tão diferente do cartão limpinho com que
as senhoras lhe tinham pago vestidos ao
balcão, na loja que agora dava pena, assim
entaipada. Ai, se o menino soubesse que
era ainda nele e nas suas brincadeiras que
pensava quando agachada ali, durante de um
estranho, abria a boca e fechava os olhos.
Maria do Rosário Pedreira