18 maio 2005

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E ela disse-me: "Que hei-de eu fazer? Tenho esta sina, esta sorte, este fado com bombeiros. E nem sequer é ou alguma vez foi fetiche ou qualquer outro tipo de fantasia que meta fardas ou homens em grupo. Aconteceu, apenas. Entraram na minha vida, mangueira em riste, calças apertadas no rabo musculado, pernas suadas quando fazem a corrida matinal.
É mais forte do que eu. Tenho de entrar todos os dias neste quartel, passar por entre as fileiras que se (me) apertam e por onde passo de andar firme e olhar fixo num ponto indefinido. Mas vejo-os. A todos. Um a um. Reconheço nuns o olhar atrevido, noutros a pose que se destaca, noutros a voz que lança o piropo mal estudado, noutros ainda a aproximação inteligente. Apetecem-me. Apeteço-lhes.
Há dias um deles convidou-me para sair. Eu recusei. Não porque ele não fosse dos mais apetecíveis ou porque não o olhasse pela janela quando corre em calções e tronco nu, corpo negro, suado, enormíssimo. Apenas porque o encanto se quebraria
."
E eu não lhe disse nada. Não lhe disse que mais do que encanto poderia ter prazer, o prazer de ser desejada, de entregar o seu desejo, de conhecer o cheiro e o sabor daquele suor, daquela saliva densa, sentir a textura daqueles dentes brancos, a força das mãos enormes, a dureza das coxas a apertarem-lhe a fronte. Não lhe disse nada. Ela que o descubra. Sozinha.

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