20 maio 2005

Oh, São, devias ter ouvido o gajo. Eu, claro, lamentei estar acompanhada quando ele me ligou, bem gostava de ter ouvido mais que o ego não se queixa de massagens a mais. Que todos os dias espera pela minha hora de almoço a ver se me vê passar. Que anéis houve que o deixaram na dúvida, mas que já confirmou que não uso aliança. Que a forma do meu rabo o fez pensar que talvez eu, à sua semelhança, tenha sangue negro. Que o meu riso enche a sala de refeições. Que podíamos sair, que ele até tem carro e tudo, que faz segurança numa disco de música africana e que gostava de me ver dançar. E eu sem saber quem era o gajo que assim me sussurava pelo auscultador. Como os argumentos não me convenceram, despachei-o, sem contentor nem nada.
No dia seguinte, hora de almoço, casa cheia, dirige-se a mim o mais apetitoso dos homens que ali já vi. O mesmo que costumava ver de manhã, a fazer a sua corrida matinal, calções, pernas suadas, músculos vibrantes, pele negra e luzidia, dentes brancos, todo ele enoooooorme. Baixa-se e murmura para dentro dos meus ouvidos: "Não me leve a mal o atrevimento do telefonema. Fica tudo como dantes."
Adeus fome, adeus alegria de viver. O fulano que eu mais galava nestas paragens recebeu de mim uma tampa quando o que eu queria era que de mim tomasse tudo o resto. Puta de sorte a minha. Engasguei-me com a salada e com as palavras e, São, esta Rosa ficou púrpura de rosto. Deixei o gajo afastar-se, as minhas pernas sem forças, os meus braços parados, a minha voz nem te digo onde se enfiou. O resultado foi esta catástrofe: Rosa murcha e o "negão" a lançar o viço noutra flor qualquer.
Ele há gajas que só à porrada.

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